Dividendos e juros sobre capital próprio distribuídos aos acionistas aumentaram 190% após início de fraude
Mercado financeiro
Por Ana Clara Costa
Informações eram 'preparadas' antes de serem enviadas aos auditores ou ao presidente do conselho de administração, Luiz Sandoval
Iniciadas em meados de 2006, as irregularidades contábeis, que culminaram no aporte de 2,5 bilhões de reais do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) ao banco Panamericano, permitiram que o valor da empresa fosse incrementado antes de sua abertura de capital – em novembro de 2007.
Para se ter uma idéia, o valor dos ativos totais do banco passou de 2,97 bilhões de reais em 2006 para 4,3 bilhões de reais em setembro de 2007 – um aumento de 45% em apenas um ano.
Com a melhora nos números, a entrada do banco na bolsa em novembro de 2007 foi considerada um sucesso. O valor fixado para cada papel foi de 10 reais – número levemente inferior ao preço das ações de seus bancos concorrentes na época, como o ABC e o Pine (com cotação de 10,46 reais e 14,95 reais na época). No resultado final, a venda de 67 milhões de ações na bolsa rendeu à instituição 679 milhões de reais.
A crise chegou em 2008 e os bons números do banco evitaram uma depreciação maior dos papéis da instituição. As ações do Panamericano recuaram para 2,5 reais, enquanto os mesmos concorrentes estavam listados, respectivamente, com cotação de 3,55 reais e 3,69 reais.
“Sem as irregularidades contábeis, o banco poderia ter perdido mais”, afirma uma fonte ligada ao banco e que acompanhou a operação de abertura de capital.
Outra hipótese para justificar a fraude é a tentativa de aumentar dividendos – divisão dos lucros entre os acionistas. Essa parcela de recursos mais os juros sobre capital próprio distribuídos aos acionistas passaram de 16,41 milhões de reais em 2006 para 47,72 milhões de reais no ano seguinte – um crescimento de 190% em apenas um ano.
Em 2008, a distribuição de lucros atingiu 56 milhões de reais. Com 24% do capital da empresa, a holding Silvio Santos Participações levou, em 2008, 13,44 milhões de reais em dividendos.
Antes da oferta - As duplicações de carteiras de crédito, operações de empréstimos e registros de bens executados por inadimplência – as três operações inconsistentes que foram identificadas nos balanços da instituição – começaram a ser realizadas quando a direção do Panamericano recebeu carta branca para levar adiante a operação de oferta inicial de ações na bolsa.
A partir de então, relatórios começaram a ser preparados pela área de análise de sistemas para serem apresentados à auditoria KPMG.
“O que se dizia lá dentro é que as informações eram ‘preparadas’ antes de serem enviadas para as auditorias. Eles não passavam as informações corretas”, afirma uma funcionária que trabalhou por 40 anos no grupo Silvio Santos, sendo cinco deles no banco PanAmericano.
Gestor em apuros – Rafael Palladino, primo de Íris Abravanel, é o principal suspeito de ter pilotado as operações fraudulentas.
Segundo um funcionário do banco ouvido pelo site de VEJA, e que pediu para não ser identificado, Palladino administrava de maneira truculenta as operações.
“Ele pedia tudo ‘para ontem’. Não tinha a menor noção do tempo que as coisas poderiam demorar. E, para não se indisporem com ele, as pessoas faziam tudo de qualquer jeito, com vários erros, apenas para cumprir os prazos loucos que ele pedia”, afirma o funcionário, relatando a desorganização geral da instituição.
Palladino, ex-personal trainer, assumiu a presidência em meados de 2000 – e trouxe junto uma maneira centralizadora e peculiar de administrar.
“Os queridinhos dele eram da área comercial. Ele implantou um método em que só ganhava participação nos lucros quem tinha bom relacionamento com o alto escalão”, afirma o funcionário.
Palladino ainda não pode ser considerado culpado. No entanto, um executivo ligado ao banco, não enxerga a possibilidade de o presidente desconhecer os atos.
“Ele centralizava tudo, então dificilmente não saberia dessas operações”, afirma o executivo
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