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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Ministério foi "corrompido" após a chegada de Rossi.



O funcionário que denunciou a distribuição de propinas por um lobista numa sala que fica a 30 passos do gabinete do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, disse que o ministério foi "corrompido" após a chegada de Rossi

José Ernesto Credendio
e Andreza Matais
Folha de São Paulo

O funcionário que denunciou a distribuição de propinas por um lobista numa sala que fica a 30 passos do gabinete do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, disse que o ministério foi "corrompido" após a chegada de Rossi.

Ex-chefe da comissão de licitação do ministério, Israel Leonardo Batista afirmou à Folha que o ministro "desarranjou" o setor nomeando pessoas que "vão assinar o que não devem".

Ele reafirmou que o lobista Júlio Fróes lhe entregou um envelope com dinheiro dentro do ministério depois da assinatura de um contrato milionário da pasta com uma empresa que o lobista representava.

Israel disse que as fitas do circuito interno da pasta podem comprovar se Rossi conhece ou não o lobista.

Segundo ele, o ministro irá atrapalhar as investigações se permanecer no cargo.


Folha - Por que o sr. saiu do Ministério da Agricultura?
Israel Leonardo Batista -
Foi questão de perseguição...

O sr. chegou a sofrer assédio para que assinasse documentos que julgava incorretos?

Sempre trabalhei de acordo com o que a lei determina. Não aceito interferência. Me senti incomodado com certas coisas. Sofri retaliações por ser honesto.

O que mudou no setor de licitação sob Wagner Rossi?

Foi todo desarranjado. O pessoal do quadro não permaneceu. Somente o pessoal terceirizado.

Qual é o problema de licitações serem conduzidas por pessoas alheias à pasta?

Não têm conhecimento, vão assinar o que não devem.

Como está o setor hoje?

Está corrompido, no sentido de que pessoas não têm preparo.

Como conheceu Júlio Fróes?

Na frente de todos os servidores da comissão de licitação. Ele chegou com a Karla [Renata França Carvalho, chefe de gabinete da secretaria-executiva] e o Milton Ortolan [ex-secretário-executivo]. Ela [Karla] pediu para dar apoio para ele [lobista], pediu para arrumar um computador e uma mesa para ele fazer um trabalho. Logo, entendi que fosse um assessor.

Disseram que era assessor?

Disseram dr. Fróes, entendi como assessor. Pedi para funcionária se retirar [de uma mesa] para ele fazer esse trabalho [texto de convênio].

Sem conhecimento de Rossi?

Se o chefe de gabinete do ministro sabia, se o secretário-executivo sabia... As câmeras vão dizer.

O ministro conhecia Fróes?

É só divulgar as imagens [do circuito interno da pasta].

É possível que o ministro desconhecesse Fróes?

As câmeras vão dizer quem está mentindo e quem está dizendo a verdade.

Em tantos anos no governo, o sr. já havia passado por isso?

Nunca. É fácil o ministro, o chefe de gabinete chegar lá e dizer: "Realmente, não aconteceu nada". É fácil. Mas realmente aconteceu. Se pegar as filmagens, vão ver tudo que estou falando.

O sr. se sente ameaçado?

Acho que corro risco porque jamais na minha vida passei por uma situação desta. Tenho certeza de que Dilma precisa de apoio na Câmara e no Senado, mas que tenha apoio de pessoas equilibradas, que respeitem leis.

O sr. poderia descrever como Fróes lhe entregou dinheiro?

Me ligaram do 8º andar, eu fui. Me ligou a Isabel [Roxo], chefe de gabinete [da assessoria parlamentar]. Quando eu cheguei lá, ele me cumprimentou e me entregou.

Onde ele estava?

Ele estava na sala da chefe de gabinete. Cheguei, anunciei e entrei.

Abriu o envelope na hora?

Não.

O sr. não estranhou?

Era um envelope do ministério. Era uma pasta e dentro tinha um envelope. Não sabia o que tinha dentro. Desci e vi o que era. Liguei para ele e ele foi na minha sala. Eu disse que não aceitava.

Havia várias pastas como a que o sr. recebeu de Fróes?

Sim, algumas pastas.

O que ocorreu quando recusou o dinheiro de Fróes?

Ele falou: "Você não quer, tem umas pessoas lá que o Milton pediu pra ajudar, que é a Karla e a Girleide [dos Santos Sousa, que coordena a administração de material].

Era muito dinheiro?

Não contei.

Depois desse episódio, o sr. passou a sofrer pressões?

Várias perseguições. Muitas vezes saía para trabalhar e dizia à minha família que não sabia se voltava vivo.

Como foi seu afastamento?

Karla falou que eu não estava ajudando em nada e iria voltar para a Conab, estava tudo pronto, os papéis prontos. Quando cheguei na Conab ninguém me queria lá: ia assumir a comissão de licitação da Conab. Não deixaram.

O que achou quando ela disse que não estava ajudando?

Que não estava andando do jeito que eles queriam. E, para andar do jeito que queriam, não funciona comigo.

O sr. conversou com ministro Rossi alguma vez?

Ele disse que não me conhece, mas, como diretor da associação dos funcionários [da Conab], fiz reuniões com ele com outras pessoas junto.

Fróes falava em nome do ministro, agradecia por algo em nome do ministro?

Não. Se eu dissesse isso estaria mentindo. A única coisa que vi foi ele no telefone na minha sala dizendo: "Já falei com o chefão número 2 e queria falar com o chefão número 1". Aí ele falava com o chefão número 1 no telefone.

A saída de Ortolan é suficiente para pôr fim a esses casos?

Dilma falou que seria incorruptível e que todo ministro seria investigado. Se é para ser investigado, o ministro não deve estar no cargo, tem de se afastar porque vai atrapalhar as investigações.

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