“Somente no bizarro mundo de Washington a responsabilidade fiscal pode ser definida como terrorismo.”
(Michele Bachmann)
(Michele Bachmann)
O GLOBO
A imagem do movimento Tea Party é bastante caricatural por aqui. Pinta-se um quadro de fanáticos reacionários que querem preservar o lucro dos milionários em detrimento do leite das crianças carentes e da aposentadoria dos pobres velhinhos.
Pretendo apresentar uma visão diferente.
Comecemos pelo nome: ele se inspira na “Festa do Chá” em Boston, marco da Independência Americana.
Os colonos, cansados de impostos arbitrários da Coroa inglesa, revoltaram-se. E quem pode negar que a Casa Branca hoje pratica exagerada intervenção na vida dos americanos?
Vamos condenar o Tea Party por lutar por maior independência em relação a Washington?
Os “progressistas” gostam de monopolizar fins nobres: somente eles querem melhores condições de vida para os mais pobres. Mas o debate deve girar em torno dos melhores meios para tais fins.
Foi justamente em períodos de reduzida intervenção estatal que houve mais prosperidade geral.
Taxar os ricos e usar o governo para transferir renda pode conquistar votos, mas nunca ajudou os pobres de fato. Serviu apenas para afugentar investimentos e inchar governos corruptos.
O Tea Party carrega em seu DNA um viés libertário, que desconfia do governo “altruísta”. O discurso messiânico que elegeu Obama incomoda, e com razão: foram “messias salvadores” os que mais atrocidades praticaram em nome do “bem”.
As medidas de Obama mostram sua visão ideológica.
É clara a sua intenção de socializar setores importantes da economia e concentrar no governo mais poder ainda.
O Tea Party veio dizer “basta”.
Há oportunistas e fundamentalistas malucos no Tea Party, sem dúvida. Mas reduzir o Tea Party a uma Sarah Palin é utilizar de má-fé.
Vários aderiram ao movimento de forma consciente, cansados de um governo à beira da bancarrota, que acredita que a saída para todos os males é aumentar o gasto público e os impostos.
O Tea Party trouxe para o debate uma visão alternativa de sociedade.
O que está em jogo é decidir se os Estados Unidos continuam no rumo atual, aquele adotado pelos países europeus que levou a um Estado social falido; ou se buscam resgatar o “sonho americano” original, que fez com que a nação se tornasse o colosso que é hoje.
Os pilares deste modelo são: meritocracia, igualdade perante as leis, governo limitado e ampla liberdade individual.
Estes pilares estão fragilizados.
Em cada nova crise, a “solução” foi aumentar os estímulos fiscais e monetários, criando novas bolhas insustentáveis. A conta precisa ser paga e os tentáculos do Leviatã estatal precisam ser reduzidos.
O Tea Party chegou para mostrar esta realidade.
Não é possível crescer de forma sustentável por meio de mais gastos públicos e crédito sem lastro. A despeito do que pensam os keynesianos como Paul Krugman, não se brinca impunemente com as leis econômicas.
O embate sobre o aumento do teto do endividamento expôs a polaridade: de um lado, aqueles que desejam um cheque em branco para o governo gastar à vontade;
do outro, os que cansaram de viver uma ilusão e rejeitam o modelo europeu de sociedade.
Não resta dúvida de que houve oportunismo político de ambos os lados. Mas erra quem acusa o Tea Party de irresponsável. O ápice da falta de responsabilidade é gastar mais do que arrecada indefinidamente.
Qual a função de um teto de endividamento que vive sendo elevado?
Seria como uma meta de limite de peso que sempre acaba ignorada. Em vez de o sujeito entrar em dieta rigorosa ou praticar exercícios, ele apenas joga a meta para cima.
Parece natural supor que o resultado desta postura negligente será a obesidade.
O governo americano está obeso.
Ele possui US$ 14,3 trilhões em dívidas, quase 100% do PIB.
E não está satisfeito!
O Tea Party resolveu jogar duro para reverter este quadro. Pode-se acusar o movimento de intransigente, mas é preciso reconhecer que, não fosse isso, dificilmente o curso teria se alterado, ainda que timidamente.
Foi uma conquista, apesar de insuficiente para evitar o rebaixamento do “rating” pela agência de risco Standard & Poor’s.
Uma ala minoritária, mesmo dentro dos republicanos, foi capaz de colocar em pauta o debate inadiável sobre a trajetória explosiva dos gastos públicos.
Sua força obrigou o presidente Obama a recuar e abandonar parte de sua agenda socializante.
É um começo, uma brisa que sopra na direção certa.
Mérito do Tea Party, cujas qualidades deveriam servir de exemplo para a sonolenta oposição brasileira.
August 09, 2011
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