É sob pressão que pessoas, partidos e até instituições revelam a sua real natureza.
Os cemitérios tendem a ser iguais nas ditaduras e nas democracias.
A grande diferença se dá mesmo no mundo dos vivos.
O 4º Congresso do PT, que começou ontem e termina hoje, está prestando um grande serviço ao país e à política.
Os petistas revelam que não aprenderam nada nem esqueceram nada depois de nove anos de poder.
Continuam os autoritários de sempre, decididos a substituir a sociedade pelo partido, conforme seu projeto original.
Quem presta um pouco de atenção à história das idéias não está surpreso.
O petismo é um descendente do bolchevismo no que concerne à organização da sociedade, entendendo que a nação deva ser conduzida por um ente que decide em lugar dos cidadãos, porém adaptado — e como! — aos tempos modernos.
Para o modelo, que ainda está em construção, pouco importa se os petistas estão ou não oficialmente no poder: eles sempre estarão por intermédio dos fundos de pensão, dos sindicatos, do aparelhamento das estatais. O petismo é um fascismo de esquerda.
No que concerne à ordem econômica, tudo vai muito bem para os companheiros, até porque têm como seu principal aliado o capital financeiro, que não quer saber a cor dos gatos desde que eles cacem ratos.
O curioso embate que se dá no Brasil é entre a esquerda financeira, financista e rentista, com a qual os petistas compuseram, e a direita assalariada, que trabalha.
Chamo de “direita” aqui, para deixar claro, as pessoas que ainda se ocupam de alguns dos velhos (!) e bons fundamentos das sociedades liberais: liberdade individual, igualdade perante a lei, incentivo ao empreendedorismo, estado enxuto, tudo o que parece hoje fora de moda.
Os petistas não querem mexer no “sistema”.
Ao contrário: pretendem reforçá-lo por meio, por exemplo, de uma reforma política estúpida, que extrema todos os males do modelo vigente.
Só uma coisa incomoda o PT: o regime de liberdades públicas que se respira no país. Isso eles não podem suportar. Então um partido ganha uma eleição — ou três… ou dez —, e ainda há gente na imprensa que se atreve a criticá-lo, que não concorda com suas ilegalidades, que resiste às suas tentações e práticas totalitárias, que não se submete a seus desejos e vontades?
“Mas a gente não conquistou nas urnas o direito de fazer o que bem entende?”, eles se perguntam espantados.
E a resposta, evidentemente, é “Não!”
Eles conquistaram nas urnas A OBRIGAÇÃO de seguir as regras do estado de direito, de se submeter à lei, de nos servir por intermédio de um mandato, que pode ser revogado numa nova eleição ou mesmo num processo de impedimento.
Com a reportagem que revelou as lambanças de José Dirceu em Brasília, VEJA denunciou mais do que as lambanças do “consultor de empresas privadas” — poderoso chefão de um “governo paralelo” e sua mímica asquerosa de chefe de máfia —; a revista denunciou um método.
E os petistas estão infelizes.
Em outros tempos, eles mandariam empastelar a publicação, fariam quebra-quebra, perseguiriam os profissionais, exigiriam a demissão desse ou daquele, lotariam os porões do regime com essa gente recalcitrante…
Hoje eles se civilizaram; pretendem perseguir seus desafetos por meio de instrumentos legais.
O texto do PT que volta a pregar o controle da “mídia” expõe como nunca a natureza do jogo.
Eles até se mostravam dispostos a condescender com a democracia desde que nós não fizéssemos uso efetivo dela.
Era como se dissessem: “Nós garantimos a sua liberdade, mas a condição é que não nos incomodem”.
Tanto é assim que, não faz tempo, a Executiva Nacional do partido aprovou um documento em que abandonava essa estupidez.
Mudou radicalmente de idéia. VEJA decidiu demonstrar que liberdade de imprensa não é uma licença que se pede no cartório partidário, mas um direito garantido pela Constituição, um fundamento das sociedades livres.
Nos limites da lei, não pede licença nem pede desculpas.
Aí não dá!
Figurões do partido como Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, e Ideli Salvatti, ministra das Relações Institucionais, defenderam ontem a “regulamentação da mídia”.
Não custa notar que, durante a campanha — e mesmo depois de eleita —, Dilma Rousseff repudiou qualquer forma de controle.
Ministros exercem cargos de confiança e falam pela presidente.
Chegou a hora de enquadrá-los ou de confessar um estelionato.
Os fascistas de esquerda descobriram o gosto pelo capitalismo, mas não viram graça nenhuma na liberdade, que será sempre a liberdade de quem discorda de nós.
Mas vão perder.
É crescente o número das pessoas que lhes dizem:
“Não, vocês não podem.
Não podem porque estamos aqui”.
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