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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Se demorou nove anos para inventar uma versão sobre o bombom de cupuaçu, Lula vai querer falar do caso Rose só em 2022




Por Augusto Nunes

As plateias amestradas de Lula aplaudem as bazófias de um presunçoso patológico com a mesma aplicação exibida quando endossam com lágrimas de esguicho as pieguices recitadas pelo coitadinho de araque. O bom entendimento entre o canastrão e a claque foi reiterado no Festival da Mulher Afro, Latino-Americana e Caribenha, realizado em Brasília na semana passada.

Deslumbrado com a narrativa das façanhas do maior dos governantes desde Tomé de Souza, o auditório teve de arquivar temporariamente o entusiasmo para comover-se com a entrada em cena do nordestino perseguido por preconceituosos cruéis. Desta vez, Lula resolveu emocionar o público com a ressurreição de um episódio ocorrido há nove anos em Tucuruí.

Pouca gente se lembrava da história. O homem que nunca lembra o que importa, soube-se agora, guardou-a na gaveta da memória reservada a casos exemplares de preconceito. Ao resgatá-la, como de praxe, Lula deturpou o que efetivamente aconteceu com a versão malandra abaixo transcrita:

“A maldade comigo era tanta que eu ganhei uma bala, mas eu estava sentado na cadeira e não tinha onde guardar. Desembrulhei a bichinha e coloquei o papel com muito cuidado no pé da cadeira (…). Tamanha foi minha surpresa que a capa do jornal era só o papel de bala”.

Conversa fiada, informam as fotos e berra o noticiário dos jornais sobre aquela tarde de 2004 em que o palanque ambulante estacionou no interior do Pará para inaugurar três turbinas da hidrelétrica de Tucuruí. No centro da mesa das autoridades, o que Lula desembrulhou e engoliu gulosamente, como atesta a imagem à esquerda, não foi uma bala. Foi um bombom de cupuaçu que acabara de ganhar de presente.

Teria pedido mais um se não descobrisse que estava com um problema na mão esquerda: a bolinha de papel a que fora reduzida a embalagem. Poderia tê-la guardado num bolso, para depois jogá-la no lixo. Poderia repassá-la ao ajudante-de-ordens. Em vez disso, sem notar que nada encobria o que o se passava debaixo da mesa, fez a opção pela esperteza.

Péssima ideia, constatou ao topar com a sequência de fotos, publicadas pela Folha no dia seguinte, que registrou todas as etapas da operação. Primeiro, caprichando na cara de paisagem, Lula passou a bolinha de papel da mão direita para a esquerda. Em seguida, estendeu o braço sobre o encosto da cadeira ocupada pelo governador tucano Simão Jatene.

“Coloquei o papel com muito cuidado no pé da cadeira”, fantasiou na discurseira em Brasília. O registro fotográfico grita que não. O que ele fez, fingindo-se absorvido por reflexões sobre os superiores interesses da pátria, foi deixar o papel cair no chão ─ e atrás do governador. Milhões de brasileiros jogam lixo na rua. Mas não se sabe de outro presidente da República que, sem testemunhas por perto, é capaz de jogar uma casca de banana na frente de um asilo.

Lula passou nove anos sem comentar o episódio. Resolveu exumá-lo agora apenas para tentar enterrar publicamente a verdade. Faz quase 300 dias que não abre a boca sobre o escândalo que estrelou ao lado de Rosemary Noronha. Se mantiver o padrão, só tratará do caso em 2022. Como é certo que vai contar mentiras, deveria ao menos aprender a assassinar fatos e fotos com mais criatividade.


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