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sábado, 9 de abril de 2011

Uma dor do tamanho do Brasil: "12 mortos 190 milhões de feridos" #frasedodia



Uma dor do tamanho do Brasil



Centenas de pessoas lotaram o cemitério do Murundu para homenagear cinco dos 12 mortos


Paula Sarapu
Diário de Pernambuco

Rio de Janeiro - Três velórios no Cemitério do Murundu, em Realengo, Zona Oeste do Rio, arrancaram o choro quase silencioso de alunos da Escola Municipal Tasso da Silveira. Durante toda a manhã, só as recordações dos bons momentos que viveram com os colegas Larissa Silva Martins, 13 anos, Géssica Guedes, de15 anos, e Mariana Rocha de Souza, 12 anos, minimizavam o clima de dor e indignação.

À tarde, outros dois sepultamentos ocorreram no Murundu.





No Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, também na Zona Oeste, só se via a profunda dor. Os corpos de 11 alunos mortos foram enterrados ontem. O de Ana Carolina Pacheco, de 9, será cremado hoje.

Até a noite o corpo do atirador Wellington Menezes de Oliveira, de 24, ainda permanecia no Instituto Médico Legal e não tinha sido reclamado pela família.


Vasos de flores e cartas foram deixados na escola em homenagem aos mortos.
Foto: Daniel Marenco/Folhapress

Logo cedo, dois ônibus deixaram a escola com alunos, professores e funcionários em direção ao Cemitério do Murundu. Com rosas nas mãos, as crianças aplaudiram as colegas. Um helicóptero da Polícia Civil sobrevoou as capelas, despejando pétalas de rosas.

Cerca de 500 pessoas se despediram das meninas e, por causa da grande comoção, a prefeitura instalou uma tenda com médicos, enfermeiros e psicólogos, que fizeram pelo menos 60 atendimentos somente durante os três primeiros enterros do dia.

Oito pessoas foram levadas a uma clínica da família no bairro. A maioria sofreu picos de pressão.

´A gente se pergunta de onde saiu esse cara que fez mal a tanta gente`, desabafou o padrinho de Larissa, o motorista de ônibus Gerson da Silva Guilherme, de 47 anos, que também estudou, durante a infância, na escola atacada.

Tio de Mariana, Luiz Alberto Rocha, de 44 anos, tentava segurar o choro: ´Era uma menina estudiosa, dizia que queria ser alguém na vida para dar uma casa própria à mãe. Ele destruiu nossa família, acabou com os sonhos de alguém tão inocente`.


Aluno da turma 1801, segunda sala onde Wellington Menezes de Oliveira entrou, Lucas Matheus Carvalho, de 13 anos, disse que conseguiu correr, quando oassassino virou de costas. ´Ele já havia feito disparos na outra turma, e um colega passou gritando. A professora ficou desesperada, foi uma correria, mas as meninas quiseram guardar o material e não conseguiram sair.

Quando ele entrou na minha sala e se virou, passei correndo, sem que ele me visse. Eu era amigo de todos os que se feriram e estou muito abalado. Tenho um primo que está em coma. Vai ser difícil voltar àquela escola, mesmo depois que eles limparem todo o sangue`.


Com as mãozinhas trêmulas, segurando uma rosa branca, Isabela da Silva Cavalheiro, de 12, também não quer mais voltar à escola em que estudava desde pequena. ´Sinto desgosto`. Acolhida pelas mães de amigas, porque se emocionava ao falar do que viu no colégio, a menina contou que a professora de inglês ajudou os alunos a subir para o terceiro andar. ´Foi uma cena que só via na televisão, mas nem podia acreditar. Quando vi o corpo dele sangrando no chão, caí na real e pensei: 'morreram tantos por causa dele'`, disse a menina. Com os olhoscerrados, Isabela disse: ´Para lá, não volto mais`.

O prefeito Eduardo Paes, emocionado, cumprimentou os parentes das vítimas. Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame disse foi até lá como pai. ´Compartilho da dor e do sofrimento desses pais. Foi uma monstruosidade praticada por uma pessoa doente, insana. Um ato isolado de uma pessoa fora de suas faculdades mentais. Dificilmente haveria como se prevenir uma ação como essa`.



Recados

As homenagens às vítimas começaram mesmo antes dos enterros. A calçada da Escola Tasso da Silveira amanheceu tomada por vasos de flores e recados aos alunos que morreram no massacre.

O nome dos 12 alunos mortos foram colados no muro e sob cada um deles vizinhos da escola e amigos das crianças depositaram rosas, num gesto de carinho, solidariedade, tristeza e saudade.

Durante a madrugada, houve vigília e muita oração.

No portão do colégio, uma cartinha, com letra colorida de quem aprende a escrever, dizia:

´Que Deus ampare e dê forças às famílias desses jovens`.




"12 mortos 190 milhões de feridos"


Capa do dia 08/04/2011, da edição do
Diario de Pernambuco

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