32,7% das pessoas sobrevivem de benefícios federais ou simplesmente de esmolas
O mais novo retrato dos empregados brasileiros, divulgado na última sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - às vésperas do Dia do Trabalho -, mostra uma realidade assustadora: 32,7% das pessoas sobrevivem de benefícios federais ou simplesmente de esmolas. No Nordeste, a situação piora.
São 37,5% dos habitantes dependendo de caridade ou de programas como o Bolsa Família.
Em
Alagoas, o terceiro Estado mais pobre do Brasil, atrás de Maranhão e
Piauí, são muitos os que tentam a sorte no lixo, catando latas ou
garrafas de plástico. Segundo o IBGE, a cada dois alagoanos, um
sobrevive dos programas do governo ou à espera de ajuda dos outros.
Com
63 anos, Eliseu dos Santos caminha até 15 quilômetros por dia atrás de
sacos de lixo pelas ruas de Maceió. A rotina é a mesma há 30 anos.
Juntando latinhas de alumínio, ele tenta ganhar R$ 5 por dia. Diz que não aguenta mais a vida de pedinte. "Isso é uma vida desgraçada, ninguém merece isso. Quando junto muito é R$ 2. Faço isso porque não quero roubar nem matar ninguém. Posso dizer que isso é o suor do meu rosto", afirma.
Juntando latinhas de alumínio, ele tenta ganhar R$ 5 por dia. Diz que não aguenta mais a vida de pedinte. "Isso é uma vida desgraçada, ninguém merece isso. Quando junto muito é R$ 2. Faço isso porque não quero roubar nem matar ninguém. Posso dizer que isso é o suor do meu rosto", afirma.
Perto dali, no bairro de Ponta Verde, o metro quadrado
mais caro de Alagoas, a 200 m da cobertura do senador Fernando Collor
(PTB), Ana Lins dos Santos, 28 anos, descansa antes de retomar a rotina:
catar latinhas de refrigerante.
Ela deixou a cidade de Paripueira, a 20 km de Maceió, e foi morar com o marido nas ruas da capital. Debaixo de um coqueiro, estende um colchão e coloca roupas para secar no sol de 30°C.
Mora ao lado de um posto policial e sobrevive de esmolas ou dos pratos de sopa distribuídos nas madrugadas por grupos religiosos. "A gente vive como pode. Cata latinha, compra uma cachaça, dorme e acorda", declara.
Ela deixou a cidade de Paripueira, a 20 km de Maceió, e foi morar com o marido nas ruas da capital. Debaixo de um coqueiro, estende um colchão e coloca roupas para secar no sol de 30°C.
Mora ao lado de um posto policial e sobrevive de esmolas ou dos pratos de sopa distribuídos nas madrugadas por grupos religiosos. "A gente vive como pode. Cata latinha, compra uma cachaça, dorme e acorda", declara.
"Eles sobrevivem como animais"
Para a
cientista política Ana Cláudia Laurindo, as estatísticas não mostram o
que existe de real: a destruição simbólica e psicológica do ser humano.
"Décadas atrás, a pobreza tinha uma característica diferente de hoje. A história parece ter regredido, o indivíduo nas ruas vive em bandos por coação, quando esse estágio já deveria ter sido abolido desde as eras mais primitivas da humanidade. São gerações que não conhecem vizinhos, a conversa na porta. Só a desposse para além do material, além do simbólico, do cultural, do religioso", avalia.
"Décadas atrás, a pobreza tinha uma característica diferente de hoje. A história parece ter regredido, o indivíduo nas ruas vive em bandos por coação, quando esse estágio já deveria ter sido abolido desde as eras mais primitivas da humanidade. São gerações que não conhecem vizinhos, a conversa na porta. Só a desposse para além do material, além do simbólico, do cultural, do religioso", avalia.
"Seria um problema
resolvido se houvesse uma pequena desconcentração de renda na elite, e
falo deste caso em Alagoas. Não é uma revolução. Mas a inclusão para se
eliminar esse fenômeno da nova barbárie, pessoas que apenas comem para
manter o corpo de carne vivo, não tão diferente dos animais que
perambulam nas ruas", analisa a cientista social.
No outro extremo
deste quadro social, 0,74% dos brasileiros recebem mais de 20 salários
mínimos por mês. No Nordeste, essa proporção cai para 0,38%. Em Alagoas,
é ainda menor: apenas 0,3% da população pertence à classe dos ricos.
0 comentários:
Postar um comentário