É o samba do Senado doido
Já temos o hino funk da CPI do Cachoeira e da Delta
(alguém ainda se lembra do Demóstenes?)
Tchutchuca
treme o bumbum/treme treme treme/treme o bumbum/dando uma reboladinha/e
vai descendo/com o dedinho na boquinha/agora sobe com a mão na
cinturinha/levante o pé dê uma rodadinha.
Letra e música são do Bonde do Tigrão.
REVISTA ÉPOCA
Foi o deputado tucano Fernando Francischini, do Paraná, que levou tchutchucas e tigrões ao palco do circo, na quinta-feira passada.
Ele provocou o relator da CPI, Odair Cunha, do PT.
Disse que os petistas são “tchutchucas” quando falam do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e se transformam em “tigrões” quando atacam a Delta e o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).
Nenhum dos acusados na CPI treme a voz ou o olhar.
Os réus estão todos com o dedo na boquinha.
São múmias sem nada a declarar.
Estão certos.
Por que abdicar do direito constitucional de ficar calados, diante de congressistas que não brigam pela verdade mas se engalfinham por seus partidos?
No máximo, os acusados dão um sorrisinho para as câmeras e botam a mão na cinturinha.
Ninguém quer pegar os seus ou os nossos. Só os adversários. A senadora Kátia Abreu (PSD), diante de um Cachoeira mudo após duas horas e meia de interrogatório, traduziu o sentimento da nação: “Senhores, estamos aqui fazendo papel de bobos”.
O bicheiro, defendido pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, só surpreendeu pelos cabelos grisalhos, que não podem ter embranquecido em apenas três meses de prisão.
O resto foi previsível: “Ele pode não falar nunca”, disse Thomaz Bastos. Pode mesmo. Mas Cachoeira ameaça: “Tenho muito a dizer”.
Se somos bobos, o que dizer das faxineiras e do ajudante de caminhoneiro usados no Rio de Janeiro como laranjas da Delta Construções e de Cachoeira?
Aparecem como sócios de firmas que sacaram meio milhão de reais de empresas fantasmas. Encontrados pelo jornal O Globo, os laranjas não acompanham escândalos nem funk, mas acham que tudo vai acabar em pizza.
Uma das faxineiras está sem emprego há um ano e mora com mãe e quatro filhos num casebre alugado por R$ 150 mensais.
A quem apelar, se o presidente da CPI do Cachoeira, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), usa dinheiro público para comprar reportagens em rádios e sites de seu Estado?
Rêgo repassou R$ 41 mil a três jornalistas (e os jornalistas, não se envergonham de defender políticos em reportagens pagas disfarçadas?).
O presidente da CPI emprega uma funcionária fantasma em seu gabinete, Maria Eduarda Lucena dos Santos, que se diz coautora do hit “Ai se eu te pego”, cantado por Michel Teló.
Rêgo prometeu “abrir uma sindicância” para saber se a moça está entre seus 54 funcionários (pagos por nós, eleitores).
É o samba do Senado doido.
Quem deve estar certa é a Câmara, que, numa votação relâmpago e de surpresa – fora da pauta do dia –, aprovou, com apoio de todos os partidos, as candidaturas dos “contas sujas”. É um desafio ao Tribunal Superior Eleitoral: em março, o TSE definiu que só políticos com contas eleitorais aprovadas poderiam se candidatar neste ano.
O ministro Marco Aurélio Mello, do TSE, reagiu: “É o faz de conta. Será que é razoável dar a quitação eleitoral mesmo diante da rejeição das contas?”
A Câmara aproveitou o ruído da CPI do Cachoeira para decidir, em causa própria, que “não se pode mudar a regra no meio do jogo”.
Difícil moralizar se estamos sempre no meio do jogo. Em que momento será possível traçar uma linha de conduta que revogue as práticas anteriores nos Três Poderes?
O bicheiro Cachoeira era, até outro dia, uma das figuras mais influentes de nossa República, a julgar por seus amigos.
A Delta era a empreiteira favorita do PAC, com R$ 3,6 bilhões de contratos federais.
O presidente da Delta, Fernando Cavendish, empregava 30 mil pessoas e era o preferido de vários governadores, entre eles o casal Garotinho e Sérgio Cabral.
O senador Demóstenes Torres era o tigrão da ética.
Hoje sem partido, Demóstenes tenta não cair do bonde.
Conta com o voto secreto dos colegas do Senado para não ser cassado.
Estima-se que ele já tenha 30 votos a seu favor.
A cassação de um mandato exige voto de 41 dos 81 senadores.
Há quase dois meses, escrevi nesta coluna: “Demóstenes sabe que será perdoado”.
Pode ser que não. Pode ser que ele seja mesmo cassado. Mas, sem voto aberto, sem o livre acesso do eleitor à consciência de cada senador, é menos provável. Demóstenes se escora no corporativismo e no rabo preso de tchutchucas e tigrões.
Vem tchutchuca linda/Vem, aqui com o seu Tigrão/Vou te jogar na cama/E te dar muita pressão/Sente a pressão.
Vamos decorar o refrão do hino funk da CPI.
Cachoeira é pop.
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