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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

As revelações de Jair Krischke

As revelações de Jair Krischke
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Enviado por Depoimento a Henrique Júdice Magalhães Veterano lutador contra o terrorismo de Estado na América do Sul, Jair Lima Krischke preside o Movimento de Justiça e Diretos Humanos (MJDH), sediado em Porto Alegre.


Ex-funcionário do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), ele teve atuação decisiva no deslinde do sequestro dos uruguaios Universindo Díaz e Lilian Celiberti por militares do país vizinho em conluio com autoridades brasileiras, ocorrido em 1978, na capital gaúcha.

De lá para cá, investigou e registrou vários casos semelhantes, compondo, a partir deles, um valioso arquivo. No início de junho, Jair recebeu a reportagem de AND para uma conversa na sede o MJDH, no centro de Porto Alegre, dando origem à primeira de uma série de reportagens. Eis seu teor.

1. Os mentores brasileiros da Operação Condor

"A Operação Condor foi criada, oficialmente, em uma reunião realizada em Santiago, em novembro ou dezembro de 1975. Nessa reunião, estavam presentes representantes dos governos da Bolívia, Paraguai, Chile, Uruguai e Brasil."

"Os mentores eram os brasileiros.

O embaixador do Brasil em Santiago, Antonio Câmara Canto, era amicíssimo de vários oficiais chilenos, como o general Sérgio Arellano Stark (Nota do Autor: comandante da chamada "Caravana da Morte", estopim da prisão de Pinochet no Chile, ocorrida em 2006).

Camara Canto deixou a embaixada, por causa da saúde, em setembro de 1975 e foi acompanhado até o aeroporto por um cortejo de militares chilenos. É impossível que não tivesse participado da preparação desse encontro."

Precedentes

"A reunião de 1975 serviu, na verdade, como uma formalização do que já havia. Em 1971, por exemplo, houve aquele plano do governo militar brasileiro de invadir o Uruguai — a "Operação 30 Horas", denunciada pelo Paulo Schilling (NA: economista e jornalista, então colaborador de Leonel Brizola) e pelo coronel do Exército Brasileiro Dickson Grael.

A Operação 30 Horas só não aconteceu porque o resultado das eleições uruguaias acabou sendo favorável aos interesses dos autores do plano (NA: mediante fraude eleitoral, que levou ao governo Juan Maria Bordaberry em lugar do legitimamente eleito, Wilson Ferreira Aldunate, que, embora não fosse o alvo principal das ambições intervencionistas do regime de 64 — que recaíam, antes de tudo, sobre a possibilidade de vitória do candidato da Frente Ampla, general Líber Seregni — tampouco era palatável aos interesses que comandaram os golpes de 1964, no Brasil, e 1973, no Uruguai).

Anos depois, um general brasileiro, Ruy de Paula Couto, disse que aquele plano havia sido elaborado a pedido dos uruguaios..."

"Sobre a Operação 30 Horas, existem documentos norte-americanos desclassificados que contam tudo. Médici foi a Washington D.C. na época e entrevistou-se com Nixon e Kissinger sobre o assunto."

"No dia 11 de setembro de 1973, a embaixada brasileira em Santiago — um prédio muito bonito — amanheceu em festa, com as luzes acesas. O embaixador Camara Canto foi um dos homens-chave na preparação do golpe no Chile e era chamado por alguns "o quinto homem da junta" (NA: ao lado dos quatro comandantes militares — Pinochet, Leigh, Merino e Mendoza).

Antes mesmo do golpe, o SNI operava clandestinamente no Chile, acobertado pela embaixada, infiltrando-se entre os exilados e empreendendo ações para desestabilizar o governo Allende.

Naquela época, havia mais de 5 mil brasileiros exilados no Chile. Nos primeiros dias do golpe, havia uns cem brasileiros presos no Estádio Nacional e há relatos de que militares brasileiros participavam das torturas que ocorriam ali."

Militares visados

"Além disso, há vários casos em que se adotava já, desde muito antes de 1975, o modus operandi típico da Operação Condor.

O coronel brasileiro Jefferson Cardim Osório (NA: ligado a Leonel Brizola, o coronel Cardim Osório havia comandado uma tentativa de levantamento guerrilheiro no interior do Rio Grande do Sul, em 1965) foi sequestrado em Buenos Aires junto com seu filho; os dois foram levados, clandestinamente, para o Rio de Janeiro num avião da FAB (Força Aérea Brasileira). Isto em 1970."

"Outro caso foi o do major Joaquim Pires Cerveira (NA: ex-membro do Partido Comunista, à época militante da Frente de Libertação Nacional).

