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domingo, 6 de julho de 2008

Entrevista: HH - "Lula comprou os movimentos sociais"

HELOÍSA HELENA

"Lula comprou os movimentos sociais"

Ex-senadora chama o presidente de neoliberal e se candidata a vereadora com olhos no Planalto em 2010 - para empurrar o País à esquerda

Por SÉRGIO PARDELLAS E RUDOLFO LAGO
FELIPE BARRA/AG. ISTOÉ

Para quem chegou a receber 6,5 milhões de votos na última eleição presidencial, a iniciativa pode parecer sinal de decadência.

Para tentar alavancar o PSOL, partido que ela mesma admite que não conseguiu crescer, a ex-senadora Heloísa Helena aceitou sair candidata a vereadora em Maceió, capital de Alagoas.

Essa volta ao começo é uma estratégia para garantir a obtenção de coeficiente eleitoral mínimo para o PSOL. Uma vez que os demais candidatos do partido não têm a menor chance, Heloísa arca com a missão de, sozinha, fazer 20 mil votos nas eleições de outubro.

Ela vai à luta para salvar o partido, mas também em causa própria: se vencer, Heloísa garantirá a si uma tribuna útil para tentar de novo uma vaga ao Senado ou à Presidência da República em 2010.

Na campanha, a língua de Heloísa, que nos últimos dois anos se reservou praticamente às aulas no curso de Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas, estará mais ferina do que nunca:

"Tenho a humildade de me candidatar a vereadora para criar uma trincheira de resistência e luta contra o banditismo político praticado pelas forças retrógradas de Alagoas", disse Heloísa.

Ela se refere a seus eternos adversários Renan Calheiros e Fernando Collor.

Seu discurso é velho conhecido, quase um mantra pela ética, combate à corrupção e contra o que chama de receituário neoliberal de Fernando Henrique e Lula.

"Tanto o governo Lula: quanto o governo Fernando Henrique merecem nota menos que zero, menos um."

Na próxima eleição, o inflamado discurso da ex-senadora será acrescido, no entanto, de um componente especial: o fantasma da inflação.

"Quando nós alertamos para o fracasso desse modelo, disseram que éramos aves de mau agouro", diz ela.

A metralhadora giratória de Heloísa não poupa sequer alguns ídolos de parte da esquerda brasileira, como o presidente venezuelano, Hugo Chávez.

Para ela, Chávez falha ao não ter apreço à democracia:

"Apesar do abismo que separa Hugo Chávez do imperialismo de George W. Bush, se eu estivesse na Presidência do Brasil, eles não mandavam aqui".

ISTOÉ - Como é ver Alagoas representada no Senado por Fernando Collor e Renan Calheiros?

Heloísa
- É como ver Lula no exercício da Presidência. É extremamente triste. Mas faz parte do aprimoramento da nossa combalida e ainda fracassada democracia representativa. Mas uma democracia que, apesar de fracassada, é necessária. A gente só tem uma opção: não podemos aceitar essa representação, mas como eu não acredito nas ditaduras, independentemente do viés ideológico, o jeito é trabalhar pelo aprimoramento da democracia. O que nós temos está longe ainda de ser democracia.

ISTOÉ - O PAC não representa investimentos em infra-estrutura?

Heloísa - Objetivamente, o PAC não representa nenhum plano de investimento. Não há uma proposta de orçamento de longo prazo que busque de fato transformar o País.


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