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sábado, 6 de março de 2010

A soberba e as urnas tendem a não andar juntas.

À espera do voo tucano

A ascensão de Dilma Rousseff e a pressão do PSDB para antecipar a candidatura não alteram os planos de Serra para a sucessão.

Ele decola oficialmente em abril – e ainda sonha ter Aécio como vice
Otávio Cabral
Fotos Charles Silva Duarte/Folhapress e Alex de Jesus/AE
MÃOS À OBRA
Serra e Aécio seguem conversando sobre uma candidatura com o mineiro na vicena solenidade de inauguração do novo centro administrativo: "Se alguém me convencer,obviamente tenho de avaliar", diz Aécio

O governador de São Paulo, José Serra, esteve em nove eventos públicos na semana passada. Foi saudado como o candidato dos tucanos, discursou como o candidato dos tucanos, posou como o candidato dos tucanos, mas não anunciou formalmente sua entrada na disputa.
Ele o fará até o início de abril.

Adiar o máximo possível a decisão exasperou seus aliados. Aos olhos de Serra, porém, a estratégia se justificou. Ela o poupou por mais tempo de ser alvo preferencial de ataques, com o consequente desgaste natural que isso acarreta a quem, como ele, lidera as pesquisas de intenção de voto.
A candidata oficial, Dilma Rousseff, está em campanha há quase dois anos e já aparece nas pesquisas a apenas 4 pontos do governador.

Mas nem mesmo isso acelerou os planos de Serra. Ele se manteve fiel ao cronograma original desenhado em sua cabeça no ano passado. Essa é a parte da estratégia tucana que parece estar sob controle.
O que claramente não está é a composição da chapa que vai disputar a eleição com Dilma Rousseff neste ano. Isso ficou evidente na principal incursão de Serra na semana passada – a tentativa de convencer o governador Aécio Neves a aceitar a candidatura à Vice-Presidência.

Um bom desempenho em Minas, o segundo maior colégio eleitoral do país, com 14 milhões de votos, é fundamental para os tucanos, que pretendem compensar no Sudeste a montanha de votos que Lula provavelmente transmitirá para a candidatura da ministra Dilma.

Alistar Aécio como segundo nome da chapa tucana é, como dizem os mineiros, fácil ou impossível. Governador em segundo mandato, com aprovação expressiva em Minas, Aécio tinha legítima intenção de ser o candidato do PSDB à Presidência.

Desistiu oficialmente em dezembro passado.
O convite formal para Aécio Neves ingressar na chapa como candidato a vice-presidente foi feito pelo governador paulista durante uma longa conversa que os dois tiveram em Brasília na quarta-feira passada, que invadiu a madrugada.

Segundo aliados de Serra, no cardápio apresentado para tentar seduzir Aécio, ele ofereceu o óbvio: espaços amplos de atuação ao vice – ou seja, ministérios – num eventual governo tucano.

Quais ministérios?
Não se chegou a esses detalhes.

Serra disse que, uma vez presidente, sua prioridade de reforma política será acabar com a reeleição, restabelecendo o mandato único de cinco anos – a valer para o seu sucessor. Assim, Aécio poderia ser candidato à Presidência já em 2015.
O governador de Minas não se rendeu aos argumentos de Serra. Repetiu ao colega paulista o que vem dizendo em público – que poderia ajudar mais ficando em Minas Gerais e pedindo votos para o PSDB e que vai arregaçar as mangas, sim, para ajudar a elegê-lo o próximo presidente.

Como se vê, eles têm objetivos comuns, mas caminhos diferentes.
Dirigentes tucanos, entre eles o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, acreditam que ainda há tempo para contornar a intransigência do governador mineiro. Não é uma aposta desprovida de sentido.

As comemorações do centenário de Tancredo Neves, o político que devolveu a democracia ao país, são uma amostra de como o jogo ainda está indefinido.

Avô de Aécio, com quem o governador aprendeu a fazer política, o ex-presidente foi homenageado em Minas Gerais em uma solenidade de contornos épicos. A efeméride foi claramente planejada para ressaltar o vigor político do anfitrião, Aécio Neves.

Seu ápice foi a inauguração de um conglomerado administrativo que reunirá 16 000 servidores públicos do governo mineiro, obra projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e que custou 1,2 bilhão de reais. Serra foi tratado pelo dono da festa como candidato. No fim, indagado mais uma vez sobre a possibilidade de integrar a chapa presidencial, deixou as portas abertas:

"O homem público que não resiste a pressões não merece fazer política. Sou um homem de convicções. Tenho as minhas. Enquanto elas não se alterarem, caminho no meu rumo. Se alguém me convencer do contrário, obviamente tenho de avaliar".

