Todo circo tem que ter palhaço, pois circo sem palhaço é sorriso sem graça
Todavia, os tribunais devem ser sérios
E devem ser sérios porque não se faz justiça sem seriedade de procedimentos
Por Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr
Ocorre que o julgamento da Ação Penal 470 – batizada marcialmente de “mensalão” – tem servido de palco para atos até então impensáveis. Confesso que estremeci quando escutei a defesa de Delúbio Soares reconhecer, em alto e bom som, o uso de dinheiro ilícito. Simplesmente não acreditei no que estava a escutar. Afinal, creio que “nunca antes na história deste país” o plenário da Suprema Corte havia passado pelo constrangimento de ouvir calado uma confissão categórica do meretrício da atividade político-partidária brasileira. Eis aí, a raiz de tudo que estamos a presenciar.
O fato é que não temos partido autêntico no Brasil. Talvez o último tenha sido o extinto Libertador, partido pequeno e verdadeiro e verdadeiro porque pequeno. Criado em 1928 por Assis Brasil, os libertadores tinham inspiração nos ideais superiores do inigualável Gaspar Martins. Sabedores de que a política alta se fazia com impessoalidade e desambição, o PL era um partido de ideias e de princípios e não de pessoas e interesses. Com a morte do bom e velho Assis, coube a Raul Pilla envergar a nobre bandeira, vindo, mais tarde, a entregá-la a Paulo Brossard que, com brilho e coragem, imprimiu uma aguerrida pugnacidade diplomática na firme luta pelo restabelecimento da lei e da liberdade. Sabidamente, o Movimento de 64, ao escutar o eco do arbítrio, implodiu com o embrião partidário que ali florescia com frutos, após a dura invernada do Estado Novo. Nesse contexto, o fim dos partidos marcou uma viagem sem volta ao mundo do autoritarismo, trazendo consigo anomalias institucionais que ainda deixam cicatrizes profundas na democracia nacional.
Lá se vão mais de 20 anos de redemocratização, e o país ainda espera um autêntico projeto de nação. Com a chegada do PT ao governo, foi visto que os discursos cândidos de outrora não passavam de orações sem fé. No poder, o novo oficialato abandonou a virtude e se abraçou no vício com religioso fervor, vindo a cometer aquilo que o Procurador-Geral da República, no fiel desempenho de sua nobre função, classificou de “o mais atrevido e escandaloso caso de corrupção e desvio de dinheiro público registrado no Brasil”. Não faço juízo de valor; apenas registro o fato. Porém, o fato registrado dispensa maiores comentários.
Infelizmente, a política virou um grande espetáculo profano. O valor das ideias foi substituído pela força do dinheiro. Não é de estranhar, portanto, que, ao invés de um bom doutrinador, os partidos precisem hoje da mágica de um marqueteiro safo. Com isso, é possível dar tintas a faces opacas, inventando sorrisos fúteis para tristes fins. Diante de tantas cores de mentira, a plateia não sabe onde está a pureza da verdade. No final, fica a dúvida: os palhaços seriam eles ou somos nós?
Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr é advogado e especialista do Instituto Millenium.
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