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domingo, 12 de julho de 2009

ESQUENTAMENTO DE CURRÍCULO 1

ESQUENTAMENTO DE CURRÍCULO

A Experiência de um Ghost Writer

Por Waldo Luís Viana*

“As pessoas inteligentes têm um direito sobre as ignorantes; o direito de instruí-las.” (Ralph W. Emerson)

Em virtude da longa experiência como escritor, resolvi também trabalhar como ghost writer, aquele profissional que oferece um texto para outro, cedendo ao “novo autor” os direitos autorais em troca de recursos financeiros. Foi a saída que encontrei para sustentar a família e até que não me dei de todo mal...

Fiei-me, sempre, na luta de Balzac, escritor francês muito pobre, que ganhava do editor créditos por página e, por isso, criava romances enormes, que ele mesmo reconheceu, um dia, que deveria “enxugar” e na crença de Kant, filósofo que recomendava ao homem não se desesperar diante do trabalho duro, fatigante e mal remunerado, porque seria indício de um imperativo categórico exigido por Deus.


Como o autor é sempre pessoa física, nada impede que o ghost writer se intrometa, como sombra, na produção intelectual de alguém que deseje brilhar, o que fiz por longo tempo à disposição de diversos públicos. Ao lado da cansativa atividade, também escrevi meus próprios livrinhos, de rarefeita repercussão, porque vivemos num país deveras especial, em que muito pouco se lê, mas, paradoxalmente, existe uma pletora imensa de autores e escritores.


As grandes editoras aproveitam-se disso, recebem enorme quantidade de originais, iludem com promessas os autores novos e pegam mestrandos e doutorandos para aproveitar as ideias remetidas pelos incautos para garimpar novos formatos de argumentos para outros autores, escolhidos por elas a dedo. Afinal, utilizam-se do velho princípio de Lavoisier aplicado à literatura e ao ensaio: nada se cria, tudo se copia!


Nos Estados Unidos, a atividade de ghost writer é superprofissional, com escritórios montados subsidiando a feitura de cada capítulo dos livros de grandes autores de best-sellers, que vêm à lume em escala industrial.

Tais escritórios têm demandas incríveis de trabalho para sustentar a fama desses personagens famosos, que recebem adiantamentos milionários, vivem viajando, dando conferências e autógrafos e retornam apenas para ver se os originais produzidos pelas editoras estão “conforme” as fórmulas comerciais que defendem.


No Brasil, com deficiência enorme de agentes literários que os defendam, os autores contentam-se em escrever e rezar, pensando que os editores irão publicá-los, coisa que acontece muito dificilmente, porque, como dizia, com sabedoria, a mãe de Paulo Coelho: “Jorge Amado só tem um”...

No panorama acadêmico, as demandas de autores percorrem quase o mesmo cenário, com a agravante de que se luta contra um quadro terrível de indigência mental e cultural.

Todo mundo finge: os professores fingem que ensinam e os alunos, que aprendem! Principalmente metodologia científica, matéria que é normalmente ministrada no ciclo básico das faculdades e, depois, completamente esquecida, em meio ao emaranhado dos créditos posteriores a serem cursados pelos candidatos a bacharel.

No entanto, o estudante não aprende realmente a “produzir cientificamente”. Nenhum professor o convida a escrever um artigo supervisionado, não o ensina a criar papers específicos e, ao final do curso, vem a amarga surpresa: para colar grau, o aluno deverá realizar heroicamente um trabalho final sobre um tema qualquer, que chamam, pomposamente, monografia...


Sem dúvida, o estudante não pode realizar bem aquilo para o qual não fora treinado e muitos entram, por isso, em grande depressão! Não adianta recorrer aos orientadores disponíveis que, ocupados com a vida universitária, o cotidiano do ensino, com baixos salários e sem receber qualquer adicional pela orientação – tratam os alunos com grande impaciência. Em minha experiência, inclusive, recomendava a esses sofridos candidatos que escolhessem orientadores de sexo diferente dos seus.

Explico: se o candidato fosse mulher, que escolhesse um homem; se homem, preferisse uma professora para orientá-lo! Assim, o período terrível de subserviência ao mestre ou mestra, guindados à posição de sábios, ficaria mitigado por motivos quase óbvios e tudo ficaria menos desgastante para as partes...

continua no post abaixo

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