Secretário de Estado voltou a culpar o regime Assad pelo massacre de civis
O secretário de estado americano John Kerry fala sobre a atuação dos EUA na guerra civil síria
(Jason Reed/Reuters)
Veja.com
O secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou nesta sexta-feira que pelo menos 1 429 sírios foram mortos no ataque químico da última semana, incluindo ao menos 426 crianças. Em mais um pronunciamento sobre a crise na Síria, Kerry voltou a dar fortes indicações de que os Estados Unidos pretendem realizar uma intervenção no país – independentemente do aval das Nações Unidas. Depois de destacar o “grande respeito” do governo americano pela ONU e seus inspetores, o secretário americano lembrou que a investigação que está sendo conduzida nos locais dos ataques não tem a responsabilidade de apontar culpados, apenas de dizer se houve mesmo o uso de armas químicas. “Pela definição de seu próprio mandato, a ONU não pode nos dizer nada que nós já não saibamos”, ponderou.
Especialistas em armas químicas da ONU visitam pessoas afetadas pelo suposto ataque com gás, em um hospital no subúrbio de Damasco - (26/08/2013) -
Abo Alnour Alhaji/Reuters
Kerry disse que os EUA estão determinados a tomar “suas próprias decisões, em seu próprio tempo”. “Vamos continuar consultando o Congresso, nossos aliados e o povo americano”, acrescentou.
Referindo-se ao ditador Bashar Assad como “matador” e “assassino”, o secretário afirmou que os Estados Unidos sabem que o governo sírio usou armas químicas várias vezes neste ano. Segundo Kerry, três dias antes do ataque do dia 21, o pessoal de armas químicas do governo já estava preparando o ataque no subúrbio de Damasco. As equipes foram avisadas que deveriam se preparar, “usando máscaras de gás” e tomando outras precauções. Além disso, completou, a inteligência americana sabe que os ataques partiram de áreas controladas pelo regime e foram lançados apenas contra posições controladas por opositores. “Agora que sabemos o que sabemos, a questão é o que vamos fazer?”
Outras guerras – Kerry afirmou ainda que nada do que os EUA vierem a fazer na Síria será uma repetição do que ocorreu nas intervenções no Iraque, no Afeganistão ou na Líbia. “Nós sabemos que depois de uma década de conflito, o povo americano está cansado de guerra. Acreditem, eu também estou. Mas o cansaço não nos isenta de nossa responsabilidade”, ressaltou. “Esse crime contra a consciência, esse crime contra a humanidade, isso importa para nós”.
Obama – Pouco depois do pronunciamento de Kerry, o presidente Barack Obama também voltou a se manifestar sobre a crise na Síria, dizendo que o ataque químico ameaçou interesses de segurança nacional dos EUA. “Esse tipo de ataque é um desafio para o mundo. Não podemos aceitar um mundo onde mulheres e crianças são atingidas por gases”.
O presidente voltou a dizer que ainda não decidiu qual será a resposta americana aos ataques, e reforçou que tem consultado aliados e o Congresso a respeito. “Não estamos considerando qualquer compromisso de duração ilimitada. Não estamos considerando nenhuma aproximação com tropas”.
Intervenções do ocidente que ocorreram sem aval da ONU
Caso os EUA e seus aliados decidam bombardear a Síria sem o apoio de uma resolução, não será a primeira vez que uma intervenção ocorre ignorando a ONU
A falta de aval
Reunião do Conselho de Segurança da ONU
Uma semana depois de terem surgido os primeiros indícios de um ataque com armas químicas na Síria, parece iminente a possibilidade de uma intervenção militar das potências ocidentais para punir o ditador sírio Bashar Assad. Se a decisão for tomada, é provável que os Estados Unidos e seus aliados bombardeiem o território sem um aval do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Entre os desafios para legitimar a ação estão a possibilidade de um veto da Rússia e da China – que são aliadas do ditador e tem o poder de bloquear qualquer resolução – e a morosidade costumeira da ONU– o secretário-geral Ban Ki-Moon já pediu mais tempo para o trabalho dos inspetores que estão na Síria e “mais diplomacia” para tratar a crise. Se isso de fato ocorrer, não será a primeira vez que a falta de aval da ONU impede uma ação militar.
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