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quinta-feira, 17 de março de 2011

Kadhafi está vencendo

LIBIA

Tudo o que não podia acontecer na Líbia está acontecendo: o ditador Muamar Kadhafi está voltando a controlar o país esmagando militarmente os rebeldes.

A onda libertária no mundo árabe está sendo desestimulada pelo poder de resistência e violência desmedida do líbio, que sempre se disse invencível.

Agora se não houver uma intervenção militar ocidental urgente o mundo assistirá a um banho de sangue.


Foto: Roberto Schmidt/AFP/Getty Images

Antiga bandeira Líbia, rejeitada pelos rebeldes, tremula na região do porto petrolífero de Ras-chave, simbolizando o retorno do controle de Kadhafi na região, depois de intensos combates


Ultimamente, devido a outros acontecimentos internacionais, o noticiário sobre a Líbia ficou em segundo plano. Mas dentro do território do país norte africano há uma sangrenta guerra civil em curso.

De fora, a impressão que se tem é que o ditador Muamar Kadhafi, no poder há 42 anos, está minando eficientemente a resistência dos rebeldes e retoma gradualmente o controle do país. O ditador líbio está usando o exército regular, inclusive a força aérea, mais mercenários estrangeiros, sem economizar em violência ou ferocidade, para esmagar os revoltosos.

A resistência está em desvantagem numérica e luta sem armamento suficiente com um exército improvisado, mesclado de desertores das forças armadas líbia e cidadãos que pegam nas armas pela primeira vez.

As últimas notícias dão conta que depois de retomar a cidade de Ras Lanuf, importante porto petrolífero e reduto rebelde mais avançado na região leste da Líbia, as forças fiéis ao ditador Muamar Kadhafi partiu em direção a Bengazi, outro importante reduto em poder rebelde.

Assegura-se que em 24 horas, as forças de Kadhafi avançaram 150 km, retomando Al-Uqaila, a cidade portuária de Ras Lanuf, a 650 km de Trípoli e Brega. Nesta terça-feira a forças aéreas fiel ao ditador bombardearam novamente a cidade de Ajdabiya, a última grande cidade em poder dos rebeldes.

A televisão estatal anunciou ontem que "a calma já foi restabelecida" nos portos e pediu que empresas estrangeiras voltem a enviar seus navios petroleiros ao país.

Segundo agências de notícias, aos gritos de "Alá é grande!", rebeldes abandonavam a cidade de Brega em veículos que transportavam baterias antiaéreas para se posicionar nos arredores de Ajdabiya. A televisão estatal líbia anunciava ontem a "limpeza" de Brega.

A Liga Árabe, no último fim de semana, decidiu pedir ao Conselho de Segurança da ONU a adoção de uma zona de exclusão aérea na Líbia, o que impediria que aviões e helicópteros fossem usados contra os opositores do governo de Muamar Kadhafi. As tropas governamentais continuam a ganhar terreno e cercaram Ajdabiya. Misrata, a oeste, foi também alvo de ofensivas terrestres e as tropas de Kadhafi preparam-se para tomar de assalto a capital rebelde, Benghazi.

Saif al-Islam Kadhafi, filho mais velho de Muammar Kadhafi e mais provável sucessor do pai, disse ontem que "tudo terá acabado em 48 horas", em entrevista à Euronews.

Saif al-Islam acusa ainda o presidente francês, Nicolas Sarkozy, a mais forte voz contra o regime de Kadhafi, de ter usado dinheiro líbio para financiar a campanha presidencial de 2007 e ameaça que se não lhe devolver o dinheiro divulgará as provas das transferências bancárias.

"Nós financiamos (a campanha). Temos todos os pormenores e estamos prontos para revelar tudo. A primeira coisa que queremos que esse palhaço faça é devolver o dinheiro aos líbios", disse Saif al-Islam à estação francesa de televisão. O governo Francês não comentou as acusações.
Foto: Reuters

Khadafi teria determinado a queima de corpos dos rebeldes mortos para apagar provas da mortandade massiva

Com a continuidade da repressão violenta dos manifestantes, fala-se em 10 mil mortos e 50 mil feridos, começam a surgir rumores de tentativas do regime para apagar as provas do massacre. O jornal "El País" citava ontem várias testemunhas, líbias e espanholas residentes na Líbia, que assistiram "corpos a serem levados por forças de segurança" para "aparentes valas comuns". Há rumores de que corpos estão sendo queimados para apagar as provas do massacre.

Na ONU a França, o Líbano e o Reino Unido, os únicos signatários a favor da proposta de uma zona de exclusão aérea na Líbia, capaz de deter a fúria de Kadafi, através de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, finalmente começaram a contar a partir de ontem, com o apoio do governo americano.

Washington finalmente resolveu apoiar a implementação da zona de exclusão aérea e pediu aos restantes membros do Conselho que tomassem uma decisão rápida. Hillary Clinton defende que a resolução não pode demorar para além de quinta-feira. Também Sarkozy pediu ontem, através de uma carta ao Conselho, mais celeridade na tomada de decisão.

