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domingo, 7 de outubro de 2012

Derrocada do PT e disputas acirradas marcam eleições



Maioria das capitais só definirá prefeito no 2º turno. Segundo a Justiça Eleitoral, mais de 138 milhões de brasileiros vão às urnas neste domingo para escolher 5.568 prefeitos e 57.434 vereadores. Pleito põe à prova influência de Lula

Carolina Freitas e Kamila Hage
Veja on line
Montagem de seção eleitoral em São José dos Campos
Montagem de seção eleitoral em São José dos Campos
Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress


As eleições municipais de 2012 são as primeiras com a Lei da Ficha Limpa em vigor, com Dilma Rousseff presidente e, passada a Era Lula, a primeira com o ex-presidente livre para fazer campanha por seus candidatos, sem restrições legais. Não que a Lei Eleitoral constrangesse Luiz Inácio Lula da Silva ao promover seus afilhados quando estava no poder, mas a força do padrinho era a grande aposta do PT nestas eleições. O plano, no entanto, fez água. Mais de 138 milhões de brasileiros vão às urnas neste domingo com cenários acirrados em boa parte das capitais e um anseio pela renovação de quadros na maioria delas. Veja detalhes.

Entre as capitais, o PT só está na dianteira em Goiânia e João Pessoa. Em Porto Alegre, tradicional reduto petista, Porto Velho e Campo Grande os candidatos do partido sequer têm chances de chegar ao segundo turno. No maior colégio eleitoral do Brasil, a cidade de São Paulo, o PT corre para tentar garantir a presença de Fernando Haddad no segundo turno. Nem a queda acentuada de Celso Russomanno (PRB) nas últimas semanas ajudou Haddad, que patina sem chegar aos 20% de intenção de voto. Os votos de Russomanno migraram para o quarto colocado em São Paulo, Gabriel Chalita, do PMDB.

São Paulo e Belo Horizonte foram as duas capitais em que a presidente Dilma Rousseff desembarcou para participar da campanha, na tentativa de alavancar os candidatos petistas: Haddad e, na capital mineira, Patrus Ananias. Pouco afeita a palanques eleitorais a presidente bradou ao microfone e foi para a televisão defender os correligionários. Pouco adiantou. Em Minas a interferência de Dilma, que tentava já fazer frente ao tucano Aécio Neves, foi tão inócua que, segundo as últimas pesquisas, há chance de o prefeito Marcio Lacerda (PSB) ser reeleito já no primeiro turno.

“Dilma tem um espírito mais republicano do que Lula, mais respeito às instituições, em detrimento de questões de ordem puramente partidárias”, diz o cientista político Humberto Dantas. Ainda que Lula tenha se desdobrado em viagens pelo país para apoiar os candidatos petistas, as eleições de 2012 reforçam a tese de que a transferência de popularidade de uma personalidade nacional para um candidato local não é automática – nem obrigatória. “Nem sempre esse processo é tão eficiente como se pode imaginar”, afirma Dantas.
              

O mais claro exemplo da limitação dos superpoderes – que o ex-presidente acredita ter – são as eleições em Recife, a cidade onde Eduardo Campos mediu forças com Lula e o venceu. Governador e presidente nacional do PSB, Campos decidiu lançar candidato próprio, o até então desconhecido Geraldo Júlio. O PT foi de Humberto Costa. Às vésperas do dia da votação, o candidato de Campos tem mais de 40% das intenções de voto – vinte pontos porcentuais à frente do segundo colocado, Humberto Costa. Contra o petista pesa uma rejeição de mais de 40% do eleitorado. Não tem Lula que dê jeito.

Renovação e disputa acirrada -
Neste domingo, os brasileiros vão às urnas para eleger 5.568 prefeitos e 57.434 vereadores. Na maioria das capitais, no entanto, a votação de hoje será só a primeira etapa para a escolha do prefeito. Levantamento do site de VEJA com base nas recentes pesquisas de intenção de voto aponta que em vinte capitais o prefeito só será definido no segundo turno. Veja no quadro ao lado. Em apenas seis delas, a decisão deve se dar já neste domingo, no primeiro turno: Rio de Janeiro, Porto Alegre, Maceió, Aracaju, Boa Vista e Palmas, que, por ter menos de 200.000 habitantes, não tem segundo turno.

O cenário inverte o que aconteceu nas eleições de 2008, quando quinze capitais decidiram o pleito no primeiro turno e só onze tiveram segundo turno. O fato é que 2012 terá disputas acirradas nos maiores colégios eleitorais do país e uma tendência à pulverização em detrimento da polarização do voto do eleitor. O panorama mostra também uma taxa maior de renovação nas capitais. Enquanto na eleição passadas treze prefeitos conseguiram se reeleger já no primeiro turno, a tendência é que apenas dois prefeitos garantam a continuidade de seus governos neste domingo: José Fortunati (PDT), em Porto Alegre, e Eduardo Paes (PMDB), no Rio de Janeiro.

Ficha Limpa -
As eleições de 2012 marcam a estreia da Lei da Ficha Limpa, que impede políticos condenados por tribunais colegiados de se candidatarem. E a inovação já reflete nas urnas, ainda que de forma embrionária. “A Lei da Ficha Limpa tem um caráter pedagógico”, afirma Humberto Dantas. O cientista político pondera que a lei não impediu a candidatura de políticos de passado sujo, como Rosinha Garotinho (PR), líder das pesquisas com 60% de preferência em Campos de Goytacazes (RJ).

O procurador regional eleitoral de São Paulo, André de Carvalho Ramos, afirma ter percebido uma mudança de cultura dos partidos já no registro das candidaturas. “Houve uma preocupação dos partidos em escolher candidatos que tivessem uma vida pregressa minimamente adequada aos critérios de moralidade e respeito à coisa pública”, afirma Ramos. “A Lei da Ficha Limpa pegou.”

Na cidade de São Paulo, o TRE registrou 80.000 candidaturas e analisou 600 casos de possível embargo com base na Ficha Limpa. Ao final, 330 candidaturas foram impugnadas com base na lei. “A Ficha Limpa é um degrau, dentro da escada que estamos subindo rumo à maturidade da democracia brasileira.”

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