Trecho de artigo de José Maria Ridao, em El País, 24/07.
1. O crescimento de uma insustentável desigualdade entre regiões do mundo, e entre classes sociais, foi uma advertência constantemente ignorada.
Durante as duas décadas que se manteve em pé a utopia dos mercados desregulamentados, foi tomando corpo um gênero de opções políticas que, ante a insensibilidade dos partidos democráticos para os efeitos perversos do novo credo e a revelação de um novo crash econômico, se especializou em oferecer os bálsamos milagrosos do populismo.
2. A direita ganhou na Europa, não porque suas soluções para a crise são as melhores, venceu porque, até agora, tem mostrado ser menos repugnante que a esquerda para competir no espaço dos populistas (cheio de exaltado louvor ao protecionismo, de cruéis panaceias contra os imigrantes, da mal dissimulada condescendência para com as bolhas econômicas que permitem, realmente, confundir especulação e prosperidade).
E o risco que se corre a partir de agora é que a esquerda, frustrada pela derrota, acabe sucumbindo à tentação de competir nesse mesmo espaço, com o que as águas da insensatez populista acabariam se fechando sobre a cabeça de todos.
3. E a direita, por sua vez, não parece consciente de que se arrisca ao ir deixando pedaços da sua condição democrática no caminho de vitórias eleitorais conseguidas no espaço dos populistas.
Porque a linha de confronto que está se desenhando na Europa, e eles devem ter percebido isso nas recentes eleições para o Parlamento Europeu, não é tanto a que separa os partidos democráticos de uma ou outra tendência, mas a que enfrenta a todos eles com formações populistas.
Se estas ganharam força durante os anos da bonança apoiando-se nos cidadãos prejudicados pelos efeitos perversos da utopia de mercados desregulamentados, agora é o próprio modelo que entrou em crise e, portanto, os cidadãos prejudicados são a maioria, e no futuro poderiam cair nas mãos dos populistas. *
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