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quarta-feira, 17 de junho de 2009

ELES NÃO QUEREM LARGAR A RAPADURA!


A NOBRE ARTE DE NÃO LARGAR A RAPADURA!

“Estou me lixando para o que sai nos jornais.
Vocês batem, mas a gente se reelege.”

Deputado Sérgio Moraes
Relator do Conselho de Ética
Câmara dos Deputados


Waldo Luís Viana*

Os políticos tradicionais são como esses mortos-vivos de filme de terror classe B. Quando alguém lhes dá uma "chapuletada" na cabeça, pensando haver matado finalmente os tinhosos, não é que eles se levantam da morte aparente e tropegamente voltam a assombrar, com esgares e mãos levantadas, os que ainda teimam em sobreviver, sofridos, nesta Nação funesta?

Esses agentes espectrais do patrimonialismo e acumuladores do alheio não se fazem de rogados, querem por que querem manter os nichos de poder, conservando (são conservadores!) as posições de capitania. São pedaços das estatais e ministérios, que sugam feito vampiros esfaimados e, como nos filmes, jamais se satisfazem, na eterna faina de chupar os pescoços do Erário!


Com que prazer servem os parentes com sinecuras e entopem os cargos de confiança entre si com amantes, sobrinhos e netos! Eles se entendem com presteza, mas sabem que o público não há de concordar de imediato com essas coisas. Por isso, têm que usar de ardis para gerar comodidades, com gastos secretos, naturalmente por motivo da tal “segurança nacional deles” e, agora, “atos secretos”, como se a administração não pudesse suportar tanta publicidade e clareza, diante de tão ingrata e inconfiável opinião pública...


Não seriam esses atos os praticados na alcova por nossos avós, mas “rapidinhas” à luz do dia e da noite, diante da plebe ignara, que inadvertidamente conspira, teimando em continuar existindo, contra os mortos-vivos donos da República que desejam, com os braços esticados, continuar comendo a rapadura!


São "inoxidáveis, cabriocáricos e estrogonoficamente sensíveis" esses coronéis de rapinagem, que só vão largar seus mimos num pijama de madeira! Não sem antes pedir o respeito do povo brasileiro pelo "mutcho" que fizeram por ele, concitando-o a aceitar de bom grado todos os escândalos. Afinal, o povo já está de quatro mesmo, tomando...

Explicações, para quê, se os mortos-vivos assombram pela capacidade de sair das tumbas, redivivos e ressurretos, prontos para a próxima..., sempre permitida em grupo, o grupo dos mesmos?

Nada temem, porque não há ninguém que se interponha em seus caminhos, vez que não há limites para o dinheiro quando ele pode ser oferecido e distribuído em troca dos seus objetivos permanentes. A rapadura é cara mesmo e só largam o acepipe os que cochilam nos ardis ou caem em desgraça, incomodados pelos poderes do Estado que ainda teimam em sobreviver. Se agem assim, em despautério, não são vocacionados para a carnificina, devem ser logo abandonados, porque revelaram incompetência!

E o país não pode suportar incompetência entre nossos mortos-vivos! Eles fazem belos discursos, os mais velhos ensinam os mais novos a sobreviver, mesmo que desfigurados, com o sangue e a baba pendendo continuamente e os bolsos protegidos contra qualquer ataque supervisor ou superveniente.

Instalaram-se em duas casas de tolerância: uma para os mortos-vivos novos, que ainda não aperfeiçoaram todos os expedientes, mas estão sempre alertas e obedientes para aprende-los; outra, para os mortos-vivos antigos, mestres no ilusionismo e em converter em favores, benesses, nomeações, comissões e esconderijos todo o conhecimento profundo em articular, também sob a luz da lua, os assaltos merecidos à rapadura existente...

O povo mansamente os ama e os admira, porque espera, como sempre, alguns pedaços do alimento misturados à lama, jogados como esmola e que podem ser comidos com cachaça e farofa. Nada como as nossas cidades, divididas entre esgotos a céu aberto, bocas de fumo, botecos, templos e o dia 25, quando distribuem os nacos da bolsa-refeição...

Para que interromper o caminho dos mortos-vivos em seus objetivos de terror, se não estão incomodando, se somos todos felizes, de calças arriadas para os mesmos...

Com que raiva e nojo eles se reúnem para justificar os malfeitos descobertos. Afinal, ter de prestar contas a esse povinho maldito e maltrapilha que teima em dificultar as operações e não entender que tudo deve permanecer como está? E dar explicações a quem? A quem absolutamente não lhes é igual na nobre arte de não largar a rapadura?


O jogo é para poucos, os escolhidos. Já disse um escritor um dia: ao vencedor, as batatas. Mas eles são diferentes: o que querem de fato esses políticos tradicionais, mortos-vivos, não são as batatas, mas não largar a rapadura, a não ser num pijama de madeira...


__ *Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta e não conhece onde está a rapadura...
Teresópolis, 17 de junho de 2009.

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