Por Ipojuca Pontes
Política
09/06/2005
09/06/2005
O que chama mais atenção tem sido a insistência das elites pensantes em procurar manter a imagem do antigo metalúrgico, alçado à presidência da República, infensa e imune ao cenário de corrupção e crimes que o circunda.
"Eu me invoquei, um monte de serviço pra fazer, dia de sábado, e eu falei, sabe de uma coisa, não vou fazer merda nenhuma. O cara (patrão) me deu dinheiro pra eu almoçar, pra fazer hora extra, eu peguei o dinheiro, pus no bolso, disse vai tomar no (CENSURADO), que eu não vou trabalhar porra nenhuma" – Lula, o metalúrgico, em depoimento ao repórter Mário Morel, na "Anatomia de uma liderança" (Nova Fronteira, Rio, 1989).
Há tudo de podre no reino espúrio do Planalto.
Lula, Delúbio Soares, políticos da "base aliada" e o PT transformam a vida nacional numa espécie de espetáculo grotesco, com transbordamentos de farsa barata, muito mais agressivo do que os dramas (trágicos) montados por Gregório Fortunado, o "Anjo Negro" do governo de Vargas, em 1954, e pelo tesoureiro de campanha da tumultuada gestão de Collor de Mello, o PC Farias, no início dos anos 90.
Quem faz a implosão de "quase tudo", agora, mostrando as vísceras do organismo governamental apodrecido, é o homem-bomba Roberto Jefferson, o "parceiro solidário" do companheiro Lula, o regente da ópera bufa que acumula e faz ecoar, com notas estridentes, as cenas sucessivas de escândalos, roubos, mentiras, traições e até suspeitas de assassinatos.
De fato, vive-se no Planalto, nos dias que correm, a experiência de um frenético Grand Guignol ao alcance de todos – o que, em termos comparativos, torna a Dinamarca do príncipe Hamlet (cenário shakespeareano de apropriações indébitas, incestos, envenenamentos e loucuras desenfreadas) um reino de decência, tranqüilidade e honradez.
O que chama mais atenção em tudo tem sido a insistência das elites pensantes em procurar manter a imagem do antigo metalúrgico, alçado à presidência da República, infensa e imune ao cenário de corrupção e crimes que o circunda.
Estaria a nação anestesiada?
O fato concreto é que os chamados "formadores de opinião" e os eternos políticos de plantão, do baixo e do alto clero, estão todos ávidos em proclamar, diante da catástrofe, a inocência de Lula:
O próprio chefe da Casa Civil, Zé Dirceu, o ex-patrão de Waldomiro Diniz que prevê para Lula (e a respectiva patota "socialista") o mínimo de 12 anos de mando e boa-vida no poder, fez da expressão "o governo não rouba nem deixa roubar" um estribilho inócuo e vazio – mas que procura evidenciar, como a imagem do Cristo em quarto de prostituta, a candura do chefe da nação.
Mas a realidade é bem diferente e o simples retrospecto histórico, no levantamento de fatos, nos leva a crer que de inocente Lula não tem nada.
Por exemplo: já nos anos da ditadura militar - que tornou inviável a ação política do Partido Comunista e viabilizou (também economicamente) a emergência de Lula e seu sindicalismo partidário - o então ministro do Trabalho do governo Figueiredo, Murilo Macedo, após trazer o ambicioso líder sindical de helicóptero à sua casa (em Atibaia), reagiu, diante das exigências pecuniárias do outro:
- "Ô Lula, eu não vou te dar mais um tostão, porque se eu der, você vai querer ser presidente da República" (Idem, pág. 72).
Caso mais degradante foi o de Paulo de Tarso Venceslau, antigo guerrilheiro da ALN (um dos responsáveis pelo seqüestro do Embaixador Elbrike), economista e administrador das finanças de duas prefeituras petistas (Campinas e S. José dos Campos) nos anos 90: ao descobrir que o empresário Roberto Teixeira, compadre e hospedeiro de Lula estava por trás de operações fraudulentas que envolviam cifras públicas em torno de US$ 16 milhões, o secretário Paulo de Tarso, ao invés de ceder à pressão de dirigentes petistas, instalou uma comissão de sindicância e, com ela, sustou a vultosa falcatrua armada pelo compadre de Lula.
E fez mais: ao saber que estava sendo considerado pelo então presidente do PT como "criador de problemas", buscou e manteve entrevista pessoal com o atual presidente da República, quando explicou, com riqueza de detalhes, que Roberto Teixeira estava desviando de forma criminosa dinheiro da prefeitura de S. José dos Campos.
Segundo o secretário petista, Lula, depois de ouvir o escabroso relato, considerou-o "grave" e disse que ia "procurar uma solução" (Jornal da Tarde 26/05/97).
A solução encontrada pela presidência do PT foi exonerar Paulo de Tarso Venceslau do cargo de Secretário das Finanças da Prefeitura de S. José dos Campos.
Para acúmulo das evidências em contrário, há também o fato singular de Lula da Silva, mesmo depois de eleito presidente da República, ter visitado, segundo testemunhos da vizinhança, o apartamento de Waldomiro Diniz, outro homem-bomba do governo petista - antes, porém, verdade seja dita, das tristes manchetes que levaram o ex-assessor parlamentar e sub-Chefe da Casa Civil do governo ser considerado pela Deputada Luciana Genro, filha do ministro da Educação Tarso Genro, a "ponta do iceberg da podridão" no Planalto.
Em meio ao pânico nas hostes do governo, ministros e áulicos se confundem, se chocam e entrechocam com opiniões contraditórias num cenário de escombros.
O apatetado líder do governo no Senado, Aluízio Mercadante, por exemplo, diz que Lula nunca recebeu informação de Jefferson de que Delúbio repassava o "mensalão" de R$ 30 mil aos deputados da "base aliada", para logo depois ser desmentido por Aldo Rebelo, o ministro da Coordenação Política, que confirmou ter Lula recebido a informação da existência da propina pelo líder do PTB, ainda que de "forma genérica e de passagem".
O grande medo, o supremo e real temor que paira sobre Brasília é o de se perder a grande boca do dinheiro fácil do Estado, a cornucópia infalível que leva a patota do Poder ao Paraíso terrestre em meio ao inferno geral que assola o País.
A melhor explicação para a vigência do sistema corrupto instituído pelo PT, curiosamente, ainda é a formulada pelo próprio Jefferson, o homem-bomba que detonou de vez o governo Lula:
"É mais barato pagar o exército mercenário do que dividir o poder.
É mais fácil alugar um deputado do que discutir um projeto de governo.
Quem é pago (corrompido) não pensa".
Nem Cícero, o senador da decadente Roma, diria melhor.
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