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terça-feira, 26 de junho de 2012

O WikiLeaks, o Paraguai e a boçalidade conspiratória estimulada por um delinquente chamado Julian Assange, o homem que quer curtir a liberdade imprensa do… Equador!!!




Julian Assange, que é um delinquente, não poderia fazer outra coisa que não incentivar a cultura da delinquência, inclusive a intelectual


Já escrevi o que penso sobre os métodos do WikiLeaks, que seriam condenáveis ainda que fosse verdade o que o site diz de si mesmo: publica tudo o que sabe.

Mas isso é falso como o amor de Assange pela verdade.

Além de dar curso a informações colhidas de forma criminosa, existe uma seleção do que “interessa” e do que não interessa divulgar.

Não por acaso, quem costuma se dar mal nas mãos de Assange e seus esbirros são as democracias.

Hoje ele está refugiado na embaixada do Equador em Londres.

Como se sabe, Rafael Correa é um notório apreciador da imprensa livre, não é mesmo?

A independência em seu governo costuma ser recompensada com prisão, multa e exílio…

Adiante.

Não são apenas os métodos criminosos que Assange estimula ou de que é beneficiário que me incomodam, não!

Também a mentalidade que ele estimula, especialmente em jovens jornalistas, é uma das coisas mais perniciosas da imprensa moderna. A apuração rigorosa dos fatos, o pensamento, a análise, a reflexão, tudo isso é substituído por teorias conspiratórias as mais tresloucadas e exóticas. É a morte da inteligência!

Não só isso: também o pensamento lógico vai para o brejo. Porque um “Fato B” se deu depois de um “Fato A”, então B passa a ser, necessariamente, consequência de A. Trata-se de um erro lógico de que já tratei aqui algumas vezes, que tem uma expressão latina que o define: “Post hoc, ergo propter hoc“: ou “Depois disso, logo, por causa disso”.

O latinório se deve ao fato de que essa era uma das falácias (pesquise sobre o termo quando houver tempo) estudadas pela escolástica (idem).

A caricatura, já brinquei aqui, de tal raciocínio é esta: o dia amanhece sempre depois que o galo canta. Há correlação entre esses dois eventos? É evidente. Os galos cantam ali pelo fim da madrugada (alguns tontos, geralmente os mais roucos, começam um pouco antes, como sabe quem é do mato, como eu), e isso quer dizer que não demora para o dia nascer. Mas não há, por óbvio, relação de causa e efeito entre os fatos. Se matarmos todos os galos do mundo (como já ambicionei…), o dia continuará a nascer mesmo sem o canto anunciador. Menino meio insone de sítio, míope, lutando com a luz da lamparina para entender as letrinhas impressas, os galos “tecendo a manhã” (a imagem é de João Cabral de Melo Neto) me punham irritado porque lembravam a chegada do dia e seus ofícios, tirando-me do alheamento. A queima do combustível deixava na pele do rosto uma oleosidade escura, de cheiro meio inebriante. Talvez colaborasse para o entorpecimento da razão a que se chama sono, sei lá. Foi tudo embora, consumiu-se como o querosene.

Mas volto a Assange, WikiLeaks e as tolices conspiratórias.

A imprensa de vários países, a nossa também, traz hoje a informação de que telegramas vazados pelo site dão conta de que os EUA trabalhavam com a hipótese de um “golpe” contra Fernando Lugo desde 2009.

Mensagens enviadas pela embaixada americana em Assunção ao Departamento de Estado alertam que os adversários de Fernando Lugo, ATENÇÃO PARA ISTO!!!, só contavam com um “erro” dele para tentar depô-lo.

É mesmo, é?

Assim, como veio o impeachment, então tudo se encaixa na cabeça dos cretinos ou dos inocentes: se o impeachment chegou depois daqueles telegramas, então eles eram o anúncio e a evidência de uma tramoia.


Vamos ver.

Que houvesse no Paraguai forças políticas interessadas na queda de Lugo, disso estou certo como dois e dois são quatro.

Aliás, leitor amigo, se você ocupa um cargo de prestígio na sua empresa ou se, empresário, é líder no seu setor ou conseguiu um contrato apreciável, fique certo: há gente de olho no seu cargo ou concorrente tentando tomar o seu lugar.

Sabem como é o ser humano, né?

Ainda bem!

Ou a vida seria um imenso cartório sem segredos.

Haver quem estivesse interessado na queda de “Follando Lugo” (como muitos paraguaios chamam o bispo pegador; não traduzo porque é de baixo calão…) não implica que essa queda tenha sido tramada, compreendem?

Como consta lá dos telegramas, seus adversários apostam que um “erro” poderia derrubá-lo. É o que os adversários costumam fazer.

E “Follando Lugo” não cometeu um, mas uma penca deles.

O confronto entre supostos sem-terra que aderiram a táticas terroristas e policiais foi manifestação concreta do erro principal: manter relações especiais com um bando de lunáticos que, sob o pretexto de exigir e praticar justiça social com as próprias mãos, transformou o setor rural paraguaio num campo de guerra — e os brasileiros, diga-se, estão entre as vítimas principais.

“Ah, o general Lino Oviedo queria o impeachment…”

É?

Foi o general que matou seis policiais desarmados que cumpriam uma ordem da Justiça de reintegração de posse?

Foi o general a manter relações especiais com um grupo de celerados, que jamais distinguiu propriedade regular e produtiva de terras griladas, mantendo, mesmo assim, interlocução privilegiada no governo?

Foi o general que passou a mensagem de que um título de propriedade rural no Paraguai passou a valer menos do que uma bala?

“Ah, mas eu li que a concentração de terras no país é terrível!”

E daí?

Vai se resolver com política ou com pistolagem?

A esta altura, deve haver mensagens de diplomatas americanos e europeus, enviadas a seus países de origem, dando conta de que Cristina Kirchner, a “Loca de Buenos Aires”, está num processo de contínuo desgaste, adotando medidas que deixam, no limite, sem saída a economia argentina e que isso pode levar o país, cedo ou tarde, para uma convulsão social.

Um dos papéis da diplomacia é este mesmo: desenhar cenários possíveis — aliás, no Paraguai, tudo indica, os americanos estavam mais bem informados do que os brasileiros, que foram pegos com as calças na mão…

Muito bem!

Se e quando “La Loca” vier a enfrentar uma crise séria (e isso vai acontecer), as eventuais mensagens poderão ser evocadas como prenúncio ou evidência de uma tramoia?

O que o “WikiLeakismo” faz de mais perverso à inteligência e ao jornalismo é transformar uma mera correlação em causa e conferir ao óbvio ares de conspiração.

Afirmar que um grupo tentará se aproveitar dos erros do adversário, como se houvesse nisso algo de especioso, é uma boçalidade.

É o que se faz até em jogo de botão.


26/06/2012

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