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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Atuação de grupo era verdadeira metástase, diz delegado


A Operação Vegas teve 55 alvos entre 2008 e 2009

Foram realizadas escutas em 61.803 ligações, em um total de 1.388 horas de gravação durante os 60 dias

Carlinhos Cachoeira
(Gustavo Miranda/Agência O globo)

O delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques Sousa classificou, nesta quarta-feira, durante depoimento reservado na CPI do Cachoeira, de uma "verdadeira metástase" a atuação do grupo comandado pelo contraventor.

Nas seis horas de reunião com os parlamentares, Sousa detalhou a forma de agir do bando que, aos moldes das máfias, pagava regularmente propina a servidores públicos por informações e não admitia que os integrantes se apropriassem de recursos do esquema de jogos ilegais.


Segundo relato de parlamentares que acompanharam todo o encontro, o investigador afirmou que a Operação Vegas, que comandou, teve 55 alvos entre 2008 e 2009.

Foram realizadas escutas em 61.803 ligações, em um total de 1.388 horas de gravação durante os 60 dias de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça. Isso dá, nas contas do delegado, 1.030 escutas feitas por dia.

O chefe do esquema, Carlinhos Cachoeira, teve 234 horas de conversas interceptadas, uma média de quatro horas diárias no período.


Segundo Sousa, o "grupo poderoso", principalmente seu líder Carlinhos Cachoeira, tinha grande preocupação com o vazamento de informações. Por precaução, Cachoeira trocava frequentemente de telefones.

O delegado, segundo relataram integrantes da comissão, admitiu que essas constantes trocas dificultavam a continuidade das apurações.

Mas a sorte mudou quando o grupo passou a usar os famosos Nextel.

Esses aparelhos não são imunes à interceptação dos áudios, apenas os registros das ligações são apagados.


Os investigadores descobriram o envolvimento de dois integrantes da PF no vazamento de batidas policiais contra máquinas caça-níqueis no estado de Goiás e no entorno do Distrito Federal, área de atuação do grupo.

Eles recebiam propina, assim como, segundo o delegado, outros servidores públicos estaduais e municipais. Era a rede de proteção do contraventor.

Com a guarida, o grupo se antecipava às operações, trocando máquinas novas por velhas.


Entrada - O delegado disse que Cachoeira só liberava a entrada de novos exploradores do negócio mediante o pagamento de comissões que alcançavam 30% do faturamento.

Em abril de 2009, as investigações descobriram que um integrante do grupo foi mantido em cárcere privado porque o contraventor desconfiava que ele teria se apropriado de parte dos ganhos do esquema.

Cachoeira delegou a tarefa de dar uma "prensa" nesse integrante aos arapongas Jairo Martins e Idalberto Matias Araújo, o Dadá.

Na ocasião, as investigações já mostravam uma relação de Cachoeira com a empreiteira Delta.

O contraventor foi visto despachando no escritório da empresa em Goiânia, onde atuava Cláudio Abreu. "Era uma verdadeira metástase", classificou o delegado.


Segundo indicaram as escutas telefônicas, Cachoeira também tinha interesse na compra de bens em Miami.

No depoimento, entretanto, o delegado disse que a movimentação do grupo não pôde ser mapeada porque não foi pedida a quebra do sigilo bancário do contraventor e das empresas do grupo.


Souza disse que a apuração da PF foi parada no momento em que apareceram as conversas com parlamentares com prerrogativa de foro, como o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).

O caso foi remetido ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em meados de 2009.


"Não tenho conhecimento de devolução para a primeira instância", respondeu o delegado, quando perguntado por um parlamentar se soube da volta do inquérito da Operação Vegas.

Ele disse ter colaborado posteriormente com a Operação Monte Carlo, que acabou por prender, em fevereiro passado, Cachoeira e seu grupo.


A Procuradoria-Geral da República afirma que não havia indícios jurídicos de prática de crime nas investigações da Operação Vegas que pudessem justificar que autoridades com foro privilegiado, como Demóstenes, fossem alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF).

Na avaliação do Ministério Público, como havia outras investigações em curso, como a operação Monte Carlo, não haveria razão para utilizar apenas os dados recolhidos na Vegas, considerados insuficientes, para pedir a investigação contra as autoridades.

(Com Agência Estado)

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