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sábado, 25 de julho de 2009

Daniel Dantas US$ 50 milhões para o PT e outras histórias 1

Daniel Dantas
US$ 50 milhões para o PT e outras histórias


Na primeira entrevista desde a prisão, em julho de 2008, Daniel Dantas diz que Delúbio Soares queria que o Opportunity pagasse dívidas da campanha de 2002 e conta como eram suas relações com altas autoridades petistas e tucanas

Por Jorge Felix e Leonardo Attuch


PROPOSTA INDECENTE
Delúbio quis quitar a dívida do PT em troca de apoio, diz o banqueiro

Entre as histórias que Dantas decidiu contar, a mais relevante foi sobre a sugestão do ex-tesoureiro petista. Segundo o dono do Opportunity, a proposta de Delúbio foi feita em conversa com Carlos Rodenburg, ex-marido da irmã de Daniel, Verônica Dantas. "Eram mais ou menos US$ 50 milhões", diz o banqueiro.

Naquele momento, com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele estava ciente de que não era benquisto pelo governo - os fundos de pensão, de quem era sócio na empresa Brasil Telecom, mostravamse descontentes com a parceria, selada no governo Fernando Henrique Cardoso, e queriam assumir a gestão da empresa, até então a cargo do Opportunity.



De acordo com Dantas, a contrapartida que ele teria, se pagasse a dívida do PT, seria "o fim das hostilidades". Pragmático, o banqueiro baiano não rechaçou de imediato a abordagem. Procurou o Citibank, de quem também era sócio na Brasil Telecom, e levou a proposta adiante.

Essa conversa se deu com Mike Carpenter, ex-vice presidente mundial do banco, que disse ser melhor não pagar. "Decidimos não comprar a proteção", diz Dantas.

Procurado por ISTOÉ, Delúbio preferiu não comentar o assunto. Considera-o página virada em sua vida. E Dantas, ao ser perguntado sobre os detalhes desse acerto, segundo ele, frustrado, afirma que chegou até a documentar suas conversas com o vice-presidente do Citi. Num e-mail, disse que o negócio com a agência de publicidade não seria assinado - o que significa que o acerto da dívida do PT passaria pelas empresas do publicitário Marcos Valério.

"Nunca tive conhecimento disso", diz Marcelo Leonardo, advogado do publicitário.
"Os contratos efetivamente feitos com a Brasil Telecom diziam respeito à efetiva prestação de serviço a duas empresas: a Telemig e a Amazônia Celular, para as quais foram feitas diversas campanhas de publicidade", completa.


Em síntese

Na terça-feira 21, o juiz Fausto De Sanctis determinou o confisco das 27 fazendas e de 450 mil cabeças de gado do banqueiro Daniel Dantas.

 Na quinta-feira 23, Dantas concedeu à ISTOÉ a primeira entrevista desde que foi preso, há pouco mais de um ano, na Operação Satiagraha.

Revelou suas relações com as principais autoridades do PT e do PSDB.

Disse que recebeu do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pedido para pagar dívida de US$ 50 milhões do partido.

Contou sua experiência na prisão e deu sua versão para a acusação de subornar um delegado com R$ 1 milhão.

NA SALA DO ALVORADA
Dantas confirma encontro com FHC para tratar de telefonia

Segundo Dantas, seus adversários adotaram "um jogo abaixo da cintura" para garantir o controle da Brasil Telecom. Na linha de frente, estariam os então poderosos ministros José Dirceu, interessado em entregar o controle da Brasil Telecom aos fundos de pensão, e Luiz Gushiken, apontado pelo banqueiro como o maestro dos fundos de pensão e também um defensor dos interesses da Telecom Italia.

O banqueiro diz que decidiu se cercar de advogados com alguma proximidade com os dirigentes do PT para, em suas palavras, "construir uma ponte".

Foi assim que contratou Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado do PT, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, amigo de Dirceu, e Roberto Teixeira, compadre do presidente Lula.

Procurado, Greenhalgh confirmou que Dantas não tinha diálogo com os fundos de pensão e com o PT em geral.

"Eu o aconselhei a sair da telefonia e a buscar outros negócios", diz o advogado. "As pessoas me contratam porque advogo em causas relevantes", contestou Kakay. "No governo FHC fui advogado de oito ministros e no governo Lula, por incrível que pareça, de dois", diz. Teixeira disse que foi contratado por Dantas antes da eleição de Lula. "Meu trabalho foi atuar única e exclusivamente junto a tribunais e na interpretação de leis - nunca junto ao governo", afirmou.


Quanto às suas relações no governo FHC, Dantas confirma que jantou com o então presidente Fernando Henrique, no Palácio do Alvorada, e o assunto foi a disputa pelo controle de empresas de telefonia. Mas nega que, no encontro, tenha pedido a cabeça dos presidentes de fundos de pensão estatais que estariam prejudicando seus planos, como foi amplamente divulgado à época.

"Na supertele, eu queria ficar.
Foi o Greenhalgh quem me aconselhou a sair disso"

ISTOÉ - Marinho e Demarco foram do Opportunity. Saíram com mágoa?

Dantas - Os dois saíram e se encontraram por caminhos separados. Quando a PF entrou na história, sempre um esteve envolvido. E quem se dizia movido por ideologia ou razões afetivas logo surgiu na folha de pagamento de alguém.


ISTOÉ - Seu raciocínio pressupõe que a PF está à venda.


Dantas - Pressupõe que nem todos os agentes públicos são corretos. A própria distensão na PF em relação à Satiagraha, que foi feita pela Abin, sugere isso.


ISTOÉ - Seu raciocínio pressupõe que a PF está à venda.


Dantas - Pressupõe que nem todos os agentes públicos são corretos. A própria distensão na PF em relação à Satiagraha, que foi feita pela Abin, sugere isso.


ISTOÉ - O sr. achava que poderia enfrentar um governo?


Dantas - Nunca pensei que iriam colocar PF, Abin, Exército, Marinha e Aeronáutica contra mim. Não imaginei que fosse ser visto como alguém tão perigoso.


ISTOÉ - Quais foram os seus erros?


Dantas - Erro um: participar da privatização sem estar preparado para a agenda política que estava contida nele. Erro dois: confi ar no Citi.


ISTOÉ - Por que não recuou mais cedo?


Dantas - Eu recuei duas vezes. Quando a PF fez a Operação Chacal, eu recuei e vendi o controle da Brasil Telecom para a Telecom Italia. Só não sabia que os fundos de pensão tinham uma agenda oculta e estavam alinhados com a Oi. Em 2008, decidimos sair pela segunda vez, vendendo nossa posição para a Oi, porque o plano do governo era a supertele. Na verdade, pensamos até em fi car. Se o plano era criar uma grande empresa nacional, eu disse: "Bom, eu também sou nacional." Mas me disseram que eu não podia fi car e eu saí.


ISTOÉ - Quem lhe deu essa informação?


Dantas - O Luiz Eduardo Greenhalgh.


ISTOÉ - Ele lhe trazia uma informação palaciana?


Dantas - Bastava ler os jornais. Muito embora dissessem que eu fi nanciava o Mensalão, nunca vi alguém dizer que eu seria o predileto do governo.


ISTOÉ - Greenhalgh tem sido apontado como lobista, não advogado. Por que foi contratado?


Dantas - Foi contratado como advogado. E eu fi - quei com a impressão de que a presença dele daria tranquilidade ao governo. Muita gente dizia que sabotávamos a supertele. E o Greenhalgh deu uma ideia que funcionou: abrimos mão da cláusula de confi dencialidade. A partir daí, a operação saiu.

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