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quarta-feira, 18 de julho de 2012

Dilma está errada. Economia não é adivinhação





Dilma estava errada e o mercado, certo


Carlos Alberto Sardemberg
O Estado de S. Paulo

Em 17 de março de 2011, em entrevista ao jornal Valor Econômico, a presidente Dilma Rousseff sustentou que a economia brasileira tinha todas as condições de chegar ao final daquele ano com crescimento entre 4,5% e 5% e inflação contida na meta de 4,5%.


Quando a jornalista Claudia Safatle observou que, fora do governo, se esperava resultado bem diferente, para pior nos dois quesitos, Dilma respondeu com uma frase de Delfim Netto:

– Não existe uma lei divina que diz que a taxa de crescimento será de 3% e que a inflação será de 6%. Eu acho que isso é adivinhação.

Curiosa a crítica da presidente.

Aquele era um dos chamados “cenários de mercado”, construídos com base em teoria econômica, claro, não em leis naturais.

Ao desclassificar essa projeção – “é adivinhação” – Dilma, uma economista, necessariamente desclassificou seu próprio cenário, igualmente baseado em doutrina econômica.

Dirão: mas são teorias diferentes.

Certo, mas não foi essa a crítica de Dilma.

Ela desconsiderou a prática da previsão econômica.

Como não há leis divinas (ou naturais) regulando a atividade econômica, uma ação dos homens, sempre mutável, não há como antecipar os fatos, tal a argumentação.


Faz sentido. É o contrário do que acontece na natureza. Aqui, a ciência consegue formular as leis que regem os fenômenos, sempre da mesma maneira. E até revela a realidade, como mais uma vez se demonstrou com o encontro do “bóson de Higgs”.

Cinquenta anos atrás, o cientista Peter Higgs chegou à conclusão que essa partícula elementar existia e deveria aparecer em tal circunstância. Mas não havia aparelhos – sequer computadores! – para encontrar a coisa. Agora acharam, ali mesmo onde deveria estar.



Dilma estava errada, e o mercado, certo

Já a economista e presidente Dilma foi menos feliz. Ao rejeitar a tese de que as variáveis econômicas de 2011 já estavam praticamente dadas e que seria possível crescer mais, com menos inflação, afirmou: “depende da gente…vamos mostrar”.

Logo, não se tratava exatamente de uma antecipação científica, mas de um ato de fé. “Tenho certeza de que o Brasil vai crescer entre 4,5% e 5% neste ano (de 2011)”, declarou em outro momento da entrevista.
Resumindo: a presidente recusou, então, as previsões “supostamente” teóricas e colocou em seu lugar sua determinação e sua confiança na capacidade do governo. E dela.

Como sabem os leitores, Dilma estava errada e o mercado, certo. O Brasil cresceu apenas 2,7%, com inflação de 6,5%, no limite do teto da banda, e ainda assim um resultado, digamos, martelado.
(...)

E se for assim, não é apenas que a presidente estava errada em suas previsões.

Ela pode estar operando com o pensamento equivocado. Já errou feio duas vezes: este ano vai pelo mesmo caminho de 2011.

O governo acreditava num crescimento de até 5%, recuou para 4%, o Banco Central já reduziu mais ainda, e agora a presidente já diz que a expansão do PIB não é importante. Ocorre que pela adivinhação ou pela lei divina, o PIB será ainda menor do que no ano passado.


Uma interpretação equivocada da realidade leva necessariamente a política econômica pouco efetiva.

Muitos analistas têm apontado restrições para que o Brasil cresça aceleradamente e com inflação baixa. Dizem que só a eliminação dessas restrições – reunidas no tal custo Brasil – permitiria um novo ciclo de crescimento, a partir, essencialmente, de investimentos privados. Ou seja, trata-se de abrir espaço para as empresas privadas.

Já Dilma tem dito e tentado pelo outro lado. Acha que é possível ao governo colocar as regras, os estímulos e o dinheiro necessário para decolar o país.
Até aqui, porém, temos a combinação de baixo crescimento e inflação ainda alta, isso na comparação com o mundo emergente.
Além disso, há um problema operacional.

A presidente acerta, na teoria, quando diz que o governo vai segurar o gasto com custeio e expandir investimento (como dizia na entrevista do Valor).

Mas, na prática, em 2011, o gasto do Tesouro com custeio aumentou 13%. Investimentos, 0,8%.

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