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segunda-feira, 25 de junho de 2012

Maluf venceu!, por Ricardo Noblat


Que baita hipocrisia, essa, de criticar Lula só por ele ter selado com um aperto de mão o apoio do deputado Paulo Maluf (PP) a Fernando Haddad, o candidato do PT a prefeito de São Paulo

O que Lula fez de original?

Como Maluf sobreviveria tanto tempo na política se não tivesse quem lhe estendesse a mão oferecendo ajuda ou pedindo socorro?

O senador Alfredo Nascimento (PR-AM) acabou “faxinado” por Dilma do Ministério dos Transportes sob a acusação de ter fechado os olhos a malfeitos. José Serra apertou a mão dele outro dia para celebrar a adesão do PR à sua candidatura a prefeito de São Paulo.

Nascimento será muito diferente de Maluf? E o PR dele do PP de Maluf?

Pontifica na Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de São Paulo um afilhado político de Maluf. O cargo foi dado ao PP para recompensar seu apoio ao governo de Geraldo Alckmin.

Por antecipação, Dilma cedeu a Maluf uma secretaria do Ministério de Cidades pelo serviço que ele prestará à candidatura Haddad.

Nas últimas décadas, Maluf foi tratado como a Geni da música de Chico Buarque de Holanda: “Joga pedra na Geni! Joga pedra na Geni! Ela é feita pra apanhar! Ela é boa de cuspir! Ela dá pra qualquer um! Maldita Geni!”.

O tratamento só mudava às vésperas de eleições: “Vai com ele, vai Geni! (...) Você pode nos salvar! Bendita Geni!”.

Maluf venceu.



Talvez tenha faltado a Lula a exata dimensão do seu gesto de, contrariando ordens médicas para que permanecesse em casa, ir ao encontro de Maluf e trocar afagos com ele diante de fotógrafos.

Para Maluf, que o exigiu, o gesto foi uma espécie de “mea culpa” dos políticos que sempre fingiram abominá-lo.

Em 1985, nos estertores da ditadura militar, Maluf encarnou o mal a ser esmagado.

De um lado havia Tancredo Neves pelo PMDB, ex-governador de Minas Gerais, o candidato a presidente da República de todas as forças que se opunham ao regime. Do outro, Maluf, o candidato do regime que imaginava ganhar uma sobrevida.

Os dois candidatos travaram a peleja do bem contra o mal usando as mesmas afiadas armas. A mais eficiente: dinheiro para a compra de votos de deputados e senadores que formariam o Colégio Eleitoral destinado a escolher o sucessor do general-presidente João Figueiredo. A segunda mais eficiente: cargos para saciar o apetite dos eleitores.

Ficou registro do jogo pesado protagonizado por Tancredo e Maluf? Em termos.

Quer dizer: ficou registro dos instrumentos de corrupção utilizados por Maluf para tentar se eleger.

O processo de santificação de Tancredo quase se completou com a sua morte sem ter tomado posse do cargo de presidente. O cargo sobrou para o vice, José Sarney.

Aconteceu o quê desde então? Quem mudou? Maluf?

Dele se poderá dizer com excesso de boa vontade que supostamente mudou um tiquinho para melhor - à parte a roubalheira, é claro. Poucos políticos concorreram a tantas eleições como ele. Ganhou muitas, perdeu muitas. Ajustou-se à nossa democracia de fachada.

Quem mudou de verdade?

Os políticos. Esses malufaram em grande estilo.

Maluf segue na dele. Está onde sempre esteve. Pensa como pensava. Vale-se das mesmas práticas que lhe asseguraram mandatos.

Em resumo: venceu o padrão de política que ninguém melhor do que ele representou tão bem nos anos 80.

O PT expulsou deputados que em 1985 votaram em Tancredo para presidente. De tão puro, o partido se recusara a participar da eleição indireta.

O PT expulsou Erundina em 1992 porque ela aceitou ser ministra do governo de união nacional do presidente Itamar Franco, o sucessor do deposto Fernando Collor.

O encontro carinhoso de Lula com Maluf começou a ser desenhado quando Lula bebeu Romanée-Conti na companhia do marqueteiro Duda Mendonça e depois justificou o mensalão como algo que todo partido faz.

Nunca se ouviu Maluf dizer que seus companheiros de ofício seriam obrigados a engoli-lo um dia. Pois assim aconteceu.

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