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quinta-feira, 26 de junho de 2008

Três meses antes de Ruth morrer eles tentaram assassinar a sua reputação.

RUTH CARDOSO


Trechos do artigo de Reinaldo Azevedo

A morte de Ruth Cardoso nos surpreendeu a todos e, por algum tempo ao menos, parece ter tirado o país de uma espécie de transe. E nos demos conta, de súbito, de que chegava ao fim a trajetória de uma intelectual que, nos oito anos em que o marido foi presidente da República, comportou-se com uma elegância e discrição ímpares, sem, no entanto, deixar de fazer o seu trabalho: quem quer faça a genealogia honesta dos programas sociais em curso vai chegar às iniciativas de Ruth à frente do Comunidade Solidária.

Mas uma lição da professora, no entanto, foi esquecida: ela tinha horror ao assistencialismo. Aliás, não custa anotar à margem: o governo FHC tinha uma espécie de vergonha de fazer propaganda de seus programas de transferência de renda.

O lulismo, ao contrário, faz publicidade até da renda que não transfere.

Aos 77 anos, podendo viver uma vida confortável, dedicar-se apenas a seus livros, aos netos, às viagens que eventualmente fazia em companhia do marido em palestras mundo afora, Ruth, não obstante, trabalhava pra valer na ONG Comunitas, sucessora do Comunidade Solidária.

E com recursos que buscava na iniciativa privada — aliás, era o que fazia também o Comunidade Solidária. A ONG de Ruth era mesmo “não-governamental”.

Desde que se fez professora, no Brasil ou no exílio, jamais deixou de trabalhar. E a morte a encontrou, perto dos 80 anos... trabalhando!

Não é espantoso? Ruth, sozinha, era um verdadeiro Partido dos Trabalhadores.

Sua frugalidade era notável e notória. Em tudo: dos gestos à vestimenta, do comportamento às palavras. Tinha uma incompatibilidade que parecia inata com o espetaculoso, o vulgar, o mundano.

Media as palavras e ouvia educadamente o outro, sempre atenta ao sentido exato do que se dizia, cobrando precisão. Era, em suma, uma pessoa admirável.

Não é que certa estirpe hoje no poder ousou envolver o nome desta senhora exemplar numa tramóia para livrar o governo de revelar seus desatinos com os cofres públicos?

A canalha comprometida com o dossiê sabe muito bem que o trabalho de plantação de notinhas em jornal sugerindo que FHC e Ruth viviam como nababos já havia começado.

Sim, dossiê clandestino, mas forjado nos porões da Casa Civil. Quando as pegadas do comando já não podiam mais ser escondidas, então se inventou uma nova desculpa: aqueles gastos não eram mais sigilosos.

Não, eu não sou político. Também não preciso, felizmente, sustentar nos ombros o papel institucional de FHC. E por isso reitero: a senhora Dilma Rousseff deveria ter alegado uma indisposição qualquer.

De fato, poderia ter ficado em Brasília, reunida com Franklin Martins e José Múcio — também presentes ao velório —, todos eles personagens com algum grau de participação no — como é mesmo, Dilma? — “banco de dados” criado na Casa Civil.

Que as Erínias se encarreguem dos covardes que praticaram a lambança. Eu só ajudo com a memória. O ex-presidente está institucionalmente obrigado a poupá-los. Eu não estou.

Três meses antes de Ruth morrer — trabalhando, aos 77 anos —, eles tentaram assassinar a sua reputação. Uma trama palaciana. Onde há um chefe inequívoco.

Morta, Ruth sobreviveu.

Mesmo vivos, espero que eles não sobrevivam.

Por Reinaldo Azevedo

Dra. Ruth Cardoso, referência de postura, classe, delicadeza, determinação, cultura e inteligência, vai deixar muita saudade.

O Brasil fica ainda mais pobre.

1 comentários:

Anônimo disse...

Caro Reinaldo.
O pouco que escreveste, pois em se tratando de Dra Ruth Cardoso e de seu marido, poderias escrever semanas, meses até anos.
Tudo que se vê acontecer, hoje, com certeza tem seu início nos alfarrábios dela ou dele.
Porém, tudo que se faz, hoje, tem seu início no assistencialismo, nepotismo, e outros "ismos" aos quais a maioria dos partidos se rendem para melhor administrar pelo caos.
Alguns partidos que hoje são do contra (ao menos sabem contra o que! Mas são.....)apregoam que o que existe nos dias de hoje é fruto e obra do Partido dos Trabalhadores e seus aliados.
Alarde, puro alarde.
Para se ter idéia, em Belém - Pará, o governo anterior criou o "HANGAR" um Centro de Convenções muito bem estruturado, de primeiro mundo, contudo, muito criticado, na época pela atual governadora.
Quando a governadora Ana Júlia assumiu, ainda criticou a obra dizendo ser faraônica.
O tempo passou, os ânimos serenaram, e a acessoria de imprensa da governadora arrumou uma forma de contemplar Gregos e Troianos, com relação à "parição" da obra.
Passados algum tempo, a governadora passou a falar bem da obra, a maior e melhor solução para receber e apresentar eventos de todas as espécies.
Ficamos espantados com a mudança de opinião.
Entre espantados e atônitos, descobrimos que fora colocada uma placa na entrada do edifício, onde se lê:
"Obra planejada, e adequada pela governadora Ana Júlia Carepa, objetivando atender melhor aos eventos paraenses......."
Ou seja, o PT é o criador onipresente e onipotente de tudo que existe na face da terra, e com isso tenho, até, medo de que tenha sido obra e criação do PT, da era Mesosóica até os dias atuais.

Oquimar Barreto