Por Guilherme Fiuza
Barack Obama lamentou ter chegado ao Rio de Janeiro depois do carnaval.
Não seja por isso.
Não há nada mais carnavalesco do que a sua chegada.
No grande coquetel de espuma e purpurina de que é feita a diplomacia internacional, uma alegoria se destaca na visita do presidente americano: a discussão sobre uma vaga para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU.
É mesmo um tema crucial. Com essa vaga, os brasileiros finalmente mostrarão ao mundo quem são.
E quem são?
São os bons e velhos pedintes, especialistas na arte de se candidatar a uma boquinha aqui e acolá. De preferência, aquelas que não exigem currículo do candidato.
Nos coloquemos no lugar dos atuais membros do Conselho de Segurança, diante da questão de abrir uma vaga para o Brasil. Quais são as credenciais do candidato a integrar o clube dos que arbitram os conflitos do mundo?
São credenciais fortes. De saída, o Brasil é o país que apóia o programa nuclear clandestino do Irã, e se tornou aliado político do tarado radioativo de lá. Como se sabe, a radioatividade está na moda. Ponto para nós.
Também é o Brasil aquele que, nos últimos anos, andou de mãos dadas para cima e para baixo com Muammar Kadafi – o nome que mais inspira segurança ao mundo no momento. Mais uma credencial eloqüente.
Foi o Brasil que se meteu em Honduras, fazendo da sua embaixada um spa para o presidente deposto e seus amigos tocarem violão e sonharem com Che Guevara, enquanto jogavam pedras nos passantes. Foi a intervenção diplomática mais inócua da história, mas fez a alegria do coronel Hugo Chávez, outro símbolo do pacifismo tarja preta.
É também o Brasil, e seu governo popular, o principal fiador latino-americano do regime de Fidel Castro.
Como se vê, Obama e o Conselho de Segurança da ONU têm todos os motivos para abrir uma vaga ao Brasil.
A paz mundial não pode esperar mais um minuto por esse novo árbitro altamente qualificado.
E o Brasil?
Por que quer tanto essa vaga?
De onde vem tal convicção de que precisamos definitivamente figurar nesse fórum de potências militares, participando de suas decisões bissextas e eventualmente inúteis?
Não se sabe ao certo. Alguém deve ter soprado à diplomacia brasileira que o jetom é gordo.
Além do habitual chororô pró-forma sobre barreiras comerciais, e da inevitável macumba para turista, a recepção a Barack Obama serviu para se escrever mais um capítulo dessa novela surrealista do Conselho de Segurança.
O presidente americano nem precisou escutar o batuque para sair com a certeza: este é o país do carnaval.
20/03/2011
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