O major Cerveira foi sequestrado em Buenos Aires junto com um estudante, João Batista Rita Pereda, em dezembro de 1973, e entregue ao embaixador brasileiro. Morreram sob tortura, no DOI-CODI do Rio."

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24 January, 2010
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"A menção às patentes de Cardim e Cerveira não é casual. Os militares que se opuseram ao regime de 64 eram especialmente visados."

Passando recibo

"Outro nome importante nos precedentes da Operação Condor é o do embaixador Pio Corrêa, que representou o Brasil no Uruguai e na Argentina no fim da década de 1960 e foi o chefe de um serviço secreto clandestino que havia sido criado no Itamaraty.

Corrêa recebia pessoalmente, das mãos de agentes do Estado argentino, brasileiros sequestrados e colocava-os em aviões da FAB, que iam buscá-los no aeroporto de Ezeiza para levá-los ao Brasil.
O embaixador passava até recibo da entrega dos prisioneiros."

2. Assassinatos seletivos

"Entre 1976 e 77, num curto espaço de tempo, várias lideranças políticas importantes, opositoras aos regimes militares de seus países, morreram em circunstâncias misteriosas: João Goulart, Juscelino Kubitschek, Orlando Letelier (NA: chileno, ex-chanceler de Allende), Zelmar Michelini (NA: uruguaio, ex-presidente do Senado), Héctor Gutiérrez Ruiz (NA: uruguaio, ex-presidente da Câmara dos Deputados), general Juan José Torres (NA: boliviano, ex-presidente de seu país).

Wilson Ferreira Aldunate também estava marcado para morrer junto com Michelini e Gutiérrez Ruiz, mas escapou a tempo. Houve também o atentado contra o ex-vice-presidente chileno Bernardo Leighton, ocorrido em Roma, em 1976."

"Todos esses casos estão no âmbito da Operação Condor.

É coincidência demais que todas essas figuras, que representavam ameaças reais aos regimes militares da época, tenham morrido em tão curto espaço de tempo, todas de forma mal-explicada. Se alguém ainda tem dúvida disso, é porque as pessoas nem sempre analisam os fatos em seu devido contexto. Pode até ser que, tomando cada caso desses isoladamente, ainda desse para ter dúvida. Olhando o conjunto, não."

"O que acontece é que esses regimes militares haviam sido instaurados e faziam tudo com o apoio dos americanos e, em 1976, é eleito o Carter, com um discurso contrário a tudo isso.

Então, eles ficam preocupados com o que poderia acontecer e resolvem agir rápido para limpar o terreno. Imagine se João Goulart volta ao Brasil, o que poderia acontecer..."

"Todos esses líderes eram monitorados dia-e-noite.

Houve uma reunião em Buenos Aires, em 1976, entre Jango, Torres e Michelini, que está rigorosamente descrita num documento do serviço secreto uruguaio. Eles infiltravam agentes."

Os tentáculos da P-2

"O assassinato do Letelier, que ocorreu em Washington D.C., território americano, teve a participação decisiva dos gusanos (NA: a máfia cubana de Miami) e de ex-marines. Causou um grande mal-estar, porque os americanos permitem que se faça isso tudo, mas não no território deles. Eles querem a sujeira lá longe."

"No caso do atentado contra o Bernardo Leighton, houve colaboração da ultradireita italiana e estamos investigando a provável participação da P-2 (NA: loja maçônica integrada por proeminentes membros do mundo político e empresa rial italiano, envolvida em episódios como o sequestro e assassinato do primeiro-ministro da Itália, Aldo Moro, em 1978; a misteriosa morte do papa Albino Luciani, conhecido como João Paulo I, ocorrida no mesmo ano; e a falência fraudulenta do Banco Ambrosiano, pertencente à Santa Sé, em 1982).

O Massera (NA: Emilio Massera, almirante, membro da junta militar argentina de 1976) era membro destacado da P-2. Sabe-se que a P-2 tinha interesses financeiros na América do Sul, que passavam por uma agência do Banco Ambrosiano que havia em São Paulo".


3. Os crimes da "abertura"

"Em 1980, houve dois casos de sequestro de argentinos em território brasileiro — um no Rio de Janeiro, outro em Uruguaiana (RS). Horacio Campiglia e Monica Pinus de Binstock foram sequestrados no aeroporto do Galeão, em 12 de março de 1980 — preste bem atenção na data — e entregues à ditadura argentina. Quando um juiz italiano pediu a extradição dos envolvidos no caso, o ministro Tarso Genro, imediatamente, saiu falando em anistia.
 

