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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Big Brother is watching you…

George Orwell (Eric Arthur Blair, 1903-1950) desencantado com o desenvolvimento do socialismo, especialmente com sua faceta Estalinista, causa que abraçara para melhor lutar contra o fascismo, dedicou os últimos anos de vida a denunciar o comunismo Estalinista.

Para tanto publicou dois livros, nos anos de 1945 e 1949, ambos com uma projeção de relevo, e que fizeram por acirrar ainda mais o feroz debate ideológico entre comunistas e democratas que dividiu o mundo intelectual na época da guerra fria.

Um deles intitulava-se ‘Animal Farm’, e o outro simplesmente tinha um número na capa, o ‘Nineteen Eigthy Four’ (‘1984′), no qual apareceu pela primeira vez o onipresente Big Brother, o Grande Irmão.
O mundo que imaginou em ‘1984′ para o futuro da humanidade é tudo menos agradável.

Nele, três grandes potências mundiais, a Oceânia, a Eurásia e a Lestásia, mantinham-se em guerra permanente sem a previsão de algum dia qualquer forma de trégua ser alcançada.
A transformação da realidade é o tema principal de 1984.

Disfarçada de democracia, a Oceânia (o complexo político-militar que unia os poderes ocidentais; tem este nome por ser uma congregação de países de todos os oceanos: a união da Alca – Área de Livre Comércio das Américas – Reino Unido, Sul da África e Austrália) vive um totalitarismo desde que o IngSoc (o Partido) chegou ao poder sob a liderança do onipresente Grande Irmão.
O livro conta a história de Winston Smith, funcionário do Ministério da Verdade (Miniver).

A função de Winston é reescrever e alterar dados de acordo com o interesse do Partido; transformar a realidade.

Nada muito diferente de um jornalista ou um historiador.

No Miniver, Winston alterava dados e a história, os originais iam para o incinerador (Buraco da Memória), tudo o que pudesse contradizer as verdades do Partido era eliminado.

Se alguém pensasse de uma forma diferente, cometia crimideia (crime de ideia em Novilíngua, a língua oficial de Oceânia) e fatalmente seria capturado pela Polícia do Pensamento e vaporizado.
Inspirado na opressão dos regimes totalitários das décadas de 30 e 40, o livro não se resume a apenas criticar o Estalinismo e o nazismo, mas todo o nivelar da sociedade, a redução do indivíduo a uma mera engrenagem de uma máquina para servir o estado ou o mercado através do controle total, incluindo o pensamento e a redução do idioma.
Winston Smith representa o cidadão-comum vigiado pelos telecrãs e pelas diretrizes do Partido.

A intenção de Orwell era descrever um futuro baseado nos absurdos do presente.
Winston começa a questionar a opressão que o Partido exerce nos cidadãos.

Num bloco (artigo proibido), e num canto escondido no seu apartamento, Winston anotava tudo o que pensava.

A primeira frase que Winston escreve justifica-se e é atual:
Abaixo o Grande Irmão!

A função de Winston no Miniver, é uma crítica à fabricação da verdade pelos media e da ascensão e queda de ídolos de acordo com os interesses do momento.

A mentira do Partido era a prova que Winston procurava para si.

Revoltado, escreve no seu diário que liberdade é poder escrever que dois mais dois são quatro (muitas fábricas soviéticas, durante o regime comunista, tinham placas com o slogan: dois mais dois são cinco se o partido quiser).


Escrever é um exercício proibido mas necessário.
Recordar e escrever pode ser muito perigoso.

Winston tinha dificuldades em recordar o passado e a vida pré-revolucionária.

Os esforços da propaganda do Partido tornavam a tarefa quase impossível já que o futuro, presente e passado eram controlados pelo Partido.
Winston acabou capturado e torturado no Quarto 101.


Devidamente “reciclado” pelos guardiões da ordem totalitária, Winston é devolvido à “vida”.

Winston termina seus dias a beber gin e a jogar xadrez sozinho no Café do Castanheiro. Ao fundo, seu rosto aparece na telecrã a confessar vários crimes. Teve sua posição rebaixada para um trabalho ordinário num sub-comité.

Trajectória comum a milhares de pessoas de regimes totalitários, como o checo Thomaz de “A Insustentável Leveza do Ser” de Milan Kundera, o caso do médico que se torna pintor de paredes ao renegar as ordens do partido não é muito diferente daqueles que não se adaptam às suas profissões no mundo livre.

Tinha “crescido” ao trair-se a si próprio.

Winston, no Café do Castanheiro, sorri.

Está completamente adaptado ao mundo.

Finalmente, ele ama o Grande Irmão.

“(…) Duas lágrimas impregnadas de gin escorrem-lhe de ambos os lados do nariz. Mas estava tudo bem, tudo bem, a luta tinha chegado ao fim. Alcançara a vitória sobre si próprio.
 
Amava o Grande Irmão.
O livro contém ainda críticas às políticas de alianças entre os vários países à época, críticas que ainda hoje são actuais. Naquela época a Eurásia era o inimigo, mas rapidamente o deixava de ser, e a Lestásia deixava de ser o aliado e passava a ser o inimigo.

Esta era uma crítica às alianças políticas da época, principalmente ao pacto entre Hitler e Estaline. Hitler chega ao poder financiado por sectores dos EUA para combater o avanço do comunismo na Europa.

Bastante actual se compararmos com o apoio dado pelos EUA a Saddam Hussein e Osama Bin Laden para combater o comunismo.

Agora, eles são os inimigos eternos (bem, o Saddam já não é).


Não está em questão se a guerra é ou não real, a vitória não é possível.
A guerra não existe para ser vencida, existe para ser contínua.
A sociedade hierarquizada só é possível se se basear na pobreza e na ignorância.


Esta nova versão é o passado e nenhum passado diferente pode ter existido. Em princípio, o esforço da guerra é sempre planejado para manter a civilização no limite da morte pela fome.

A guerra é empreendida pelos governantes contra os seus próprios cidadãos e o seu objetivo não é a vitória sobre a Euro-Ásia ou Ásia do leste mas sim, o de manter a própria estrutura da sociedade intacta.
George Orwell, in ‘1984′

Novembro 8, 2006

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