Como se vê, será fácil ou impossível para Serra ter Aécio como vice.
A campanha presidencial de José Serra enfrenta desafios dentro e fora do ninho tucano. Enquanto o palanque de Dilma Rousseff já abriga mais de uma dezena de partidos, Serra, até agora, conta apenas com o nanico PPS e o enrolado DEM, chamuscado pelo escândalo de corrupção que levou o único governador eleito pela sigla, José Roberto Arruda, à cadeia.

Se o tucanato não conseguir mesmo convencer Aécio a marchar com Serra, o mais provável é que a vaga de vice seja ocupada por outro tucano. Qual? Ninguém sabe.

Um dos nomes estudados é o senador Tasso Jereissati. Cearense, governador por três mandatos, Tasso é uma alternativa para tentar neutralizar a força eleitoral de Dilma e seu padrinho, o presidente Lula, no Nordeste. Mas nem isso é certo. Jereissati teve quase 2 milhões de votos no Ceará quando se elegeu senador, mas está longe de ser um dínamo com repercussão nacional como Aécio.

A última vez que Tasso foi testado nas urnas foi em 2002, há quase oito anos.

"O cenário é preocupante para os tucanos. Aécio Neves como vice em sua chapa pode ajudar, mas o efeito será mínimo até que Serra se assuma, de maneira indubitável, como candidato", diz o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília.
Serra até agora não deu demonstrações públicas de esmorecimento. Mas, como ocorre com qualquer pessoa, o governador paulista também viveu momentos de aparente dúvida. O mais recente, na semana do Carnaval. A um tucano influente, o governador reclamou que estava se sentindo abandonado por uma parte do PSDB. Nas duas últimas eleições presidenciais, de fato, o partido pouco se empenhou para derrotar Lula.

A maior parte dos dirigentes tucanos acabou priorizando seus próprios interesses regionais em detrimento da campanha presidencial da sigla. Agora mesmo, há sinais no céu de que o problema pode se repetir, como a falta de palanques para Serra em estados importantes como Amazonas, Ceará e Santa Catarina.

As dificuldades levaram o governador paulista a cogitar em desistir da campanha presidencial para concorrer à reeleição em São Paulo. Mudou de ideia ao ser convencido de que a desistência poderia se transformar em um "suicídio político". Sua debandada, ouviu do amigo, poderia ser muito mal recebida até pelos paulistas e provocar sua derrota na disputa pela reeleição. Obteve a garantia de que o partido estaria com ele.
Convicto de que não há mais espaço para recuo, Serra decidiu se dedicar ao cronograma planejado anteriormente. O tucano pretende mesmo anunciar sua candidatura até abril, apesar das pressões do próprio partido para que isso aconteça antes.

O crescimento das intenções de voto na ministra Dilma e a euforia que ele provocou, segundo os estrategistas tucanos, já eram esperados graças à enorme exposição pública da petista ao lado do presidente.

O problema é que isso também pode acabar produzindo efeitos colaterais que costumam se mostrar devastadores em qualquer campanha. No Palácio do Planalto já se fala em vitória no primeiro turno.

Tanto que está definido que a ministra não participará de debates com adversários e que priorizará entrevistas com temas predeterminados, que deixem a polêmica do lado de fora. Pode ser uma simples estratégia para mostrar otimismo ao grande público, mas não é o que parece.

Nos bastidores, a candidata já está fazendo sondagens entre os aliados do partido para compor o futuro ministério, o que costuma despertar outros instintos capitais no mundo político.

Nas últimas duas semanas, o coordenador da campanha da ministra, o ex-prefeito Fernando Pimentel, foi alvo de uma série de acusações, entre elas a de envolvimento no famoso esquema do mensalão.

Políticos próximos a ele atribuem a origem das denúncias a petistas que vislumbram pela primeira vez a possibilidade de uma vitória e que querem tomar seu lugar de olho, novamente, no futuro governo.

"Agora só nos resta evitar derrapadas que impeçam a ministra de vencer",
analisa um dos coordenadores de sua campanha.
A soberba e as urnas tendem a não andar juntas.

Alex de Jesus/AE
HERANÇA DE PESO
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