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sexta-feira, 18 de março de 2011

O PT e os EUA: da altivez servil ao servilismo altivo


O PT e os EUA: da altivez servil ao servilismo altivo



É curiosa a reação de certos leitores, alguns deles se dizendo internautas habituais do blog, porém decepcionados com certas coisas que tenho escrito sobre Barack Obama. Fazer o quê? Escrevo nesta página o que penso, não o que me renda popularidade necessariamente.

De resto, ninguém tem o direito de se decepcionar comigo porque não sou um obamista juramentado, não é mesmo? Nesse caso, eu só decepcionaria alguns se os surpreendesse… Outros ainda, porque discordam do que lêem, atrevem-se a fazer um diagnóstico: “Acho que você está perdido…”

Eu? Perdidos estão os que consideraram a guerra do Iraque um crime e agora torcem por bombardeios na Líbia. Mas essa é matéria para o post abaixo. Escrevo daqui a pouco. O assunto agora é outro.

Já tinha marcado aqui na minha agenda desde terça: “Escrever um texto na madrugada de quinta para sexta esculhambando a decisão de Obama de discursar na Cinelândia”.

No Globo de hoje, o colunista Ancelmo Gois informa que o evento foi cancelado. Segundo o jornalista, o presidente americano falará a um público menor, dentro do Teatro Municipal.

Haverá concentração do lado de fora, telões, essas coisas?

Ele aparecerá na sacada para acenar à multidão?

Não sei.

Mesmo Ancelmo estando certo, cumprirei o que vai na minha agenda.

Que a marquetagem do presidente americano tenha tido tal idéia, vá lá. Que o governo brasileiro tenha aceitado a proposta de bom grado e vibrado, com indiscreto servilismo, aí já é de amargar.



Que coisa esses petistas, não?

Ou são antiamericanos rombudos, malcriados, bucéfalos, exercitando um antiamericanismo primitivo, ou se comportam como subordinados deslumbrados, tietes abestalhadas pela celebridade. Parte considerável da imprensa não age de modo muito diferente.

Há uma espécie de gratidão embevecida no ar, de satisfação com o que parece ser um ato generoso e desprendido de Obama.

Tenham paciência! Custa manter uma relação, digamos, adulta com outro país?


Pronunciamentos assim são inéditos na história? Em 2008, o então candidato Obama discursou a estimadas 200 mil pessoas em Berlim, seguindo as pegadas de John Kennedy, que, 45 anos antes (vídeo abaixo), em junho de 1963, havia falado em praça pública na então Berlim Ocidental. A cidade era um enclave democrático dentro da Alemanha Oriental, comunista.

E Kennedy mandou ver: “Todos os homens livres, não importa onde vivam, são cidadãos de Berlim. Por isso, como um homem livre, eu tenho orgulho destas palavras: ‘Ich Bin Ein Berliner’” — “Eu sou berlinense”. Vale a pena ver o filme, bem curto.



Coisa de gênio político! A causa de Obama já era um tantinho menor. Seu inimigo era interno. Foi ao país para marcar uma diferença com o dito unilateralismo de George W. Bush e pregou um mundo com menos muros e tal. Coisa de gênio do marketing. Afinal, o muro de um era fato; o do outro, metáfora.

Nota à margem: a Alemanha se absteve no Conselho de Segurança da ONU e já se disse contrária ao ataque à Líbia.

Sigamos: o Kennedy presidente tinha um motivo forte; o Obama candidato, um mero pretexto — mas, ao menos, ainda não estava no poder.

A decisão, tomada de comum acordo com o governo brasileiro, de discursar na Cinelândia era — tomo como fato que tenha sido cancelada — um absoluto despropósito. Como justificá-la? Segundo qual entendimento de política externa ou da relação entre dois estados soberanos?


Por que haveria Obama de “falar aos nativos”?
Essa prerrogativa será concedida apenas ao presidente dos EUA ou, doravante, ofereceremos a praça a todo chefe de estado que aqui chegue e tenha algo a dizer?

Confirmando-se o cancelamento, pode ser que um pouco de bom senso tenha triunfado do lado de lá ou de cá. Pode ser também que o Obama pacificador não tenha querido ver sua imagem contrastada com a guerra na Líbia, que já pode estar quente no domingo.


Pensei cá comigo: “Ninguém mais vai estranhar o discurso?”

Não! Ninguém estranha mais nada. Estaríamos já vivendo no Paraíso — ao menos o das idéias?
Será ele chato assim, com as pessoas boas dizendo mais ou menos as mesmas coisas, a repetir as verdades oficiais, num céu, então, sem paixões, com todo mundo convergindo para o centro?

Se for, já penso em arrumar um cantinho no inferno… Há uma cena do filme Amarcord — e não estou dando salto nenhum, leitor! —, de Fellini, de que gosto muito (eu sou apaixonado pelo filme todo, na verdade).

O velhinho, o avô meio doidinho da família, perde-se num nevoeiro na porta de casa, é tragado pela nuvem branca, desespera-se. “Se a morte é assim, não é coisa boa. Tudo desapareceu: as pessoas, as árvores, os pássaros, o vinho…” E dá uma banana pra feiosa; na verdade, manda para aquele lugar! Até que alguém o salva. Vejam a cena.



Uma espécie de nuvem desceu sobre nós. Os contrastes e contornos se foram, não se distingue nada. E isso, a muitos, parece bom.

Paraíso ou morte da inteligência?


Imaginem FHC franqueando a Cinelândia para um presidente americano discursar…

Um certo Indalécio Wanderley da Silva, secretário de Movimentos Populares do PT do Rio, chegou a defender protestos contra a visita de Obama. O presidente estadual do partido, Jorge Florêncio, divulgou nota em que, na prática, proíbe militantes do partido de participar de qualquer “go home”.

Segundo Florêncio, a vinda de Obama deve ser encarada como importante passo para afirmação dos interesses políticos e comerciais dos dois países. Também seria uma oportunidade de consolidar uma imagem positiva do Rio no exterior.




A conclusão é a seguinte: assim como um petista é sempre virtuoso mesmo quando criminoso, e um não petista, sempre criminoso mesmo quando virtuoso, um não-petista será sempre servil aos interesses americanos mesmo quando altivo, e um petista será sempre altivo mesmo quando servil.

Como não fui tragado por nuvem nenhuma, então escrevo!

É simples assim.

18/03/2011

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