Lula avisou mais de uma vez que, tão logo deixasse a Presidência, enfim teria tempo para provar que o mensalão fora uma farsa engendrada por oposicionistas decididos a apeá-lo do poder. Mais de uma vez, José Dirceu avisou que, para impedir que um julgamento político resultasse na condenação de um inocente, trataria de mobilizar o que chama de “forças progressistas e movimentos populares”. É compreensível que o sumiço simultâneo do chefe supremo e do comandante militar do PT, que se estendeu por 15 dias, tenha levado a companheirada aos limites da excitação. O que andaria fazendo a dupla?
As explicações oficiais só serviram para ampliar a ansiedade coletiva. Ninguém acreditou que Lula saíra de cena para recuperar-se de sequelas do tratamento do câncer na laringe, nem que Dirceu resolvera conceder-se uma folga para voltar com a corda toda às vésperas do julgamento no Supremo Tribunal Federal. Na cabeça dos devotos da seita lulopetista, o ex-presidente estava completando o desmonte da trama golpista e o o ex-chefe da Casa Civil coordenava na clandestinidade a montagem do exército de voluntários.
Tanta excitação para nada, frustraram-se todos com a reaparição dos desaparecidos. No domingo, o Estadão revelou o que fizera Dirceu nas duas semanas anteriores. Na primeira, esqueceu as reuniões com líderes das forças progressistas para reencontrar os amigos de Cruzeiro do Oeste, cidade do interior paranaense onde se escondeu durante cinco anos na década de 70. Ali, com o nome de Carlos Henrique Gouveia de Mello e disfarçado de comerciante, o revolucionário diplomado em Cuba combateu a ditadura entrincheirado na caixa registradora do Magazine do Homem.
Disso já se sabia. O que só se soube agora é que o combatente em férias passava horas a fio sentado na mesa do boteco localizado em frente da loja de Clara Becker, vendo a mulher trabalhar. Foi por isso que ganhou o apelido de “Pedro Caroço”, o personagem da música de Genival Lacerda que fica o tempo todo de olho na butique dela. O amigo que revelou essa técnica de combate também contou que Dirceu só soube que o filho havia nascido ao voltar de outra pescaria ─ e de mais uma batalha contra cardumes de lambaris.
Depois do passeio em Cruzeiro do Oeste, o líder de massas imaginárias adiou a mobilização dos movimentos populares para repousar uma semana em Passa Quatro, cidade mineira onde nasceu. Em vez de combinar com os oficiais a hora e o local do começo da luta nas ruas, preferiu entrincheirar-se na casa da mãe ─ um lugar sempre aconchegante e seguro. Como registra o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, pelo menos conseguiu o apoio dos parentes. Todos prometem rezar unidos para que o pecador da família escape do merecidíssimo castigo.
Lula voltou na segunda-feira, para a reunião com dirigentes do PT que convocara na véspera. Os convocados esperavam ouvir novidades espetaculares sobre o mensalão. Ouviram perguntas tão relevantes quanto o passeio de Dirceu. “Estamos com a Vanessa Graziotin em Manaus?”, quis saber já na abertura dos trabalhos. Nem esperou pela resposta para a segunda interrogação: “Fechamos com o PCdoB em Florianópolis?”. Como o mensalão nem deu as caras na conversa, é possível que Lula tenha resolvido ressuscitar a primeira mentira: ele nunca soube de nada.
Os companheiros passaram 15 dias sonhando com a volta do mobilizador de multidões e do investigador genial. Reencontraram um guerrilheiro de festim e um detetive de chanchada.
Todos se merecem.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
O guerrilheiro de festim combate na casa da mãe e o detetive de chanchada esquece o mensalão para investigar as alianças do PT
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