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sábado, 24 de julho de 2010

O amigo de Chávez se fantasia de mediador




Por Augusto Nunes
Veja Online

O presidente Juscelino Kubitschek ensinou que um estadista não tem compromisso com o erro. O presidente Lula, comprometido por erros incontáveis, não tem compromisso com a verdade.

Provas e evidências materiais, testemunhos irrefutáveis, confissões detalhadas ─ nada é capaz de obrigá-lo a reconhecer um fato.

Se as conveniências eleitorais recomendarem, Lula é capaz de negar que é Lula com a mesma seriedade aparente que sublinhou o palavrório que negou a existência de vínculos entre o partido que fundou e os narcoguerrilheiros da selva colombiana.



“É uma irresponsabilidade tratar o PT como tendo qualquer ligação com as Farc, é não conhecer nada da história política do Brasil”, recitou. “Se as pessoas pensassem antes de falar as bobagens que falam, não falavam tanto”.

Irresponsável é quem diz uma coisa dessas. O presidente não conhece nada da história do Brasil e não pensa antes ou depois de falar. Mas sabe o suficiente para poupar o país das bobagens que diz.

Só um campeão do cinismo pode fazer de conta que as reuniões do Foro de São Paulo foram encontros sociais, ou que o vídeo abaixo que registra a discurseira de Montevidéu é uma montagem.

Só um canastrão de chanchada pode fingir que não foi por decisão do Primeiro Companheiro que a Colômbia se transformou no único país com dois embaixadores em Brasília.

Além do diplomata que representa o governo constitucional, há o representante das Farc.

Chama-se Francisco Antonio Cadena Collazos. É mais conhecido como Olivério Medina, ou Padre Medina, ou Camilo López, ou El Cura Camilo.


Condenado pela Justiça colombiana, o ex-padre que trocou a Igreja Católica pela narcoguerrilha cruzou a fronteira clandestinamente.

Capturado pela Polícia Federal, não foi devolvido ao país de origem para pagar pelos crimes que comete.

O apadrinhamento dos companheiros no poder e a miopia do Supremo Tribunal Federal promoveram Medina primeiro a refugiado político e, depois, a embaixador informal.

Pelas normas do Itamaraty, só o embaixador oficial fala pela Colômbia.

Como o parentesco ideológico com o PT tem precedência, só Medina é ouvido.

Pelo cerimonial do Itamaraty, só a mulher do embaixador oficial deve ser tratada como embaixatriz.

Como a sem cerimônia do PT tem precedência, só a mulher de Medina ─ a brasileira Angela Maria Slongo ─ recebe tratamento especial desde 2006, quando se tornou uma das damas da corte companheira.

Até então funcionária do governo do Paraná, Angela foi instalada num cargo da confiança do Ministério da Pesca por determinação de Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil.

Pousou em Brasília não por entender de iscas e anzois, mas porque o marido preso precisava de conforto.



Minutos depois da ruptura unilateral de relações diplomáticas com a Colômbia, decretada pelo venezuelano Hugo Chávez, o presidente Lula candidatou-se a mediador da crise que envolve dois vizinhos.

Não está interessado em remover focos de conflito, mas em afastar o amigo Chávez do banco dos réus da Organização dos Estados Americanos.

Melhor trazer o caso para tribunais controlados pela turma bolivariana.

Não há pendências a arbitrar.

O bufão venezuelano não pode proteger, financiar, armar e hospedar os bandidos de estimação.

Chávez é o criminoso.

A Colômbia é a vítima.

O presidente Uribe deveria sugerir ao vizinho espertalhão que primeiro restabelecesse a paridade diplomática implodida há quatro anos.

Ou reduzindo à metade a representação colombiana, com a demissão de Medina, ou duplicando a representação venezuelana, com a nomeação de um segundo embaixador indicado pelos opositores de Chávez.

O macunaíma piorado não faria uma coisa nem outra.

E ficaria ainda mais claro que, para Lula, os colombianos são tão incuravelmente idiotas que lhe parecem capazes de aceitar como mediador o advogado do inimigo.


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