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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O novo PT de sempre


 Editorial

 

Estado de S.Paulo

"O PT sempre foi muito cioso na defesa da aplicação correta dos recursos públicos e do combate à corrupção."

Essa afirmação do presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, deputado Ruy Falcão, em declarações à TV Estadão, é um espanto.

Na entrevista concedida para dar conta das decisões da reunião do diretório nacional do partido realizada no último dia 5 no Rio de Janeiro, a frase de efeito de Falcão é coerente com o discurso que vem sendo feito pelos petistas desde a fundação do partido, há mais de 30 anos.

E foi com esse discurso que o lulopetismo chegou ao poder em 2002.

Mas a realidade que transparece depois de dois mandatos presidenciais consecutivos, e se apresenta hoje como uma verdadeira herança maldita para a presidente Dilma Rousseff, é que o PT no poder, em nome de uma capciosa governabilidade, rebaixou ao nível do mais baixo fisiologismo o jogo político e a arquitetura do arco de alianças que desde a ascensão de Lula dá apoio ao governo.


O resultado está, diariamente, no noticiário: uma sucessão sem fim de denúncias de corrupção nos mais altos escalões da máquina administrativa e uma inevitável "faxina" que, pelo andar da carruagem, não poderá ficar restrita ao Ministério dos Transportes.

A afirmação de Ruy Falcão é, portanto, apenas retórica.

O mesmo tom, aliás, permeia todo o documento do diretório nacional do PT, numa clara tentativa de resgatar a imagem de partido "ideológico" que se dissipou ao longo de dois mandatos presidenciais marcados pelo pragmatismo nas alianças políticas.

Como no plano nacional a situação política é delicada, o documento preferiu dar ênfase às questões internacionais.



Sob o título geral O Brasil frente à crise atual do capitalismo: novos desafios, a primeira parte do documento se dedica a questões menos incômodas do que as sucessivas crises que o governo petista tem enfrentado.

"A crise internacional - que é o subtítulo dessa primeira parte - está associada ao ideário e ao programa neoliberal", cujos defensores são "setores da oposição, da mídia e dos setores do grande capital, especialmente o financeiro".
Nenhuma referência, é claro, ao fato de toda a política econômica da administração petista ter-se baseado nos mesmos fundamentos "neoliberais" que promoveram o fim da inflação e a estabilidade econômica nos governos Itamar e FHC.

O foco, com o maniqueísmo de sempre, está no combate ao Mal, com extrapolações que desviam as atenções para bem longe da realidade brasileira:

"O PT expressa sua solidariedade aos jovens, aos trabalhadores, aos migrantes e a todos os setores que combatem o neoliberalismo e repudia o nacionalismo de extrema direita, que mostrou sua verdadeira face no atentado ocorrido recentemente na Noruega".

Em sua segunda parte, o documento petista desembarca, finalmente, no País.

E, desde logo, deixa claro a que vem:

"O programa de desenvolvimento do País levado a efeito pelo governo Lula projetou o Brasil no mundo, na medida em que se constituiu em alternativa efetiva às políticas neoliberais".




E vai em frente mencionando as medidas "necessárias à ampliação das condições de financiamento do Estado"; diz que "parte do processo de democratização do Estado brasileiro depende, em grande medida, da realização da Reforma Política" - que não detalha - e sinaliza que o "controle social" da mídia ainda é meta a ser atingida:

"Vem aí, neste segundo semestre, o debate sobre o novo marco regulatório dos meios de comunicação. Para o PT e para os movimentos sociais, a democratização dos meios de comunicação no País é tema relevante e um objetivo comum com os esforços de elaboração do governo Lula e os resultados da I Conferência Nacional de Comunicação".

Finalmente, nas duas últimas de suas 201 linhas, o documento faz rápida menção aos escândalos de corrupção que o governo petista enfrenta no momento:

"O Diretório Nacional do PT manifesta, por fim, seu apoio às medidas que o governo Dilma - dando continuidade ao que fazia o governo Lula - adota contra a corrupção".


Basta.


10 de agosto de 2011


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