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quinta-feira, 3 de abril de 2008

As dez mais de 03 de abril



1. Colômbia – Um avião Falcon 50 da Força Aérea da França aterrissou nesta madrugada na base aérea de Catam, em Bogotá, para a operação de resgate negociado da ex-senadora colombiana Ingrid Betancourt, seqüestrada há mais de seis anos pelos gerrilheiros das Farc, informam o site do jornal El Tiempo e a rádio Caracol. Ingrid, nas palavras do filho mais novo, Lorenzo Delloye, está quase morrendo. Os anos de prisão na selva lhe deram uma hepatite B e uma leishmaniose. Segundo informações das Farc, ela precisa urgentemente de uma transfusão de sangue. A senadora Piedad Córdoba, principal elo entre as autoridades colombianas e os guerrilheiros, acompanha a operação. Na semana passada, depois de muita pressão internacional, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, admitiu ceder guerrilheiros presos em troca de seqüestrados.

2. Economia/Brasil – Em reação à ameaça do Banco Central de usar, mais uma vez, o aumento das taxas de juro para controlar a inflação, o presidente Lula estuda proposta para alterar o regime cambial, informam os repórteres Cristiano Romero e Claudia Safatle, do Valor. A proposta levada a Lula mantém os fundamentos da política monetária atual, mas inclui um regime de metas para o câmbio, com a desvalorização forçada do real até um patamar predeterminado. Esse seria um piso informal, não anunciado ao público, num sistema semelhante ao que a Coréia e o Japão já fazem há pelo menos uns 30 anos. Na reunião em que se discutiu a possibilidade estavam o presidente do BC, Henrique Meirelles, o ministro Guido Mantega e os três conselheiros informais do presidente, Delfim Netto, Luiz Gonzaga Bel! luzzo e Aloizio Mercadante.


A discussão sobre o câmbio foi levantada por dois medos. O primeiro medo do Banco Central, preocupado com o forte crescimento da demanda interna e das pressões inflacionárias com os aumentos dos preços dos alimentos. Se a dose desse aumento de juros for exagerada, pode abortar o atual ritmo de 5% de crescimento do PIB. O segundo medo é a queda acelerada do saldo das transações correntes. O superávit caiu de US$ 13,3 bilhões em junho para US$ 1,4 bilhão em dezembro. Em janeiro, o déficit reapareceu – US$ 2,4 bilhões nos 12 meses concluídos naquele mês. Na comparação fevereiro de 2007 e 2008, as exportações cresceram 17,5%, enquanto as importações subiram 36,5%. No encontro, diz o Valor, Delfim e Belluzzo advertiram que, mantido o atual curso da economia, com o dólar se desvalorizando e o risco de queda abrupta nos preços das commodities, se nada for feito, o Brasil pode chegar a 2010 com o país tendo reconstruído um naco de dependê! ncia e, portanto, a vulnerabilidade externa. No limite, o governo Lula pode vir a entregar a economia brasileira a seu sucessor com uma situação externa em franca deterioração, numa reprodução do cenário que recebeu de 2002. A história recente mostra que alterações mal conduzidas na política cambial podem arrasar com um governo (vide Figueiredo em 1981 e FHC em 1999), mas, afirma o Valor, “o debate não está censurado”.


3. CPI dos Cartões – O senador tucano Álvaro Dias admitiu ontem ter recebido as informações sobre gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso antes de as informações chegarem à imprensa. Mas negou ter sido o responsável pelo vazamento do material (comentário meu: como no samba de Nélson Sargento, “o nosso amor é tão bonito/ela finge que me ama/e eu finjo que acredito”). Aproveitando a descoberta de que o tucano foi a fonte das reportagens, o presidente Lula afirmou que a ministra Dilma Rousseff é vítima de “chantagem política” no episódio. “Alguém encontrou um osso de galinha e tentou vender para a imprensa que tinha encontrado uma ossada de dinossauro. Na hora que foi montar para saber o tamanho do dinossauro percebeu que era um franguinho”, comparou Lula. Há dois enredos possíveis para essa novela. No primeiro, Álvaro revela que, além das famosas 13 páginas de gastos pueris do governo FHC, o material que ! ele recebeu de um político petista continha coisas mais escandalosas. No outro, o PSDB e o PT continuam brigando nos palanques e fazendo as pazes nos gabinetes. Faça sua aposta.



A mulher que pensava diferente

Conheci Ingrid Betancourt em 2000, quando fui à Colômbia cobrir a ação dos guerrilheiros das Farc. De família tradicionalíssima (a família está cheia de senadoresm, o pai foi embaixador da Unesco em Paris e a mãe, miss Colômbia), Ingrid pensava diferente de todas as dezenas de pessoas que ouvi sobre o conflito colombiano. Ela era então senadora do Partido Verde e havia rompido recentemente com o presidente Andres Pastrana, que tentava um acordo com os guerrilheiros. O seu escritório político, num bairro residencial de Bogotá, estava cercada por dois jipes com seguranças armados com metralhadoras. Para entrar no escritório, decorado com cartazes do Greepeance, era necessário passar por um detector de metais. Depois, havia uma revista tão rigorosa quanto a do Palácio Nariño, onde fica o gabinete presidencial. “Desculpe o incômodo, mas é necessário. Bem vindo à Colômbia”, ela disse, rindo, ao me ver sendo! examinados pelos seguranças.


Meses antes, o governo Pastrana havia cedido às Farc um território do tamanho da Suíça para tentar um acordo que terminasse com os quase 50 anos de guerra civil. “Não vai funcionar”, previu Ingrid. “Pastrana pensa que as Farc são movimentos ideológicos e os trata como tal. Não são mais. Eles (os guerrilhereiros) não querem o poder, querem o dinheiro do tráfico”, ela disse. Alguns opositores de Pastrana diziam o mesmo, mas todos os tinham interesses no fracasso de Pastrana. Ingrid, não. “Eu não digo que esse processo de paz vai fracassar porque eu quero que fracasse. Eu digo porque esses são os fatos”, ela disse, segundo o meu bloco de anotações (não achei a fita!). Ingrid havia recebido a maior votação de um senador na Colômbia com uma campanha à margem dos partidos tradicionais. Distribuiu preservativos para ‘denunciar’ a contaminação da campanha política. Enquanto a imprensa local defendia o uso de bombas químicas contra as plantações de coca, ela alertava para os efeitos devastadores da ação sobre o meio ambiente. Enquanto as mesas de negociações incluíam apenas Exército e guerrilheiros, ela defendia o direitos dos ‘desplazados’, as centenbas de milhares de famílias que tiveram de deixas as suas casas para fugir da guerra civil.


No final daquele ano, almoçamos em Washington. Ela se preparava para ser candidata presidente. Sabia que não tinha chances de ser eleita, mas achava que podia fazer a diferença ‘falando as algumas coisas que as coisas que as pessoas não querem ouvir”. Meses depois foi sequestrada.


Leia as demais notas do dia em www.ofiltro.com.br.

por Thomas Traumann

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