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domingo, 25 de novembro de 2012

O sorriso e o esgar



Por Augusto Nunes


A foto de Dida Sampaio é mais que o registro do momento em que Dilma Rousseff, presidente da República há quase dois anos, cumprimentou o ministro Joaquim Barbosa, que acabara de assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal.

A imagem documenta a colisão frontal, consumada em estridente silêncio, entre um homem e uma mulher assaltados por sentimentos opostos e movidos por antagônicos estados de ânimo.

O chefe do Poder Judiciário está feliz, de bem com a vida.

A chefe do Poder Executivo está contrafeita, nas fímbrias da amargura.

Joaquim Barbosa é o anfitrião de uma festa.

Dilma Rousseff é a convidada que nada tem a festejar.

Está lá por não ter conseguido livrar-se do convite.

Ele se sente em casa e pensa no que fará daqui por diante. Ela pensa no que ele fez e anda fazendo. E se sente obrigada a enviar um recado fisionômico ao padrinho e aos condenados no julgamento do mensalão: se pudesse, estaria longe dali.

Só ele sorri.

O sorriso contido informa que o ministro não é homem de exuberâncias e derramamentos.

Mas é um sorriso.

Os músculos faciais se distenderam, os dentes estão expostos, o movimento da pálpebra escavou rugas nas cercanias do olho esquerdo.

A presidente não sorri.

(O companheiro ministro Ricardo Lewandowski foi premiado com sorriso e dois ósculos).

Na foto, o que se vê no rosto da presidente é um esgar.

A musculatura contraída multiplica os vincos na face direita, junta os lábios num bico pronunciado e assimétrico, faz o olhar passar ao largo do homem à sua frente.

O descompasso das almas é sublinhado pelas mãos que não se apertam.

A dele ao menos se abre.

A dela, nem isso.

Dilma apenas toca Joaquim com a metade dos quatro dedos.

Ele a cumprimenta como quem acabou de chegar.

Ela esboça um cumprimento de quem não vê a hora de partir.

Conjugados, tais detalhes sugerem que, se Joaquim Barbosa sabe que chefia um dos três Poderes independentes e soberanos, Dilma Rousseff imagina chefiar um Poder que dá ordens aos outros.

Ela já deveria ter aprendido com o julgamento do mensalão que as coisas não são assim.

A maioria dos ministros é imune a esgares.

Ministros do STF que temem carrancas nem precisam vê-las para atender aos interesses do governo.

Não são juízes.

São companheiros.

Por enquanto, são dois.
 23/11/2012

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