Assassinato de agente federal, morte de escrivão e desaparecimento de delegado lançam mais controvérsias ao caso do bicheiro
Izabelle Torres e Claudio Dantas Sequeira
O caso do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, aos poucos vem ganhando os contornos de uma trama policial complexa e com vítimas reais. Desde que foi deflagrada no final de fevereiro, a Operação Monte Carlo é cercada de sinais que podem indicar uma violenta reação. Há registros de ameaças a juízes e procuradores, desaparecimento de integrantes do esquema e até mortes de policiais. O enredo atingiu seu ápice na terça-feira 17, com o assassinato do agente da Polícia Federal Wilton Tapajós. Ele foi executado com dois tiros na nuca quando visitava o túmulo dos pais num cemitério em Brasília, a menos de dois quilômetros da Superintendência da PF, onde estava lotado. O último grande trabalho de Tapajós tinha sido justamente o monitoramento da quadrilha de Cachoeira. Alguns dos relatórios produzidos pelo agente foram fundamentais para flagrar as negociações entre Lenine Araújo e Valmir José da Rocha, operadores do esquema, com policiais de Goiás. Os dois suspeitos, Araújo e Rocha, estão soltos.
ASSASSINADO
O agente da PF Wilton Tapajós foi morto na terça-feira 17. Ele monitorava a quadrilha de Cachoeira
Fontes da Polícia Civil confirmaram à ISTOÉ que uma das linhas de investigação do assassinato apura a relação de Tapajós com Idalberto Matias, o Dadá, araponga que era o principal operador de Cachoeira para ações de espionagem. Dadá ficou preso por três meses e ganhou a liberdade em junho. No início das investigações da Monte Carlo, conforme apurou ISTOÉ, Tapajós morou durante algumas semanas no condomínio Santos Dumont, da Aeronáutica, localizado próximo à cidade-satélite de Santa Maria, no entorno de Brasília. Dadá, que voltou a operar desde que foi solto, mantinha em Santa Maria parte de sua base de operações.
A associação da morte de Tapajós com o caso Cachoeira preocupa o governo. Na quinta-feira 19, em reunião com a cúpula da Polícia Civil do DF, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pediu “cautela” para evitar especulações antes que a investigação seja concluída. Seguindo essa orientação, a superintendente da PF em Brasília, Silvana Borges, alegou que ainda é cedo para classificar o crime como queima de arquivo. “Só as investigações vão mostrar quem são os responsáveis e se a morte de Tapajós tem relação com a Monte Carlo”, disse. Os acontecimentos, porém, não colaboram com a prudência policial. No mesmo dia em que amigos e policiais enterravam Tapajós, um escrivão que trabalhou com ele foi encontrado morto em casa. Fernando Sturi Lima, 34 anos, teria se suicidado com um tiro na cabeça.
DESAPARECIDO
Suspeito de ser informante do grupo de Cachoeira, o delegado Hylo Marques está sumido desde o sábado 14
As duas mortes se somaram ao desaparecimento do delegado da Polícia Civil de Goiás Hylo Marques Pereira, suspeito de ser informante do grupo de Cachoeira. O sumiço foi denunciado na semana passada pela família de Pereira, visto pela última vez no sábado 14, em frente a um hotel em Goiânia. No local, foi encontrado o carro do policial com uma nota escrita à mão com seu nome, dois números de telefone e um destino: São Paulo. ISTOÉ ligou para o celular, mas caiu na caixa postal. No telefone fixo, ninguém atendeu. Ao depor na Assembleia Legislativa de Goiás, no início de julho, o delegado admitiu conhecer Lenine Araújo, o contador de Cachoeira flagrado por Tapajós. A Polícia Civil goiana abriu uma investigação sobre o desaparecimento de Pereira. Não foi descartada a hipótese de que o delegado tenha se escondido para não ser morto. Pereira não é o primeiro do esquema de Cachoeira a desaparecer. O contador Geovani Pereira da Silva está foragido desde fevereiro e não compareceu nem sequer para prestar depoimento na 11ª Vara da Justiça Federal de Goiás.
Ameaças de morte também rondam juízes e procuradores do caso. O juiz federal Paulo Augusto Moreira Leite, que iniciou as investigações e deu as primeiras ordens de prisão contra integrantes do grupo, pediu afastamento do caso em junho. Temendo por sua vida e de sua família, decidiu passar uma temporada no Exterior com a mulher e os filhos. A decisão de abandonar as investigações foi decorrente do que chamou de “periculosidade da quadrilha”. A onda de assassinatos e desaparecimentos levou a direção do Complexo Penitenciário da Papuda a transferir Carlinhos Cachoeira para o Pavilhão de Segurança Máxima (PSM). Os presidiários que vão para esse setor geralmente não retornam mais para a cela comum, porque correm risco de morte.
fotos: Adriano Machado/AG. ISTOÉ; WALTER ALVES/O Popular/Folhapress
21.Jul.12
sábado, 21 de julho de 2012
Morte e mistério à sombra de Cachoeira
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário