O cartaz que promove a visita de Obama ao Rio de Janeiro
O BRASIL RECEBE BARAK OBAMA
COMO UM HERÓI
COMO UM HERÓI
Carlos Pagni - LA NACION
TRADUÇÃO DE FRANCISCO VIANNA
TRADUÇÃO DE FRANCISCO VIANNA
As características da viagem que Barack Obama empreenderá amanhã ao Brasil deixarão claro por que certos países, como a Argentina e o Uruguai, por exemplos, não foram incluídos no roteiro do Presidente americano.
Obama também irá ao Chile e estará com Sebastián Piñera, lançado à fama pelo cinematográfico resgate dos mineiros, e depois irá a El Salvador, onde se encontrará com Mauricio Funes, um ex-guerrilheiro que, como aliado de Washington, é a contra cara de Daniel Ortega, o sandinista comunista que preside a Nicarágua.
Mas, é na espetacular estada no Brasil onde serão conhecidos os objetivos de Obama, e algo mais importante: o relevante movimento de peças que está ocorrendo no tabuleiro do xadrez regional.
A recepção que está sendo preparada para Obama no Brasil terá características poucas vezes vistas. Poderá ser comparada com uma viagem do Papa. Ou, melhor ainda, com a chegada de uma estrela do rock.
O convidado de Dilma Rousseff não pisará na muito empresarial São Pablo e permanecerá só sábado em Brasília, com uma agenda de estado. Caso as coisas saiam como previu a sua equipe, será no Rio de Janeiro, no domingo, onde a peregrinação ficará justificada.
Os muros do Rio já estão cheios de cartazes onde a cara do líder democrata americano se superpõe, com seu sorriso característico, às silhuetas do Corcovado e do Pão de Açúcar.
Na parte de baixo do cartaz, combinando as cores das bandeiras, brasileira e norte-americana, onde se lê: "Presidente Barack Obama fala ao povo brasileiro. Venha dar-lhe as boas vindas". A mensagem termina inesperadamente com a frase: "Entrada gratuita".
Obama discursará para uma multidão na Cinelândia, a praça do centro histórico da cidade, cenário tradicional de grandes mobilizações cariocas. O esforço de Tom Shannon – embaixador no Brasil – em garantir a seus superiores a afluência de uma multidão é insólito.
Para divulgar o ato, escolheu os programas mais populares da TV brasileira. Nada de usar noticiosos ou ‘talk shows’. A convocação foi feita nos estridentes ‘Domingão do Faustão’, no ‘Fantástico’, e no ‘Domingo Espetacular’, programas populares que, em tom de farra, animam as tardes domingueiras.
A ‘festa de Obama’ vai parecer um prolongamento do carnaval. A embaixada inaugurou um website, o www.obamabr.org, onde os internautas são induzidos a enviar mensagens de boas vindas, escritas ou filmadas, ao visitante.
O texto considerado ‘mais original’ será premiado com um iPad. O segundo colocado, com um iFone.
O terceiro receberá uma "menção honrosa", que consiste no envio de um livro do ‘professor’ Obama.
O governo do estado do Rio colabora com os diplomatas e faz uma campanha proselitista através do Facebook.
O presidente dos Estados Unidos, apresentado como uma estrela ‘pop’, repetirá o que ocorreu com outras celebridades: uma foto sob o Cristo Redentor e um ‘tour’ por alguma favela mais ou menos apresentável e, principalmente, sob o estrito controle da polícia ‘pacificadora’, onde assistirá batucadas e exibições de capoeira.
O FBI se encarregou da escolha dos lugares por onde Obama e família circularão sob fortíssimo aparato de segurança: Cidade de Deus, a favela vizinha à Barra da Tijuca, que tornou famoso o cineasta Fernando Meirelles, em 2002, com seu célebre filme.
Talvez Obama, que estará acompanhado de sua mulher e suas duas filhas, tivesse preferido visitar o morro da Mangueira, a favela que inspirou Orfeu Negro, o filme que deixou sua mão tão impactada em 1959, segundo ele conta em suas memórias.
Mas a segurança sobrepujou seus sentimentos.
UMA QUESTÃO DE IMAGEM
A Casa Branca pretende desligar por um momento a imagem de Obama dos seus dissabores na política doméstica – que tem crescido após a perda das eleições legislativas intermediárias em novembro último - e da imagem internacional, pela crise no Oriente Médio que exige dele uma liderança mais decisiva e categórica.
Trata-se também de demonstrar que o antiamericanismo não é – como quer fazer crer a esquerda liderada pelo ‘credo bolivariano’ – um sentimento unânime na América latina.
Ao contrário, um presidente dos Estados Unidos pode circular pelas praças, ruas e favelas, e atrair multidões, num país ainda com altos níveis de pobreza e governado por uma esquerda oportunista e fisológica, prova o contrário.
Na verdade, a maioria dos brasileiros, no fundo, admira os EUA e gostaria que seu país estivesse como o deles.
E, claro, o Brasil oferecerá a Obama uma vantagem: 50% da população são de afro-descendentes.
HISTÓRICO
O invólucro espetacular da viagem de Obama ao Brasil está de acordo com a agenda que dominará as reuniões.
A "histórica visita", como a embaixada dos EUA a chama em sua página na web, é o relançamento de uma relação bilateral que durante o segundo governo de Lula da Silva tinha, no mínimo esfriou, graças às trapalhadas do chanceler Celso Amorim, cuja atuação à frente do Itamaraty foi sempre ideologicamente servil ao que decidia o Foro de São Paulo.
Roussef parece ter posto – pelo menos por enquanto – um basta nessa atitude contrária aos melhores interesses brasileiros, ao substituir o ‘barbudinho vermelho’ por Antônio Patriota, um diplomata de carreira de quem provavelmente espera que vá consertar os estragos feitos nos últimos oito anos.
Deve ter dito ao MAG (Marco Aurélio Garcia – coordenador vitalício do FSP e “assessor especial para assuntos internacionais” -, um comunista de carteirinha, que ficasse quieto em seu canto e a deixasse governar, e, com isso, pavimentou o caminho dessa reaproximação com Washington e com o “socialista” (?) Obama.
Antes de assumir a presidência, Dilma declarou que no seu mandato suspenderá o idílio de Lula com o Irã (e, provavelmente com Chávez também), o que foi um fator principal de discórdia com o núcleo vermelho do PT.
A desculpa para a vinda de Obama não poderia ser mais correta: como militante feminista, não pode tolerar o menosprezo do regime fascista iraniano pela mulher.
Para que a mudança fique clara, a antiga revolucionária que hoje preside o Brasil designou um chanceler cujo histórico não está atrelado à ideologia vermelha.
A ‘reconciliação’ será selada com dinheiro.
No que se refere ao comercio bilateral os investimentos serão incessantes e decididos durante a permanência do presidente americano no Brasil.
Entre outras coisas, porque deve justificar a sua ausência em Washington quando o terremoto japonês e a rebelião arábica têm uma expressão global.
Michael Froman, conselheiro econômico da Casa Branca, explicou que o périplo de Obama não podia ser suspenso porque faz parte dos esforços do presidente para recuperar a economia de seu país.
Há algo de lógico nessa alegação, pois as exportações estadunidenses à região, sobretudo ao Brasil, cresceram 86% entre 2004 e 2009, e se duplicarão nos próximos cinco anos.
Um milhão de norte-americanos tem seus empregos vinculados a esse fluxo de comércio exterior.
O aspecto econômico da viagem também está evidente pela própria comitiva do presidente. Virão com ele o Secretário do Tesouro, Timothy Geithner; o representante de Comércio Exterior, Ron Kirk; a responsável pelo meio ambiente, Lisa Jackson, e o Secretário de Energia, Steven Chu.
Estes funcionários de primeiro escalão pensam – e assim têm dito – que a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, serão uma grande oportunidade para as empresas norte-americanas.
Há economistas sul-americanos que afirmam: "O real não se desvalorizará pela avalanche de dólares que o Brasil receberá graças ao seu calendário esportivo".
Mas Dilma Roussef, velha guerrilheira, quer ir mais além do comércio. Falará com Obama, também, sobre armas. Ao chegar ao poder, postergou a licitação para a reequipagem da FAB, um negócio de 8 bilhões de dólares, que os americanos não estão dispostos a perder para os franceses da Dassault, privilegiada por Lula, também, influenciado por fatores ideológicos e anti-americanos de seus assessores do FSP.
0 comentários:
Postar um comentário