Direto ao Ponto
Único doutor do mundo que não sabe escrever e jamais leu um livro, Lula é também o primeiro da história que só apresentou a tese de doutorado depois de já ter virado doutor.
A Teoria do Casco Duro, concebida para provar a inexistência da figura do suspeito, foi apresentada em 20 de setembro, quando o ex-presidente recebeu na Universidade Federal da Bahia o quinto diploma do gênero.
Depois de examinar a onda de despejos no ministério de Dilma Rousseff, o cérebro baldio concluiu que Antonio Palocci, Alfredo Nascimento, Wagner Rossi e Pedro Novais só perderam o emprego por ignorarem que não há suspeitos no Brasil Maravilha registrado em cartório.
Existem apenas culpados e inocentes.
Culpados são os outros.
Os companheiros são inocentes até a condenação em última instância.
Dependendo da patente, nem depois disso são culpados.
Segundo a tese do doutor em bandalheiras sem castigo, “um político tem que ter casco duro”, sobretudo quando enfiado até o pescoço em ladroagens de grosso calibre.
“Se o político tremer cada vez que alguém disser uma coisa errada sobre ele e não enfrentar a briga para dizer que está certo, acaba saindo mesmo”.
Nessa linha de raciocínio, os quatro despejados voltaram à planície por insuficiência de cinismo.
Deveriam ter persistido na pose de vítima, nas juras de inocência e nas acusações ao acusador.
Se agissem assim, o resto do serviço seria feito por jornalistas estatizados, encarregados de desqualificar o autor das denúncias, e pelos chefes da seita ─ começando pelo presidente da República ─ escalados para a evocação do mantra: ninguém é culpado até o engavetamento do derradeiro recurso.
O comportamento de Orlando Silva tem reafirmado que o ainda ministro assimilou a tese do mestre.
Dilma Rousseff também, atesta o falatório da faxineira de araque em visita à África do Sul.
“Nós não só presumimos a inocência do ministro, como ele tem se manifestado com muita indignação sobre as acusações feitas”, disse a presidente em dilmês castiço.
Depois de ressalvar que “o governo vai continuar acompanhando qualquer denúncia que apareça”, estendeu a Orlando Silva o braço solidário: “Aliás, o ministro pediu investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal sobre as acusações feitas a ele, que considera injustas. Além disso, o ministro se dispôs a ir ao Congresso Nacional, se não me engano, nesta terça-feira, para fazer todos os esclarecimentos que os senhores deputados e senadores quiserem a respeito do assunto”.
É esse o ritual recomendado pelo pai da Teoria do Casco Duro.
O culpado nega os fatos, é afagado pelo voto de confiança da chefe, dispõe-se a abrir o sigilo de contas bancárias que não registram a movimentação de caixas de dinheiro vivo, vai ao Congresso para um sarau com parlamentares cúmplices, é acariciado por elogios dos parceiros do primeiro escalão, repete que é vítima de tramas políticas e que vai aguardar o resultado de sindicâncias feitas pelos amigos do Planalto.
O problema é a que a enxurrada de revelações não para, cresce a náusea dos brasileiros informados e o criminoso acaba devolvendo o cargo. É sempre menos doloroso que devolver o produto do roubo.
No caso de Orlando Silva, é improvável que o espetáculo da desfaçatez se arraste por muitos dias.
Há um himalaia de patifarias a contemplar e histórias mal contadas a esclarecer.
O ministro já está submerso no pântano das pilantragens comprovadas e existem pelo menos duas testemunhas prontas para contar o que sabem.
E nem o maior dos governantes desde Tomé de Souza tem poderes para erradicar em definitivo a figura do suspeito, que sobrevive em todos os dicionários acompanhada de definições que até Lula e Dilma conseguem entender.
Suspeito é aquele que inspira suspeitas, desconfiança; de que não se tem certeza; que suscita dúvidas; duvidoso; de cujas boas qualidades se duvida; que parece esconder defeitos ou vícios; que se deve evitar. A soma desses significados desenha o retrato dos orlandos silvas.
Manter alguém assim no ministério é um tapa na cara do país exaurido pela corrupção endêmica.
A Teoria do Casco Duro é apenas um filhote da impunidade institucionalizada.
E a discurseira em torno da sentença transitada em julgado é implodida pelas seguintes observações do comentarista Franz:
“Não se pode exigir do Poder Executivo a aplicação dos mesmos princípios que regem o Poder Judiciário. Aos gerentes da coisa pública não cabe ‘presumir inocência’, e sim agir e reagir em nome do interesse imediato do estado, diante da constatação e evidência dos fatos. Se cometerem erros, o Judiciário tratará de corrigi-los. Segundo a lei, ministros são demissíveis em qualquer circunstância, mesmo sem prévio processo administrativo. Confrontada com indícios, a presidente pode e deve agir, como faz um dirigente de qualquer empresa privada. Quando a presidente afirma que presume a inocência do ministro, fala como magistrada do Judiciário que não é”.
Franz oferece uma explicação para o palavrório da presidente.
“Pode ser uma maneira disfarçada de estar varrendo a sujeira para debaixo do tapete simulando a prática de um ato nobre“.
É isso.
18/10/2011
COMENTÁRIO
E em última análise, penso eu, bem lá no fundo, "além das vistas", o que dá sustentação a esse governo que já deveria ter sido impichado é o poder de chantagem do pinguço.
O sonho democrático foi sequestrado e não estamos dispostos a resgatá-lo, para preservar a vida da vítima.
Mas falta pouco para o convencimento geral de que o jeito é partir para o racha.
COMENTÁRIO
E em última análise, penso eu, bem lá no fundo, "além das vistas", o que dá sustentação a esse governo que já deveria ter sido impichado é o poder de chantagem do pinguço.
O sonho democrático foi sequestrado e não estamos dispostos a resgatá-lo, para preservar a vida da vítima.
Mas falta pouco para o convencimento geral de que o jeito é partir para o racha.
Por Ari
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