O Estado de S. Paulo
Há duas grandes novidades no plano de negócios anunciado pela presidente da Petrobrás, Graça Foster, para o período de 2012 a 2016.
Em primeiro lugar, as novas metas e os cronogramas são mais realistas que os apresentados nos planos anteriores.
A produção nacional de petróleo, por exemplo, deverá chegar a 2,5 milhões de barris diários em 2015, meio milhão abaixo da previsão adotada até o ano passado.
Em segundo lugar, o novo planejamento consagra uma visão crítica dos padrões da administração passada e implantados no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Desde o início da gestão petista, como indicou a presidente da empresa, a Petrobrás jamais conseguiu alcançar as metas fixadas.
Mais de uma vez, durante sua exposição, ela mencionou o apoio do "controlador" - isto é, do governo Dilma Rousseff - aos novos critérios.
Uma das condições agora levadas em conta é a convergência dos preços cobrados internamente com os preços internacionais dos combustíveis.
Esse ponto foi ressaltado tanto pelo diretor financeiro, Almir Barbassa, quanto pela presidente da estatal.
O recém-anunciado aumento dos preços da gasolina (7,8%) e do óleo diesel (3,9%) ficou abaixo do considerado necessário por muitos analistas.
A diferença foi mal recebida no mercado de capitais e segunda-feira as ações da empresa caíram mais de 8% na bolsa, queda maior que a de novembro de 2008, no pior momento da crise financeira.
Prevaleceu entre os investidores, mais uma vez, a visão de curtíssimo prazo. Se a nova administração agir de acordo com os critérios indicados na apresentação do plano, o crescimento da Petrobrás será mais seguro do que seria com os padrões dos últimos nove anos.
Para realizar os investimentos de US$ 236,5 bilhões previstos no plano de negócios a empresa precisará de preços mais realistas e, portanto, novos aumentos serão necessários, como deixaram claro os diretores da estatal.
O compromisso com resultados também foi reforçado. Isso explica a revisão de cronogramas, como o do complexo petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e de outras refinarias.
Pela nova previsão, a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, só começará a funcionar em 2014, com atraso de um ano am relação à data prevista no último planejamento.
O custo passará de US$ 13,4 bilhões para US$ 17 bilhões.
A associação negociada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o colega venezuelano, Hugo Chávez, até agora deu em nada. Nenhum centavo foi pingado pela PDVSA.
A presidente Graça Foster mantém, segundo afirmou, a esperança de ver concretizada a participação venezuelana.
No entanto, ela mesma descreveu esse projeto como um exemplo a ser analisado para nunca se repetir.
Erros desse tipo só serão evitados, no entanto, se o governo brasileiro abandonar os padrões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele usou a Petrobrás para seus objetivos políticos no Brasil e no exterior.
A aliança com o presidente Chávez é parte dessa história, assim como sua reação mansa e cordata quando instalações da empresa foram ocupadas militarmente na Bolívia.
Curiosamente, a nova presidente da Petrobrás defende a política de conteúdo nacional para os equipamentos comprados pela empresa. Essa política, segundo ela, atende às necessidades da empresa. Os riscos, no entanto, são tão evidentes quanto o erro de fazer da Petrobrás, uma das maiores petroleiras do mundo, um instrumento de política industrial.
Em março, a presidente Graça Foster declarou-se preocupada com os atrasos na entrega de navios encomendados ao Estaleiro Atlântico Sul e com problemas tecnológicos.
O primeiro navio encomendado a esse estaleiro, o petroleiro João Cândido, foi lançado pelo presidente Lula em maio de 2010.
Quase afundou, passou por reformas e só foi entregue dois anos mais tarde. Política industrial baseada em favorecimento e voluntarismo dá nisso.
Se reconhecerem esse fato, a presidente Dilma Rousseff e sua amiga Graça Foster talvez consigam se livrar - e livrar o País - de alguns dos piores costumes consagrados no governo anterior, como o aparelhamento da administração, o voluntarismo, o favorecimento a grupos econômicos e a mistificação populista.
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