As negociações diplomáticas para chegar a um acordo sobre a zona de exclusão aérea têm- -se multiplicado nos últimos dias. O projeto, que inclui também operações terrestres na Líbia, foi apresentado na terça-feira aos países-membros do Conselho.

O presidente russo, Dmitri Medvedev já fez saber que se opõe à medida, alegando que as operações terrestres seria o inicio de uma guerra com envolvimento de contingente internacional contra o governo Líbio. Como Moscou tem poder de veto no conselho de segurança da ONU, se a linha russa não mudar de rumo, a possibilidade de uma intervenção das Nações Unidas no conflito, vai acabar arquivada ou postergada indefinidamente.

Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU, falou ontem na necessidade de um cessar-fogo entre ambas as forças envolvidas no conflito e aproveitou para criticar o "uso continuado de força militar contra civis" na Líbia.

A Cruz Vermelha Internacional mandou evacuar os seus efetivos de Benghazi e pede, num comunicado, aos rebeldes e às forças do regime que poupem os civis e o pessoal médico.


Foto: New York Times/Asso​ciated Press

Os jornalistas do jornal The New York desaparecidos na Líbia: a fotógrafa Lynsey Addario, o reporter Stephen Farrell, o fotógrafo Tyler Hicks, e o chefe do escritório do The New York Times, em Beirut, Anthony Shadid (vencedor do premio Pulitzer)

O jornal "The New York Times" noticiou que está há dias sem contato com quatro dos seus jornalistas enviados à Líbia, sequestrados pelas forças do regime. Tanto Stephen Farrell - que já tinha sido sequestrado pelos talibãs, em 2009, no Afeganistão - como outro jornalista, Anthony Shadid, e os fotógrafos Tyler Hicks e Lynsey Addario se encontram em local incerto. A última vez que contataram a redação do diário norte-americano foi terça-feira.

Enquanto isso uma reportagem de Michael Georgy e Maria Golovnina, direto de Trípoli para a Reuters, diz “os negócios nunca estiveram tão bons para Abdul Basit Sawaan, gerente de uma loja que vende fardas para apoiadores do líder líbio, Muammar Kadhafi”.

Se no leste do país os rebeldes enfrentam ferozmente as tropas “Em Trípoli, a capital, muita gente, como Sawaan, já aposta numa vitória do veterano governante, no poder desde 1969.

Falando sob um grande retrato do líder, Sawaan disse que sua empresa recebeu um impulso inesperado no mês passado, quando apoiadores de Kadhafi se reuniram na sua loja para comprar equipamentos do Exército.


Foto: Getty Images

Tropas de Kadhafi patrulham a capital Tripoli sem enfrentar resistência

"Há muitos voluntários querendo lutar contra os terroristas", disse Sawaan, enquanto assistentes levavam coturnos e fardas cáqui para dentro da loja. "Tenho certeza de que Kadhafi vai vencer."

Em Trípoli, as ruas são patrulhadas por temíveis milícias, e muitos parecem estar silenciosamente resignados com a permanência de Kadhafi. E, como muitas empresas dependem do sistema vigente, o conceito de invencibilidade de Kadhafi, cultivado ao longo das décadas, parece estar bem vivo.

A vasta máquina líbia da propaganda estatal atrai multidões às ruas de Trípoli para criar uma impressão de apoio esmagador ao dirigente. A praça Verde, no centro da capital, parece agora receber uma interminável manifestação de apoio a ele, com frequente presença de bandas de música, fogos de artifício e pessoas com bandeiras.

As tentativas de jovens líbios de realizar protestos em Trípoli, seguindo o modelo de bem sucedidos levantes populares nos vizinhos Egito e Tunísia, foram violentamente reprimidas. Bairros inteiros, como o de Tajoura, tentaram desafiar o regime, montando barricadas e realizando protestos. Agora, no entanto, sua determinação parece ter sido esmagada.

Trípoli, onde vivem 2 dos 7 milhões de habitantes da Líbia, parou no mês passado, quando os rebeldes avançavam rapidamente no leste. Agora, a cidade voltou ao seu burburinho habitual nas ruas e cafés.

Mas a produção de petróleo do país continua reduzida, e relatos de escassez de comida e remédios em outras regiões deixam no ar um clima palpável de nervosismo e insegurança.

Muitos acreditam que os distúrbios ainda poderão voltar a qualquer momento.

"O problema é a economia. Eles estão derrotando as pessoas, mas isso não significa realmente que haverá paz", disse Mohammed Ibrahim, gerente de um restaurante em Trípoli. "Se Kadhafi não criar empregos e gerar investimentos, a Líbia não ficará estável. Haverá uma grande quantidade de jovens com raiva e que podem aderir a grupos como a Al Qaeda."

Fotos: Ah​med Jadallah/Reuters



Agora o que se vê, a miúde, nas imagens enviadas pelas agencias de noticias, são as Forças aliadas ao governo de Kadhafi comemorando vitórias, uma após a outra.

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