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domingo, 29 de agosto de 2010

A reciprocidade nos relacionamentos - João Bosco Leal

A reciprocidade nos relacionamentos


Tenho procurado entender os motivos que levam o ser humano a não demonstrar e, principalmente, não declarar seus sentimentos.

Ainda quando crianças, o primeiro amiguinho, amiguinha ou até namoradinho certamente nos deixarão lembranças que carregaremos pelo resto de nossos dias. Lembraremo-nos sempre de nossa companhia na dança de quadrilha da festa junina e muitas outras coisas.

Entretanto, não nos lembraremos de declarações que tenhamos feito a respeito de qualquer sentimento que tenhamos tido, seja de amizade, de carinho ou de "amor" pela namoradinha da época. Principalmente porque essas declarações provavelmente nunca ocorreram.

Não tínhamos "coragem" de declarar a um amigo que gostávamos de fulana ou sicrana. E o risco desse amigo sair contando na escola e isso virar uma gozação geral?
Como dizer a um amigo que gostamos dele sem correr o risco de notar que nossa amizade não é correspondida da mesma forma ou intensidade?

Esse tipo de comportamento é comum em todo tipo de sociedade, de qualquer credo ou religião, ocidental ou oriental, entre seus membros mais ou menos cultos, mais ou menos ricos. O ser humano é egoísta por natureza e nem sempre admite ver um sentimento seu não ser correspondido ou que seja receber o mesmo sentimento, mas em menor intensidade que o seu.

Quando jovens, nos namoricos, queremos sempre ser admirados, desejados, mas muito raramente estamos dispostos a dar essa admiração, desejar, gostar e até amar uma pessoa que não nos retribui. Esse comportamento nos leva a relacionamentos adultos conturbados, cheios de cobranças e com raras doações. Penso ser esse o motivo das maiores dificuldades nos relacionamentos mais duradouros.

A falta da retribuição, que muitas vezes pode até ocorre em gestos e atitudes, mas não é declarada, dita abertamente, pode provocar insegurança no outro. O parceiro vai se cansando de dar e nada ou pouco receber, começando então a se sentir inseguro, com dúvidas sobre o sentimento do outro, e a cobrar atitudes e ações que provavelmente o companheiro ou companheira ainda não esteja preparado para dar.

Quando damos carinho ou fazemos um simples elogio, a pessoa se sente bem, querida, amada, o que a torna um ser humano melhor, mais disposta a novas atitudes e ações até então desconhecidas por ela mesma, talvez acostumada a receber mais do que dar, ou a só receber, como as que foram superprotegidas na infância e juventude.

Com a maturidade, já sem nos importarmos com o que pensam ou falam os outros e, por isso mesmo, muito mais desinibidos, por conta da autoconfiança adquirida, percebemos que, ao dar, o recebimento é uma consequência, e que quanto mais damos, mais recebemos. Ao elogiar uma pessoa, promovemos sua autoestima, o que a deixará mais feliz, mais sorridente e, com isso, nos proporcionará no mínimo um ambiente mais agradável, seja em casa ou no trabalho.

Dando e declarando ao próximo seu sentimento, juntamente com a liberdade dele voar, viajar, mesmo que em seu imaginário, ele volta sempre, para se alimentar de carinho, companheirismo, amizade e amor.

E, quando essa busca ocorrer, precisamos, então, aguardar o amadurecimento de nosso parceiro, para que o mesmo também perceba a importância da reciprocidade, mesmo para os que não a cobram.

João Bosco Leal
29 de agosto de 2010

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