Mirem-se naquelas mulheres de Teerã
Em poucos segundos, seu rosto estava coberto pelo sangue que jorrou da boca e do nariz.
"Pressionei a ferida para tentar estancar o sangramento, mas não consegui. Ela morreu em menos de um minuto", disse o médico que tentou socorrê-la no local.
A morte de Neda foi registrada em vídeo por celular. Colocadas na internet, as imagens circularam no globo, expondo o horror nas ruas de Teerã.
"Qualquer um que tenha assistido a esse vídeo percebe que há algo fundamentalmente injusto ali", disse o presidente americano, Barack Obama.
Para evitar que o funeral se tornasse o epicentro de uma rebelião, o governo iraniano providenciou o enterro de Neda às pressas e proibiu sua família de falar com a imprensa. Foi em vão.
A jovem mártir
Fotos AFP e Till Budde/Getty Images
O filme que mostra o assassinato de Neda Agha Soltan rodou o mundo.Fartas da opressão imposta pelos aiatolás, que as tratam como cidadãs de segunda classe, as iranianas fazem ouvir suas vozes à frente dos protestos
Por Thomaz Favaro
Veja
Os protestos no Irã ganharam um rosto: o de Neda Agha Soltan, a bela iraniana assassinada por um bassiji, membro da milícia islâmica ligada ao presidente Mahmoud Ahmadinejad. Vestida de jeans e com os cabelos cobertos, como manda a lei da república islâmica, a jovem estudante de filosofia de 26 anos levou um tiro no peito, disparado à queima-roupa.Veja
Em poucos segundos, seu rosto estava coberto pelo sangue que jorrou da boca e do nariz.
"Pressionei a ferida para tentar estancar o sangramento, mas não consegui. Ela morreu em menos de um minuto", disse o médico que tentou socorrê-la no local.
A morte de Neda foi registrada em vídeo por celular. Colocadas na internet, as imagens circularam no globo, expondo o horror nas ruas de Teerã.
"Qualquer um que tenha assistido a esse vídeo percebe que há algo fundamentalmente injusto ali", disse o presidente americano, Barack Obama.
Para evitar que o funeral se tornasse o epicentro de uma rebelião, o governo iraniano providenciou o enterro de Neda às pressas e proibiu sua família de falar com a imprensa. Foi em vão.
A jovem mártir
Fotos AFP e Till Budde/Getty Images
À esquerda, uma foto de Neda antes da tragédia. À direita, seu rosto ensanguentado exibido em protesto
A luta das iranianas é tremenda por se tratar de um aberto desafio ao coração da ideologia que sustenta a República Islâmica – o conceito de que os aiatolás agem por inspiração divina. A legitimidade da opressão das mulheres é dada pelo que eles interpretam como a vontade de Alá expressa no Corão.
Desafiar a opressão feminina no Irã é perigoso, pois soa como blasfêmia aos ouvidos mais fanáticos. Por isso mesmo, as mulheres são hoje o principal desafio colocado diante dos turbantes xiitas.
Para sorte dos iranianos, não existe, mesmo entre os muçulmanos mais pios, uma visão única de como deve ser um estado islâmico. Muitos acreditam que, com doses de pragmatismo e humanismo, é perfeitamente possível conciliar a fé no Corão com a liberdade feminina.
"O que está em jogo no Irã não é a existência do regime teocrático em si, mas se o governo vai permitir a existência de mais liberdades individuais ou se será uma ditadura brutal e fechada", disse Goldstone a VEJA.
Os velhos de turbante há trinta anos tentam ignorar a vontade da metade feminina da população. As mulheres de Teerã estão mostrando nas ruas que a opressão está com os dias contados.
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