Curiosamente o Fidel teima em assumir seu posto no inferno. Nelson Rodrigues, por mais cruel que tenha sido ao escrever, jamais imaginaria que o país fosse tomado por uma gang, tendo à frente um marionete metido a estadista de camelôs.
A solidão começou para o verdadeiro católico.
Tomem nota: — ainda seremos o maior povo ex-católico do mundo. O casamento já é indissolúvel na véspera. A educação sexual só devia ser dada por um veterinário.
Antigamente, o defunto tinha domicílio. Ninguém o vestia às pressas, ninguém o despachava às escondidas. Permanecia em casa, dentro de um ambiente em que até os móveis eram cordiais e solidários.
Armava-se a câmara-ardente num doce sala de jantar ou numa cálida sala de visitas, debaixo dos retratos dos outros mortos. Escancaravam-se todas as portas, todas as janelas; e esta casa iluminada podia sugerir, à distância, a idéia de um aniversário, de um casamento ou de um velório mesmo.
Sou contra a pílula, e ainda mais contra a ciência que a inventou; a saúde pública que a permite; e o amor que a toma.
Diz o dr. Alceu que a Revolução Russa é "o maior acontecimento do século".
Como se engana o velho mestre!
O "maior acontecimento do século" é o fracasso dessa mesma revolução. O dr. Alceu fala a toda hora na marcha irreversível para o socialismo. Afirma que a Revolução Russa também é irreversível.
Em primeiro lugar, acho admirável a simplicidade com que o mestre administra a História, sem dar satisfações a ninguém, e muito menos à própria História. Não lhe faria mal nenhum um pouco mais de modéstia. De mais a mais, quem lhe disse que a Revolução Russa é irreversível?
Só Deus sabe que fiz o diabo para ser amigo do nosso Tristão de Athayde. Durante cinco anos, telefonei-lhe em cada véspera de Natal: — "Sou eu, dr. Alce. Vim desejar-lhe um maravilhoso Natal para si e para os seus" etc etc.
Tudo inútil. O dr. Alceu trancou-me o coração. Até que, na última vez, disse algo que, para mim, foi uma paulada: — "Ah, Nelson! Você aí, nessa lama!".
O mestre insinuara que a minha alma é um mangue, um pântano, um lamaçal.
E, por certo, ao sair do telefone, foi se vacinar contra o tifo, a malária e a febre amarela que vivo a exalar. Pois é o que nos separa eternamente, a mim e ao dr. Alceu: — de um lado, a minha lama, e , de outro, a sua luz.
Outrora, o remador de Bem-Hur era um escravo, mas furioso. Remava as 24 horas por dia, porque não havia outro remédio e por causa das chicotadas. Mas, se pudesse, botaria formicida no café dos tiranos.
Em nosso tempo, o socialismo inventou outra forma de escravidão: — a escravidão consentida e até agradecida.
A Igreja está ameaçada pelos padres de passeata, pelas freiras de minissaia e pelos cristãos sem Cristo. Hoje, qualquer coroinha contesta o Papa. O padre de passeata é hoje, uma ordem tão definida, tão caracterizada como a dos beneditinos, dos franciscanos, dos dominicanos e qualquer outra.
E está a serviço do ódio.
Os padres exigem o fim do celibato. Portanto, odeiam a castidade. Imaginem um movimento de meretrizes a favor da castidade. Pois tal movimento não me espantaria mais do que o motim dos padres contra a própria. Os padres querem casar. Mas quem trai um celibato de 2 mil anos há de trair um casamento em quinze dias.
O tempo das passeatas acabou, mas o padre de passeata continua, inexpugnável no seu terno da Ducal e vibrando, como um estandarte, um Cristo também de passeata.
D. Helder só olha o céu para saber se leva ou não o guarda-chuva. D. Helder já esqueceu tanto a letra do Hino Nacional quanto a da Ave-Maria. Prega a luta armada, a aliança do marxismo e do cristianismo. Se ele pegasse uma carabina e fosse para o mato, ou para o terreno baldio, dando tiros em todas as direções, como um Tom Mix, estaria arriscando a pele, assumindo uma responsabilidade trágica e eu não diria nada.
Mas não faz isso e se protege com a batina. Sabe que um D. Helder sem batina, um D. Helder almofadinha, de paletó ou de terno da Ducal, não resistiria um segundo. Nem um cachorro vira-lata o seguiria. Estou imaginando se, um dia, Jesus baixasse à Terra.
Vejo Cristo caminhando pela rua do Ouvidor. De passagem, põe uma moeda no pires de um ceguinho. Finalmente, na esquina a Avenida, Jesus vê D. Helder. Corre para ele; estende-lhe a mão.
D. Helder responde: — "Não tenho trocado!".
E passa adiante.
No Brasil, só se é intelectual, artista, cineasta, arquiteto, ciclista ou mata-mosquito com a aquiescência, com o aval das esquerdas.
Não há ninguém mais bobo do que um esquerdista sincero.
Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer. As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado. Considero o filho único um monstro de circo de cavalinhos, um mártir, mártir do pai, mártir da mãe e mártir dessas circunstâncias.
As famílias numerosas são muito mais normais, mais inteligentes e mais felizes.
Na velha Rússia, dizia um possesso dostoievskiano:
— "Se Deus não existe tudo é permitido".
Hoje, a coisa não se coloca em termos sobrenaturais. Não mais. Tudo agora é permitido se houver uma ideologia.
Quando os amigos deixam de jantar com os amigos [por causa da ideologia], é porque o país está maduro para a carnificina.
Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem.
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Ainda hoje o luxo, a ostentação, a jóia, me confundem e me ofendem. Hoje, o sujeito prefere que lhe xinguem a mãe e não o chamem de reacionário. Em muitos casos, a raiva contra o subdesenvolvimento é profissional. Uns morrem de fome, outros vivem dela, com generosa abundância. O povo é um débil mental. Digo isso sem nenhuma crueldade. Foi sempre assim e assim será, eternamente.
Frases extraídas da coletânea de Ruy Castro "As 1.000 melhores frases de Nelson Rodrigues" Companhia das Letras, 1997
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