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domingo, 19 de julho de 2009

Se acuado, Lula porá seu “bloco na rua”

Se acuado, Lula porá seu “bloco na rua”
Ruy Fabiano

Não avance muito nas investigações e denúncias que o bloco de Lula está a postos, à espera da voz de comando de seu líder. Os tais movimentos sociais.

No início de 2006, quando o escândalo do mensalão ainda repercutia e ameaçava o próprio mandato do presidente da República, Lula mandou um recado ao então presidente da OAB, Roberto Busato: se a OAB aprovasse a iniciativa, que então seria encaminhada à Câmara dos Deputados, ele, Lula, poria o seu “bloco na rua”.
E deixou claro qual era o bloco: UNE, MST, MLST etc.


A OAB havia acolhido dias antes proposta de uma conselheira sua, de examinar pedido de impeachment ao presidente da República, para posterior encaminhamento à Câmara dos Deputados, que, se o aprovasse, o encaminharia ao Senado, para o devido julgamento. Exatamente como ocorrera com Collor 14 anos antes.

Dias depois desse recado, o MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra), uma facção radical do MST, invadiu as dependências da Câmara dos Deputados, destruiu móveis e equipamentos, enfrentou seguranças, agrediu funcionários e promoveu uma baderna sem precedentes na casa. O seu líder, Bruno Maranhão, amigo e hóspede de Lula na Granja do Torto e integrante da Executiva Nacional do PT, foi preso e solto no dia seguinte.

O recado estava dado. O impeachment acarretaria conflitos com os movimentos sociais – o tal bloco na rua -, pondo em risco a ordem pública. O acontecimento influiu na decisão da OAB de arquivar o pedido de impeachment, transformado, ao final, em mera notícia-crime ao Ministério Público, sem qualquer conseqüência prática.

Anteontem, em meio às denúncias contra o Senado e às críticas contra a conduta de Lula em relação ao tema, o presidente voltou a dar uma demonstração de que, apesar de todos os pesares, continua prestigiado junto ao seu “bloco”.
Compareceu a um congresso da UNE em Brasília – o primeiro a ter um presidente da República convidado -, onde foi ovacionado e brindado com palavras de ordem do tipo: “Lula, guerreiro, do povo brasileiro”.

Isso, dois dias após abraçar e elogiar Fernando Collor, em um palanque em Alagoas, o mesmo Collor que a mesma UNE ajudou a expelir da Presidência da República, com a célebre marcha dos caras-pintadas, que sacudiu as ruas de todo o país, em 1992.
O evento não se restringiu a confirmar a liderança de Lula junto àquela corporação estudantil, aparelhada por PT, PSol e PCdoB.

A UNE criticou a CPI da Petrobrás (a primeira vez em sua história em que ficou contra uma CPI), atribuindo-a a uma ação predadora da oposição (que Lula insinua ter como real objetivo a privatização da empresa) e entoou loas à candidatura de Dilma Roussef. A presidente da UNE, Lúcia Stumpf, insiste em dissociar o apoio ao fato de que a entidade é financiada pelo governo federal – algo que não ocorria no passado. Mera coincidência, claro.

Mas nem tudo coincide. Os estudantes, por exemplo, não engolem a tese lulista de apoio a José Sarney. Tanto que, embora silenciassem a respeito na presença de Lula, foram em seguida ao Senado pedir sua cassação. Não chega a ser uma divergência séria.

É mais coreográfica que efetiva. No que de fato importa, estão de acordo: contra a CPI da Petrobrás, contra a eclosão de novos escândalos nos moldes do mensalão, que ponham em risco a sucessão de Lula. Além da CPI da Petrobrás, há ainda outras duas no Senado, de potencial igualmente explosivo: a do Dnit (ainda não instalada) e a das Ongs, em andamento.

Esse o pano de fundo da crise do Senado, em que há um recado implícito à oposição: não avance muito nas investigações e denúncias que o bloco de Lula está a postos, à espera da voz de comando de seu líder. Os tais movimentos sociais. A oposição os teme, pois sabe que dispõem de forte logística, considerável know how em agitação pública e financiamento para o que for necessário.

Foi em função deles que a oposição, no mesmo ano de 2006, pediu à mesma OAB, que não propusesse o impeachment. Além de considerá-lo desnecessário, pois julgava que Lula iria “sangrar em público” - e, nas palavras do já falecido senador Antonio Carlos Magalhães, “até um poste o derrotaria” -, provocaria a ação desestabilizadora dos movimentos sociais.

Lula dispõe desse capital (tão sólido que lhe permite extravagâncias como a de abraçar e elogiar Collor) e já deixou claro que não hesitará em usá-lo se julgar necessário. Por enquanto, há ainda muita gordura a queimar. Está buscando o enfrentamento na própria mídia. Acabou de estrear coluna semanal em jornais do interior, estreará blog na internet e continua usando rádio e televisão com um apetite que seus predecessores não exibiram.

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