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domingo, 29 de agosto de 2010

TEMPO DE NULIDADES


TEMPO DE NULIDADES


Maria Lucia Victor Barbosa

Em que pese o grande progresso material atingido pela humanidade no que tange aos avanços da ciência, da tecnologia e dos meios de comunicação, vivemos grandes paradoxos.

Entre os absurdos da atualidade se pode observar que, apesar do acesso ao conhecimento e à informação, algo nunca antes existido para as grandes massas populacionais em todo planeta, o ser humano permanece ignorante e desinformado.

Por conta disso, aumenta a manipulação dos poderes político e econômico e se vive um tempo de nulidades que são aceitas e projetadas com êxito na literatura, na música, no teatro, nas artes plásticas, no esporte, na economia na política, enfim, em todas as atividades que se tornam vulgares, artificiais, aviltadas.


No que diz respeito à política não é difícil constatar que o Brasil se tornou o reino das nulidades, algo que se vem acontecendo de forma acentuada há quase oito anos.

Como conseqüência, o eleitor sofreu um retrocesso voltando aos tempos que lembram a obra de Victor Nunes Leal, “Coronelismo, Enxada e Voto”.

Em novos tempos, novos votos de cabresto, novos currais eleitorais.


As causas que contribuíram para a queda de nossa já pouca consciência cívica foram:

a propaganda governamental intensiva,

a distribuição de caridade oficial para os pobres e de favores espetaculares para os ricos,

a perda de valores que faz prevalecer a indiferença da sociedade perante a corrupção dos poderes mais altos,

a falta total de oposição ao governo do PT durante seus quase oito anos de poder.

Portanto, foram “encabrestadas” todas as instituições sociais e não houve nenhum partido que fizesse frente aos desmandos, erros ou atitudes inconvenientes do presidente da República.

Este, blindado por partidos e grupos de interesse importantes, se fortaleceu no escandaloso culto à sua personalidade, ao ponto de se dar ao luxo de criar uma personagem para sucedê-lo, a qual parece ter como única finalidade esquentar o lugar para que ele volte em 2014, conforme o plano de permanência no poder do PT.

Já não se pode, pois, falar apenas nos grotões das regiões mais pobres do Brasil que, por suas carências são ainda manipuladas pelos chamados “coronéis”.


Além das instituições sociais transformadas em “currais” que votam no “coronel” Lula, porque isso lhes é conveniente, senão para o Brasil, mas conforme seus interesses particulares que pensam manterão, em 2014, com o apêndice presidencial; dos partidos de cabresto sequiosos por uma beirada no próximo governo, surgem novas formas de “currais, frutos da incompetência estatal diante da crescente violência advinda do tráfico de drogas.

Sobre isso afirmou nas páginas amarelas da Veja de 21/07/2010, com autoridade e conhecimento de causa, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, desembargador Nametala Machado Jorge:

“As áreas mais pobres e violentas do Rio de Janeiro estão tomadas de currais eleitorais sob o domínio de criminosos.

As pessoas ali votam à base da coerção e medo.

Só os candidatos do tráfico têm vez nas favelas”.


Medo, esperança, ilusão, desinformação são as características do eleitorado nesses tempos em que nulidades ascendem e comandam o espetáculo da política.

E esse espetáculo é feito pela TV, o grande palanque eletrônico de onde se manipulam as emoções da massa.

Quanto à campanha do PSDB, cujo candidato começou nas alturas da preferência popular e veio caindo, muitos analistas já repisaram os erros havidos.

Foram tantos que os tucanos pareciam amadores políticos e não ex-detentores de dois mandados presidenciais e muitos outros estaduais e municipais.

Não vale a pena ficar repetindo o que outros já disseram sobre as estratégias erráticas do PSDB.

Mas, dá para comentar algo: quando num dos programas eleitorais gratuitos, Serra apareceu ao lado de Lula da Silva, sua sorte foi selada e um dos erros mais crassos dos tucanos apareceu.

Quem é colocada como continuadora de Lula, anunciada há dois anos por ele com tal, é Dilma Rousseff.

Serra teria que ter coragem de aparecer como continuador de FHC, o presidente que o PT acusou hipocritamente durante quase oito anos de ser o responsável por uma herança maldita, a qual copiou e sem a qual o PT teria fracassado.

Mas os tucanos nunca ousaram isso nem antes nem agora e parecem ter um encantamento impressionante pelo PT.

Enquanto nos aproximamos das eleições alguns sinais inquietantes já estão claros na economia e na política.

As violações de dados sigilosos de tucanos, feitos pela Receita Federal, atraíram críticas duras do ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, que afirmou: “quebra de sigilo é fruto de banditismo político e revela “paradigmas selvagens da política sindical”.

E a mídia que se cuide, porque as ameaças de censura são claras.

De modo que, ou o PSDB se assume como tal ou se tornará com o DEM um partido nanico enquanto o PT e o PMDB, repartindo o pão, imporão sua ditadura disfarçada sob a batuta de Dilma Rousseff.


O povo?

Ora, o povo quer saber de futebol e cerveja.

Pensar, inclusive, sobre política, é algo penoso demais.


Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga

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