Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

domingo, 27 de março de 2016

Grupo de Temer diz ter 80% dos votos para rompimento com governo Dilma

O vice-presidente Michel Temer durante o lançamento da plataforma digital da Fundação Ulysses Guimarães
Ailton de Freitas / O Globo


Por Eduardo Bresciani, Júnia Gama
e Simone Iglesias
O Globo


BRASÍLIA - Após dias de reclusão em São Paulo, o vice-presidente Michel Temer desembarcará em Brasília amanhã para tentar unificar o PMDB em torno da decisão majoritária de deixar o governo Dilma Rousseff. Nas contas de integrantes da cúpula do partido, já há maioria folgada para o rompimento de cerca de 80% dos votos do Diretório Nacional. O governo ainda tenta arregimentar apoio do principal partido aliado, mas admite que, na reunião do diretório, terça-feira, a derrota é inevitável. A ofensiva vem em forma de uma “operação de varejo” sobre os demais partidos da base aliada, que também ameaçam seguir os passos do PMDB, no momento em que o governo faz as contas para conseguir o apoio de 172 dos 513 deputados para barrar o processo de impeachment na Câmara. Planalto e PMDB já dão como certo o rompimento. (CONFIRA O MAPA DOS VOTOS DO IMPEACHMENT)



Projeto Próprio de poder
Convenção nacional do PMDB em Brasília - Jorge William / Agência O Globo

O objetivo de Temer é fazer com que o PMDB saia da reunião, marcada para terça-feira, unido para um projeto de poder próprio. O principal eixo das conversas do vice-presidente será o acerto da situação daqueles que mantêm cargos no governo e não querem abandoná-los. Na Esplanada, há sete ministros peemedebistas. Temer tenta sair do encontro como um conciliador entre as tendências do PMDB. Para articular uma tentativa de consenso, desistiu da viagem que faria a Portugal e estará em Brasília na véspera do encontro.

— Michel vai conversar com todo mundo. Ele ficou no Brasil com o único objetivo de conseguir a unidade do partido e do Brasil — afirma um peemedebista próximo ao vice.

LICENÇA DE MINISTROS, UMA OPÇÃO

Entre os sete ministros do PMDB, três, na avaliação da cúpula do partido, devem rejeitar o desembarque: Eduardo Braga (Minas e Energia), Kátia Abreu (Agricultura) e Marcelo Castro (Saúde). São os ministérios de maior porte, e os nomes são vistos como escolha da presidente. Henrique Alves (Turismo) e Helder Barbalho (Portos) devem deixar seus postos após a reunião de terça. Ambos são considerados ministros da cota de Temer. Mauro Lopes (Aviação Civil) tende a seguir a maioria da bancada de Minas Gerais, que se diz favorável à saída do governo. Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) deve se licenciar da legenda para se manter no cargo.

Os ministros terão como prazo até 12 de abril — 30 dias após a data da convenção do PMDB — para decidir que rumo tomar.

— O ideal é que permitam uma licença para os ministros que desejam permanecer ao menos até o dia 12 para vermos como o governo vai reagir. Mas já sabemos que o grande problema do governo tem sido a capacidade de reação. É difícil ver uma saída a partir de agora com a decisão do PMDB, que deve ter efeito dominó. O simbólico já está decidido e parece um processo que não terá volta — disse um ministro do PMDB que é contra o rompimento com o governo.

Está marcada para amanhã uma reunião entre os senadores e os ministros da resistência para tentarem uma posição conjunta sobre como lidar com a decisão do comando do partido. A iniciativa do Rio de Janeiro de abandonar o governo terá efeito cascata sobre os demais diretórios, na avaliação de peemedebistas.



Somente dois diretórios com Dilma

A presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto
Givaldo Barbosa / Agência O Globo

Segundo relatos de peemedebistas, o governo estaria fazendo tentativas desesperadas para tentar recompor com o PMDB e com outros partidos da base, mas muitos consideram ser tarde demais para uma mudança.

— É tarde demais para negociar qualquer coisa com o governo. Vai ser o voto de cada um, que está sendo muito cobrado pelos eleitores — afirma o deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), que se diz favorável ao desembarque e ao impeachment.

Nos cálculos do partido, apenas dois diretórios estariam firmes a favor do governo: Alagoas, com cinco votos, e Amazonas, com dois votos. No Sul, os votos favoráveis ao desembarque são dados como quase unânimes, assim como nos diretórios de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Acre e Roraima, o que, com Rio e Minas, alcançaria cerca de 80% do total de 155 votos. Caso Temer consiga costurar o consenso amanhã, os dirigentes do PMDB pretendem chegar à ruptura do governo por aclamação.

