Por Jorge Felix e Leonardo Attuch
EXCLUSIVO Logo no início do governo do Partido dos Trabalhadores, o ex-tesoureiro da legenda Delúbio Soares procurou o banqueiro Daniel Dantas para vender proteção política. Na primeira entrevista exclusiva desde sua prisão na Operação Satiagraha, em julho do ano passado, Dantas revelou à ISTOÉ na tarde da quinta-feira 23 que Delúbio queria que as empresas do grupo Opportunity pagassem US$ 50 milhões da dívida da campanha de 2002 do PT. Homem-bomba para muitos, Dantas é peça central das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso e presença constante nas páginas policiais durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Em quase duas décadas, teve seu nome relacionado a muitos dos escândalos ocorridos no Brasil. Foi preso temporariamente em duas ocasiões, está condenado a dez anos de reclusão num caso em que é acusado de subornar delegados da Polícia Federal e, na semana passada, passou a ser réu num processo por evasão de divisas e formação de quadrilha. Além disso, sofreu um golpe direto nas suas duas principais atividades empresariais, quando o juiz Fausto De Sanctis ordenou o confisco de 27 fazendas de gado e também a dissolução de um fundo de investimentos de R$ 954 milhões. Embora a segunda medida já tenha sido suspensa por decisão de uma desembargadora, Dantas se viu diante do que chamou de "algema econômica".
DEMOCRÁTICO Segundo Dantas, Satiagraha não partiu de Lula
Delegados da Polícia Federal e, na semana passada, passou a ser réu num processo por evasão de divisas e formação de quadrilha. Além disso, sofreu um golpe direto nas suas duas principais atividades empresariais, quando o juiz Fausto De Sanctis ordenou o confisco de 27 fazendas de gado e também a dissolução de um fundo de investimentos de R$ 954 milhões. Embora a segunda medida já tenha sido suspensa por decisão de uma desembargadora, Dantas se viu diante do que chamou de "algema econômica".
A entrevista à ISTOÉ foi concedida por meio de videoconferência. Dantas estava na sede do grupo Opportunity no Rio de Janeiro, acompanhado de um de seus sócios, Dorio Ferman, de uma advogada e de uma assessora. A reportagem de ISTOÉ estava no escritório do grupo em São Paulo. O banqueiro se disse vítima de uma conspiração política e revelou suas relações - por ora próximas e muitas vezes conflituosas - com figuras proeminentes do poder, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken e o ex-publicitário Marcos Valério de Souza, além de Delúbio
"Errei ao entrar na privatização sem estar pronto para a agenda política que ela continha"
Exclusivo
"Não compramos a proteção"
"Não compramos a proteção"
ISTOÉ - O Delúbio Soares fez essa proposta?
Dantas - Ele procurou meu sócio, Carlos Rodenburg, e disse isso. Eu fui ao Citi, porque muita gente achava que éramos intransigentes. Quando perceberam a dimensão da pretensão, me autorizaram a negar, porque feria a lei americana.
ISTOÉ - E qual era a dimensão?
Dantas - Eram uns US$ 50 milhões.
ISTOÉ - Isso foi documentado?
Dantas - Sim. Num e-mail, eu disse ao Mike Carpenter, executivo do Citi, que rejeitaria a proposta da agência de publicidade
ISTOÉ - Como o sr. se envolveu em tantos escândalos?
Daniel Dantas - Os interessados em criar a proeza me vinculam a qualquer escândalo. Por exemplo, o Mensalão. A ala do PT que me coloca como financiador é a que nega sua existência.
ISTOÉ - Mas uma de suas empresas, a Telemig Celular, contratou Marcos Valério.
Dantas - Na CPI dos Correios, falava-se em R$ 180 milhões. Comprovamos que tudo era publicidade. Agora, falam de um contrato de R$ 3 milhões.
ISTOÉ - Esses R$ 3 milhões tiveram finalidade política?
Dantas - Não. Mas surgiu uma proposta. Se pagássemos a dívida do PT, parava a perseguição.
"Aquele R$ 1 milhão não era nosso.
Plantaram lá uma prova falsa"
Plantaram lá uma prova falsa"
ISTOÉ - Falava-se de um racha no governo. O exministro José Dirceu seria seu aliado e o ex-ministro Luiz Gushiken, seu inimigo. Foi assim?
Dantas -A primeira pessoa que me procurou e pediu que eu entregasse os direitos dos nossos investidores foi o ex-ministro José Dirceu. Numa reunião, ele pediu que eu conversasse com o Cássio Casseb [ex-presidente do Banco do Brasil]. Chamei a atenção de que o Casseb fôra conselheiro da Brasil Telecom indicado pela Telecom Italia e que talvez não tivesse isenção.
ISTOÉ - E como foi a reunião com o Casseb?
Dantas - Ele me deu um ultimato, dizendo para entregar o controle. Perguntei se tinha algo em troca, ele disse que não. Fui ao Citibank em Nova York, que mandou para cá o Mike Carpenter. Ele me reportou que diria ao ex-ministro que não toleraria expropriação. Depois, não houve pressão do Dirceu.
ISTOÉ - E pelo lado do Gushiken? Dantas - Eu sentia que ele operava através de outros. Eu percebia que ele mandava nos fundos.
ISTOÉ - Mas o sr. contratou o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que é amigo do ex-ministro Dirceu, por R$ 10 milhões.
Dantas - Uma das estratégias da empresa foi contratar advogados que eram da confiança do agressor para desfazer o mal-entendido
ISTOÉ - Mas é fácil confundir isso com lobby. O sr. contratou o Roberto Teixeira, amigo do presidente.
Dantas - Lobby é tentar obter vantagens. Se a autoridade está lhe perseguindo, não é lobby
ISTOÉ - O sr. está condenado a dez anos de prisão, em função de um suposto suborno. Qual é a sua versão?
Dantas - O que se tem é um vídeo editado, em que as vozes não correspondem às imagens. E eu não estava presente naquele encontro.
ISTOÉ - Mas estava ali seu braço direito, Humberto Braz, e depois foi encontrada a quantia de R$ 1 milhão na casa de Hugo Chicaroni.
Dantas - O dinheiro que foi apreendido na casa do Chicaroni não era nosso.
ISTOÉ - É razoável imaginar que seus inimigos botariam R$ 1 milhão na casa de alguém apenas com o intuito de lhe incriminar?
Dantas - A quantia pode parecer alta para a maioria dos mortais, mas é nada diante do que foi gasto na disputa societária da Brasil Telecom. E tem coisas estranhas em relação ao dinheiro. Ele foi depositado sem que houvesse o registro das notas. Se não tivesse sido depositado, seria possível rastrear a origem.
ISTOÉ - Quem poderia plantar essa prova?
Dantas - Fundos de pensão, Citibank, Brasil Telecom, Angra Partners.
ISTOÉ - E por que o juiz Fausto De Sanctis acreditou na qualidade da prova?
Dantas - Talvez por imaginar que a polícia teria fé pública. O juiz autorizou a ação controlada que culminou naquela cena em maio de 2008.
Um mês antes, recebemos um e-mail de um jornalista italiano chamado Gerson Gennaro, que havia entrevistado Luís Demarco [ex-funcionário do Opportunity e inimigo de Dantas], já nos perguntando sobre uma orquestração. Estavam plantando uma cilada.
ISTOÉ - E por que Humberto foi ao encontro?
Dantas - Ele fi cou assustado, porque duas pessoas da Abin, armadas, seguiram seu fi lho. O que todos queríamos era só saber o que estava acontecendo
ISTOÉ - Se havia um grande acordo para a criação da supertele, quem estaria insatisfeito?
Dantas - Estávamos saindo da telefonia para fi car livres disso. Neste momento, um advogado da Brasil Telecom nos disse que estava tendo difi culdades em encerrar contratos com outros advogados contratados para promover esse tipo de iniciativa.
ISTOÉ - O sr. desconfi a de que a Brasil Telecom patrocinou a Operação Satiagraha?
Dantas - Eu tenho informações nesse sentido. Isso também envolvia outras duas pessoas, o Luís Demarco e o Paulo Marinho [consultor de empresas].
Anos atrás, o Paulo Marinho recomendou aos nossos adversários que partissem para um jogo abaixo da cintura, porque eu não estaria preparado para isso.
ISTOÉ - De fora, supõe-se que todos os lados jogavam abaixo da cintura.
Dantas - Nunca tive qualquer relação com a polícia.
ISTOÉ - Mas e a Kroll?
Dantas - Se você chamar a Kroll de empresa de espionagem, isso acomoda a versão. Se você considerar a Kroll uma empresa de investigação, não. A Kroll era percebida como uma empresa legítima quando rastreou o dinheiro do PC Farias.
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