HAVANA. O líder cubano Fidel Castro criticou declarações do músico brasileiro Caetano Veloso num livro cujo conteúdo foi divulgado ontem. Fidel interpretou como um pedido de perdão aos Estados Unidos comentários de Caetano sobre sua música “Baía de Guantánamo”, parte do repertório do novo disco do compositor.
Para Fidel, a declaração foi uma “prova da confusão e do engano semeados pelo imperialismo”. No texto intitulado “Fidel, Bolívia e algo mais”, o líder cubano critica o fato de Caetano ter se dito “100% mais” do lado dos Estados Unidos do que de Cuba em matéria de direitos humanos, em entrevista publicada pela “Folha de S. Paulo” em 26 de maio.
“Se eu fosse um tipo de pessoa de esquerda, pró-Cuba, anti-Estados Unidos, não sentiria decepção alguma pelo que ocorreu nas prisões de Guantánamo”, segundo reproduz Fidel em seu prefácio a partir das declarações publicadas no jornal brasileiro.
“Em duas palavras: o músico brasileiro pediu perdão ao império por criticar as atrocidades cometidas naquela base naval em território ocupado de Cuba”, disse Fidel, de 81 anos, que passou a se dedicar a escrever depois de ter se afastado do governo.
Resposta a Fidel
Caetano declara:
“Não pedi perdão a ninguém. Procuro pensar por conta própria. Minha irreverência diante dos poderes estabelecidos é impenitente.
Dois dias depois de dar a entrevista citada por Fidel, eu disse à televisão austríaca que a tendência sociológica de considerar o racismo no Brasil pior do que o apartheid na África do Sul é uma manobra da CIA. Sou um artista.
Minhas palavras são: criação e liberdade.
Se não me submeto ao poderio norte-americano, tampouco aceito ordens de ditadores.
Fidel nos deve explicações a respeito de sua identificação com os estados policiais que o comunismo gerou. Hoje toda a esquerda silencia sobre a Coréia do Norte, como silenciava sobre a União Soviética na minha juventude.
A canção “Base de Guantánamo” não seria composta se eu não tivesse a evidência de que nos Estados Unidos há respeito aos direitos dos cidadãos como não se vê em Cuba.
A decisão da Suprema Corte americana, reconhecendo o direito a habeas corpus aos prisioneiros de Guantánamo é expressão disso.
Tampouco seria possível a canção sem o valor simbólico que a revolução cubana tem em nossas mentes. Lembro de ter sentido, quando excursionava com Fina Estampa, que a tragédia de Cuba (com liberdades cerceadas na ilha e uma população inimiga do regime atuando em Miami) era mais vital do que a segurança dessangrada de Porto Rico.
Tenho idéias e reações emocionais complexas.
Não aceito pacotes fechados. O texto de Fidel é autocongratulatório, prolixo e injusto. Sobretudo com Yoani Sánchez, a cubana que mantém o blog “Generación Y”
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