ISTOÉ - Quem sabotava?
Dantas - A minha sensação é de que nem os fundos de pensão nem a antiga administração da Brasil Telecom queriam a operação
ISTOÉ - Nesta semana, o juiz Fausto De Sanctis mandou abrir inquérito para investigar a supertele. Esse pode ser o real objetivo da Satiagraha?
Dantas - Não sei. O que sei é que não cometemos crime nenhum e que fomos investigados durante sete anos a partir de uma situação esdrúxula. A Satiagraha é fruto da Operação Chacal, que nasceu a partir do que a PF disse ser um CD anônimo. Na Itália, já se sabe que esse CD foi produzido, adulterado e entregue à polícia pela
Telecom Italia. A maior mobilização policial do País parte de uma fraude
ISTOÉ - O sr. se coloca como vítima de um Estado arbitrário, mas também é acusado de ter tido um Estado a seu favor, no governo FHC. O sr. seria um símbolo da chamada "privataria"?
Dantas - A tentativa de tomada de controle começou no governo FHC. Não tive privilégio.
ISTOÉ - Não houve um encontro reservado no Palácio da Alvorada em que o sr. pediu a cabeça dos dirigentes dos fundos de pensão?
Dantas - Não. Algumas pessoas do PSDB tinham uma preocupação com nossos eventuais vínculos com o PFL. E eu também disse que isso não existia.
ISTOÉ - O juiz Fausto determinou a liquidação de um fundo do Opportunity e o sequestro de 27 fazendas. Como o sr. recebe essas decisões?
Dantas - É uma algema econômica.
ISTOÉ - De onde veio o dinheiro das fazendas?
Dantas - Somos uma empresa de investimentos. Temos recursos nossos e de investidores.
ISTOÉ - Por que o sr. decidiu falar?
Dantas - Na Satiagraha, li um pronunciamento estranho do ministro Tarso Genro. Ele disse que eu teria dificuldades em provar inocência. Depois, o Protógenes disse que a Satiagraha era missão presidencial. Se fosse presidencial, eu teria que tomar um caminho. Se não, era outro. Nesta semana, ficou claro que não era o presidente da República.
ISTOÉ - Por quê?
Dantas - Primeiro, por conta da decisão de se abrir um inquérito contra a supertele. Se o presidente fosse contra, não precisava da Satiagraha. Bastava não mudar a lei. Além disso, ouvi o discurso do presidente na posse do novo procurador- geral da República [Roberto Gurgel], em que ele critica essa condenação prévia sem direito à Justiça. O presidente Lula, portanto, segue um padrão democrático. Então, o que aconteceu recebe influências de facções do governo.
ISTOÉ - Por quê?
Dantas - Primeiro, por conta da decisão de se abrir um inquérito contra a supertele. Se o presidente fosse contra, não precisava da Satiagraha. Bastava não mudar a lei. Além disso, ouvi o discurso do presidente na posse do novo procurador- geral da República [Roberto Gurgel], em que ele critica essa condenação prévia sem direito à Justiça. O presidente Lula, portanto, segue um padrão democrático. Então, o que aconteceu recebe influências de facções do governo.
"O STF deu um benefício aos brasileiros, não a mim, que fui preso e algemado"
ISTOÉ - A principal seria do ex-ministro Luiz Gushiken?
Dantas - Talvez haja um maestro. Gushiken é um maestro provável.
ISTOÉ - Como foi sua experiência na cadeia?
Dantas - Ela me permitiu descobrir que é impressionante o clube dos que foram
presos ilegalmente no Brasil. Não me senti humilhado, apenas perseguido, pois não enxergo legitimidade na ordem que fez isso contra mim.
ISTOÉ - O sr. vive recluso e não pode, por exemplo, sair caminhando no calçadão de Copacabana.
Dantas - A tentativa de se criar um clamor popular, a meu ver, não funcionou. O que existe é uma falsa opinião pública, regida por blogueiros profissionais.
ISTOÉ - O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, passou a ser chamado de Gilmar Dantas depois de lhe conceder dois habeas-corpus. Dantas - Em relação às decisões do ministro Gilmar Mendes, os beneficiários foram os demais brasileiros. Eu fui algemado, os próximos é que não serão.
ISTOÉ - Mas podia ter ficado mais tempo.
Dantas - O STF avaliou que as prisões eram ilegais. E, se eu fui preso ilegalmente, tive um prejuízo.
ISTOÉ - O que o dinheiro representa para o sr.?
Dantas - É o instrumento de trabalho, não o fim. O trabalho é pegar um ativo e fazer valer mais.
PIONEIRO
Dirceu procurou Dantas para defender fundos de pensão
Dirceu procurou Dantas para defender fundos de pensão
A assessoria de Fernando Henrique informou que o ex-presidente está em viagem sem possibilidade de comunicação e por isso não teria como comentar as declarações do banqueiro.
Na entrevista, Dantas contra-atacou pela primeira vez, contando histórias de operações que não se materializaram, como o pagamento dos R$ 50 milhões ao PT.
De fato, pode ser que Daniel Dantas, o homem cuja fortuna é estimada pela Polícia Federal em R$ 5 bilhões, nunca tenha aceitado um acordo nos moldes propostos por Delúbio.
Mas, para quem passou quase duas décadas no centro dos maiores negócios feitos na zona de sombra do público com o privado, são as histórias do que ele fez - ou do que suspeitam que ele teria feito -, que lhe renderam a aura de homem-bomba das privatizações brasileiras.
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