segunda-feira, 11 de outubro de 2010
O Lulismo em xeque
Houvesse um vencedor nas eleições presidenciais do dia 3 de outubro este teria sido Lula e o neologismo que lhe corresponde.
Mas, como se sabe, não foi isso que aconteceu.
A arrogância com a qual Lula se conduziu, aliada a outros fatores, resultou na insuficiência de votos para que Dilma colocasse um ponto final na contenda.
O comportamento de Lula não se resume a uma questão de conduta eleitoral. Ele é a expressão de uma interpretação da política que ganhou corações e mentes e se espalhou por entre os apoiadores do presidente.
Com o baque, o silêncio e o desaparecimento momentâneo de Lula se fizeram necessários porque era, enfim, o lulismo que havia sido questionado em sua essência.
A campanha de Dilma terá que encontrar um novo eixo e Lula deverá de afastar providencialmente do centro da cena, sob risco de complicar mais ainda a eleição da candidata que fabricou.
Não há outra razão para os jornais passarem a noticiar os desajustes internos da campanha de Dilma depois do primeiro turno.
Fenômeno ou conceito eminentemente midiático, o lulismo não forma um conjunto de idéias claras e muito menos fundamentadas.
Não se sabe precisamente os valores que o norteiam e sendo assim ele pode vocalizar aquilo que bem lhe aprouver conforme seus interesses momentâneos.
O lulismo também não é um movimento social embora sua principal figura tenha emergido de um movimento sindical ascendente que depois ultrapassou os limites do chamado “sindicalismo de resultados” para ancorar no puro pragmatismo, inteiramente soldado e dependente do Estado.
Alçado ao governo, o lulismo é uma construção que data de 2002 e chega a 2010 com uma identificação visível:
pós-ideológico, ele é personificação em estado líquido, estado da natureza política no qual as formas não se definem em momento algum.
Em sua ainda breve trajetória, o lulismo se configurou como um ator político a partir de uma narrativa cumulativa e permanente de êxitos atribuídos a Lula, independentemente da sua aferição.
Uma narrativa exitosa que não pode ser compartilhada com outros atores.
Impedido de pleitear um terceiro mandato, o que Lula buscou nessa eleição, por caminhos e descaminhos, foi interpor sua candidata como representação viva e figurativa dessa narrativa.
O lulismo só pode operar com êxito num clima de unanimidade ou tendente a ela, no qual a oposição tem que ser residual ou “exterminada”.
Tal como outros personalismos conhecidos, o lulismo não foi feito para desagradar e nem lidar com situações desagradáveis nas quais vêm à tona críticas e questionamentos.
Contudo, em política não é possível imaginar que a busca ou a improvável conquista da unanimidade deva ser concebida como norma ou devir da política democrática nas sociedades complexas.
Cego a essa lição essencial, o lulismo abriu o flanco e foi alvejado pela votação que impôs a necessidade do segundo turno nas eleições presidenciais.
Não houve a esperada homologia entre os índices de popularidade de Lula e a votação de Dilma.
O resultado passou muito longe disso e mesmo dos índices que davam vantagem à candidata oficial.
Os dias que se seguiram não trouxeram bom augúrio para o Presidente.
A sorte, que costumeiramente lhe sorriu, não lhe jogou no colo o Prêmio Nobel da Paz, atribuído ao dissidente chinês Liu Xiaobo, para desencanto daqueles que apostavam em Lula.
Questionado, o lulismo poderá até vencer, mas terá que fazê-lo em condições inesperadas, já na defensiva e tendo que disputar com a oposição a mensagem da união de todos os brasileiros por um futuro melhor e mais justo.
E esta não deve se afastar um milímetro da grande orientação que tem na democracia e no pluralismo o caminho para esta construção.
E nela não cabe mais personalismos.
Alberto Aggio é professor de História da UNESP-Franca
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