Acontece que a anistia foi em 1979 e não abrange crimes cometidos depois dela; ela não se projeta para o futuro. Aí o ministro falou em prescrição.
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24 January, 2010


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Só que também não tem prescrição, porque é sequestro, e está em curso: eles estão desaparecidos, os corpos não foram encontrados, não estão oficialmente mortos. Então é sequestro, e ainda em andamento."

"Em 1983, nós demos um jeito de trazer o Wilson Ferreira Aldunate e o filho dele, o Juan Raúl, a Porto Alegre, para facilitar a comunicação deles com seus aliados uruguaios. Inventamos um seminário e ele veio com um convite da Assembléia Legislativa.

Pois bem: o Wilson foi monitorado o tempo inteiro durante essa visita.

Os arquivos do serviço secreto uruguaio têm até a transcrição das conversas dele no hotel; eles usavam escuta ambiental. Ora, militares só agem em outro país autorizados por seus pares. O regime militar uruguaio não combinou isso com o delegado Pedro Seelig, assim como não foi com ele que combinaram o sequestro do Universindo e da Lilian. Ele era só um elemento subalterno. A autorização veio de cima, era uma conversa entre exércitos e entre governos."

Os arquivos do terrorismo de Estado

"Eu tive acesso a esses documentos no Uruguai, junto ao ministério das Relações Exteriores de lá. Ali consta tudo. E consta inclusive uma coisa muito interessante. Dizem que no Brasil não existem mais documentos da Operação Condor, que foram queimados.

Pois é mentira.

Existe um padrão internacional: nenhum serviço secreto, por mais vagabundo que seja, queima suas informações. Essa história é mentira e eu provo!

Os arquivos do DOPS gaúcho supostamente foram queimados em 1982, não é? (NA: nesse ano, o governo do RS anunciou que havia eliminado esses arquivos)

Pois nesses documentos do serviço secreto uruguaio — que são de 1983 — consta a cópia da ficha do Régis Ferretti (NA:militante comunista gaúcho, recentemente falecido) no DOPS, inclusive com anotações de 83.

Isso mostra que os uruguaios tiveram acesso às fichas do DOPS e que os arquivos não foram queimados. Queimaram as fichas, mas está tudo em microfilme. Está no Comando Militar do Sul, no 5º andar."


O último crime?

"O último caso típico da Operação Condor é o do (Eugenio) Berrios.
O Berrios era um químico da DINA (N do A: polícia política chilena), que foi encarregado de produzir gás sarin para o assassinato do Letelier.

Como ele não conseguiu, usaram o método tradicional mesmo: uma bomba.

Em 1993, ele foi sequestrado em Buenos Aires e levado a Montevideo, onde foi mantido confinado num apartamento, sob custódia de dois oficiais chilenos.

O Berrios era considerado por eles o elo fraco; era alcóolatra, podia abrir a boca de uma hora para outra. No Uruguai, ele conseguiu fugir e foi a uma delegacia de polícia dizendo que o Pinochet queria matá-lo.

Os chilenos disseram que ele era louco; o delegado mandou ele fazer um exame e o médico disse que não era louco coisa nenhuma. Então, os chilenos telefonaram para um coronel uruguaio que tira o Berrios da delegacia. Ele nunca mais foi visto, até que, dois anos depois, durante uma escavação para uma obra nos arredores de Montevideo, encontram uma ossada e o seu relógio."

"Não se sabe o que aconteceu exatamente com a estrutura da Operação Condor após o fim dos regimes militares.

Os brasileiros eram mestres em não deixar digitais. Sabe-se que o aparato de informações da Operação Condor continua existindo; isto está numa ata de uma das últimas reuniões dos exércitos americanos, ocorrida em Mar del Plata."

"Sabe-se também que ainda há relações de colaboração entre órgão de segurança. A DEA (Drugs Enforcement Administration) norte-americana paga a alguns agentes da Polícia Federal brasileira mais que a própria Polícia Federal para que eles não deixem a droga ir para lá.

A formação e os critérios de atuação das polícias brasileiras ainda são aqueles estabelecidos na repressão: as PMs são consideradas forças auxiliares do Exército e têm o serviço reservado, a PM2 — isto é, a Doutrina de Segurança Nacional ainda está presente."


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1 comentários:

Mujahdin Cucaracha disse...

Procurando bem, é possível que se encontre provas de que Judas era um agente dos militares brasileiros que ajudaram na morte de Jesus Cristo.