PP DEFINE FUTURO ESTA SEMANA

A “operação de varejo” do governo não é mais garantia para o Planalto de que terá o apoio para barrar o impeachment. Além do partido da presidente, o PT, que tem 58 deputados, o governo só conta neste momento com a garantia dos votos de dois dos oito partidos aliados que ocupam ministérios: PDT (Comunicações) e PCdoB (Defesa), que somam 33 deputados. O PSOL, que faz oposição e tem seis deputados, também se posiciona contra o impeachment. Com isso, o núcleo duro dos contrários ao afastamento da presidente tem hoje 97 deputados, 75 a menos do que o necessário para impedir sua derrubada. Os principais partidos da oposição, por sua vez, partem de um piso de 111 votos pelo impeachment e contam com a fragilidade da base aliada para alcançar os 342 apoiadores de que necessitam.

O PP se reúne no dia seguinte ao PMDB para discutir o rompimento, o PRB já deixou o governo há dez dias, e PSD, PR e PTB estimam hoje que a maioria vote pelo impeachment.

— Não adianta ter ministério. O governo precisa de deputados e, para isso, precisa entregar cargos, emendas, obras na base. O prazo está se esgotando, e nada está acontecendo — explica o presidente de um partido aliado.

A força dos ministros peemedebistas é pequena junto à bancada, tanto que Celso Pansera e Marcelo Castro querem retomar os mandatos na Câmara para tentar salvar Dilma. Eles não conseguem sequer transferir votos aos suplentes. O PMDB tem 69 deputados, e, apesar de o governo ter vencido a eleição para líder ao apoiar Leonardo Picciani (RJ), a avaliação é que o cenário atual é de maioria anti-Dilma. Com o desembarque da legenda, a migração a favor do impeachment deverá ser maior.

O PP, que tem 49 deputados, vai discutir seu rumo nesta semana. Uma lista de assinaturas coletadas na Câmara e no Senado mostrou que a maioria da base parlamentar do partido defende a saída do governo. O partido comanda a cobiçada pasta da Integração Nacional, mas o ministro licenciado, Gilberto Occhi, não tem penetração na bancada. O presidente da legenda, Ciro Nogueira (PP-PI), convocou para a quarta-feira uma reunião com deputados e senadores para debater o tema. A estimativa é que dois terços da bancada na Câmara já sejam anti-Dilma.

— Esse movimento de romper com o PT já existia desde 2014, o que aconteceu é que agora nosso grupo cresceu — afirma o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), que coletou as assinaturas pelo rompimento.

O primeiro partido a deixar o governo foi o PRB, que tem 22 deputados e comandava o Ministério do Esporte. O ministro, George Hilton, chegou a trocar de legenda para tentar manter o cargo, mas o PROS tem apenas quatro deputados, e o líder Ronaldo Fonseca (DF) anunciou que os votos serão pelo impeachment.

PSD NÃO GARANTE APOIO DE BANCADAS

Os ministros de Cidades, Gilberto Kassab (PSD), e Transportes, Antonio Carlos Rodrigues (PR), já avisaram pessoalmente a Dilma que não têm como garantir o apoio de suas bancadas ao governo. Ambas estão rachadas ao meio, e, segundo o relato feito por eles à presidente, o número contra o governo aumenta a cada dia. O PSD tem 32 deputados, e o PR, 40.

— A cada dia fica mais difícil garantir votos a favor da presidente. O clima está muito ruim, e a tendência é que piore. A bancada está muito dividida, vai prevalecer o sentimento das ruas. Nenhum deputado vai votar só de acordo com sua consciência, tem muita pressão popular — disse um membro da cúpula do PR.

O PTB, que comanda o Ministério do Desenvolvimento com Armando Monteiro, é mais um partido que não garante votos à presidente. O ex-deputado Roberto Jefferson, principal liderança da legenda, virá a Brasília nesta semana na tentativa de pressionar o partido pelo impeachment. Jefferson foi o delator do mensalão e recebeu na semana passada indulto do Supremo Tribunal Federal. Ele é próximo do relator do processo, Jovair Arantes, que é líder da bancada. Jovair é ligado ao governo, mas também é próximo de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos principais articuladores do afastamento da presidente.

Cortejado pelo governo no final do ano passado, o PSB, que tem 31 deputados, divulgou nota no início do mês afirmando que marcha para a oposição e veiculou na semana passada programa partidário com ataques a Dilma. A Rede, de Marina Silva, tem maioria pró-impeachment. O governo pode ainda buscar votos em pequenas legendas, como o PTdoB, do vice-líder do governo Sílvio Costa (PE). O calendário, porém, joga contra, pois a previsão é que, em três semanas, o processo será julgado em plenário.

27/03/2016

0 comentários: