O mito em declínio na praça
Por Reinaldo Azevedo
O presidente dos EUA, Barack Obama, fará um discurso na Cinelândia no domingo.
Pois é…
O Babalorixá de Banânia sempre achou que o presidente americano tinha uma certa inveja da sua popularidade.
Será que isso tem uma pontinha de verdade?
Em troca, ele deveria exigir a oportunidade de falar a milhões de americanos em frente ao Capitólio. Seria uma troca justa…
Dizer o quê?
As chances de Obama ser ovacionado pelas massas são maiores hoje no Brasil do que nos EUA. Por lá, definitivamente, ele não é “o cara”. Discurso na Cinelândia, é?
A minha profecia de quando Obama era ainda um pré-candidato do Partido Democrata está se cumprindo: ele tem, assim, um jeito bem Terceiro-Mundo de fazer política. Fosse Dilma Rousseff, eu tomaria um banho de sal grosso.
O última discurso estrepitoso do presidente americano em solo estrangeiro — com transmissão para quase todo o mundo muçulmano — se deu na Universidade do Cairo, no dia 4 de junho de 2009. Hosni Mubarak, o então principal aliado dos EUA no Oriente Médio, estava forte como uma rocha… Não faz dois anos!
Obama falará na Cinelândia, irá ao Corcovado e, consta, visitará Cidade de Deus para conhecer uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Internamente, sua presença será explorada como a reaproximação do Brasil com os EUA, mais um sinal de uma mudança de prioridade na política externa brasileira etc.
A mudança até pode estar em curso, mas não por isso.
A visita vinha sendo planejada havia bastante tempo.
O governo americano achou melhor que ela ocorresse depois da eleição.
O presidente dos EUA certamente fará um de seus discursos contundentes, grandiosos, com aquela sua vocação para olhar o infinito, com queixo de estátua. Se retórica e “porte” ajudassem a governar o país — no seu caso, uma boa parte do mundo —, ele certamente seria o grande destaque da Casa Branca desde John Kennedy. Mas não ajudam.
Falar na Cinelândia evidencia que Obama continua a ser, sem dúvida, o rei do marketing, um político formado já na era das celebridades. A exposição é mais sintoma de uma crise do que expressão de uma fortaleza.
O que terá acontecido, por exemplo, a Muamar Kadafi no domingo?
Estará levando uns piparotes da Otan?
Seus aviões terão sido derrubados pelos EUA para fazer cumprir uma eventual zona de exclusão aérea?
Terá sofrido um golpe de estado desfechado por militares ou, para desânimo quase geral, estará botando para correr o governo oposicionista de Benghazi?
Seja lá como for, Obama já deixou a marca, a um só tempo, da precipitação e da hesitação; da parolagem excessiva e da inação.
Foi ligeiro para mandar antigos aliados às favas; está sendo paquidérmico na tentativa de costurar uma saída.
O presidente americano tem se mostrado ruim pra chuchu em matéria de mundo real; seu discurso, não obstante, está sempre pleno daqueles amanhãs gloriosos, de que voltaremos a ter notícia no domingo.
Um líder em precoce declínio busca na praça de um país da América Latina, que está longe de ser uma de suas prioridades, ecos daquela onda quase mística que o levou ao poder.
O Lula de verdade acredita ser mesmo o Lula de ficção.
É bem possível que Obama também acredite ser Obama…
Ah, sim: seu discurso será fatalmente “histórico”!!!
15/03/2011
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