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quinta-feira, 6 de maio de 2010

Britânicos vão às urnas em dia de (in)decisão

Fernando Duarte

LONDRES - Tradicionalmente, o processo eleitoral britânico costuma transcorrer de maneira tão tranquila que não há nem cerimônia de posse para o premier. Nesta quinta-feira, porém, o país vai às urnas sob a expectativa de uma novela política que não terminará com a contagem do último voto.

Além das projeções de que pela primeira vez em quase 30 anos nenhum partido obterá a maioria absoluta no Parlamento, há a promessa de uma queda-de-braço política que pode exigir uma inédita intervenção da Rainha Elizabeth II.

Tudo isso para o primeiro-ministro se ver às voltas de uma economia em crise e assustada diante dos problemas financeiros de países vizinhos, como Grécia, Espanha e Portugal.

Em tempos normais, o dia seguinte à eleição é marcado pelo cerimonial: o líder do partido vitorioso vai até o Palácio de Buckingham receber o convite da rainha para formar o novo governo, e o derrotado normalmente renuncia, abrindo espaço para um novo desafiante. Agora, porém, a sexta-feira promete ser um dia de negociações para a formação de coalizões ou mesmo possíveis tentativas de mudança no protocolo.

Graças ao complexo sistema eleitoral britânico, a legenda que conquista a maioria dos votos nacionais nem sempre termina com mais cadeiras parlamentares.

Na campanha, por exemplo, o Partido Conservador, que lidera as pesquisas de opinião, enfrenta cenários simulados cuja única situação comum é a falha em atingir os 326 assentos necessários para a formação de um governo.
 

Ontem, duas medições previam panoramas bem diferentes: o instituto ComRes falava em 289 cadeiras para os conservadores, 258 para os trabalhistas e 75 para os liberais-democratas, ao passo que o YouGov previa 261, 288 e 72, respectivamente. Na média geral de vários institutos, os conservadores ficariam com 270 cadeiras, duas a menos que os trabalhistas.

- Mas ninguém pode se atrever a cravar o resultado quando há medições mostrando que quatro entre dez eleitores ainda estão indecisos. Tudo pode mudar entre as enquetes e o momento em que se deposita o voto na urna - diz John Curtis, analista político da Universidade de Strathclyde.

Sem a maioria absoluta, os conservadores poderiam se tornar vítimas de uma coalizão entre trabalhistas e liberais-democratas. Os rumores na mídia britânica são de que cardeais dos dois partidos já teriam aberto negociações, ainda que, publicamente, tanto o premier, Gordon Brown, quanto o candidato liberal-democrata, Nick Clegg, venham trocando farpas.

Mas há ainda a possibilidade de os lib-dems endossarem os conservadores caso o partido termine com uma liderança clara sobre os trabalhistas.

O partido favorito, porém, ameaça quebrar o protocolo político britânico - que dá ao governo vigente preferência na tentativa de formação de um gabinete - e decretar um regime de minoria.

O impasse iria exigir uma espécie de voto de minerva de Elizabeth II, algo inédito em seus mais de 50 anos de reinado.

Palácio de Buckingham
- A rainha só pode intervir em casos de emergência nacional ou de uma falta de consenso parlamentar. Mas há o risco de, na percepção do público, sua decisão ser vinculada à política partidária, o que não seria recomendável - afirma o jurista Vernon Bogdanor, da Universidade de Oxford, e que, segundo relatos da mídia britânica, seria um dos especialistas que Elizabeth II consultaria caso necessário.

A última intervenção do gênero ocorreu em 1924, quando o rei George V recomendou a dissolução do Parlamento e a realização de novas eleições depois que o governo de minoria trabalhista de Ramsay McDonal's perdeu um voto de confiança. Aí, por sinal, mora o perigo para David Cameron, pois a oposição mais numerosa poderia bloquear suas propostas de reforma e colocar sua credibilidade em xeque. Porém, uma queda conservadora forçaria uma nova eleição que poderia ter efeitos para trabalhistas e liberais-democratas.

- Há cenários múltiplos, incluindo um acordo sob o qual o governo de minoria dos conservadores teria que buscar apoio votação por votação, o que resultaria num processo potencialmente lento e frustrante - diz Tim Bale, analista político da Sussex University.

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