Por Maria Lucia Victor Barbosa
Muito já se falou sobre a idade da razão. Conforme opiniões ela pode chegar aos sete, aos 18, aos 21 anos. Talvez, nunca chegue plenamente, já que o ser humano não é feito só de razão, mas também de emoção. Nunca ouvi falar, porém, na idade do cinismo. No entanto, ao ver o presidente da República soprando alegremente as velinhas de seus 64 anos tentei imaginar em que época de sua vida ele atingiu a idade do cinismo. Lula da Silva era um animador de greves. Desse trampolim pulou para a política, o palco mais visível do cinismo humano, mas, claro, não o único. Hoje o endeusado Lula, se comparado com suas pregações anteriores, se tornou irreconhecível.
Alguns disseram que Lula, um dos artífices do impeachment de Fernando Collor para se vingar da peça que este lhe pregou ao levar na TV Globo, na sua primeira campanha, a mãe de Lurian, é hoje “amicíssimo” do senador, assim como de José Sarney, de Renan Calheiros, de Paulo Maluf, de tantos outros que outrora o ex-partido da ética abominava. Mas o presidente justifica qualquer amoralismo falando em nome de Cristo, pois afirmou que no Brasil Jesus se aliaria a Judas. O gracejo desrespeitoso deve ter lhe rendido muitas palmas e risos cínicos de seus correligionários e bajuladores.
Lula também apela para o célebre “o que tem demais se todo mundo faz”. Isso foi dito em uma entrevista em Paris quando perguntado sobre o caixa dois de seu partido. Já o prestativo Delúbio Soares rebatizou cinicamente a prática de “recursos não contabilizados”.
Altas doses de cinismo presidencial também vêm a público quando ele diz que não vê nada, não sabe nada sobre as “travessuras” de seus companheiros “aloprados”. No “mensalão” ou compra da base aliada foi assim e assim tem sido quando convém. E sua candidata Dilma deve ter chegado à idade do cinismo, pois repete exemplarmente as lições do chefe.
Ela nega o “mensalão”, o encontro com Lina Vieira, o dossiê sobre o casal FHC, etc. Por isso dizem que, se Dilma ganhar teremos o terceiro mandato de Lula da Silva, pois é impressionante o mimetismo dos dois. Alegremente eles seguem em acelerada campanha dizendo que não é campanha.
Os extremados e ardorosos petistas dirão que não citei outros políticos. Arrolar todos aqui seria impossível, precisaria escrever um “Tratado sobre o Cinismo” que englobasse a postura de muitos governadores, deputados federais e estaduais, senadores, membros do Judiciário e demais instituições, políticos nacionais e estrangeiros, figuras eminentes do mundo dos negócios, gente não comum e comum.
Porém, se os grandes cínicos da política fazem tanto sucesso, sendo eleitos e reeleitos, é de se perguntar se a sociedade brasileira já nasceu cínica ou se em algum nebuloso momento atingiu a idade do cinismo.
Em todo caso, diante da exacerbação da violência no Rio de Janeiro resta a triste constatação de que padecemos de um cinismo brutal que agrega incompetência galopante, indiferença à dor alheia, banalização da morte, vulgarização da vida, irrelevância da ordem, aceitação do tráfico de drogas, tanto da parte das autoridades quanto dos próprios cariocas e dos brasileiros em geral.
Ricardo Noblat mostrou no seu site dados interessantes que vale a pena repetir:
“1 - O número de favelas no Rio cresceu de 750, em 2004, para 1.020 neste ano. Cerca de 500 são controladas pelo tráfico. A venda de cocaína rende algo como R$ 300 milhões por ano aos bandidos.
2 – Compete a Polícia Federal combater o tráfico. Quantas vezes este ano ela foi vista escalando morros?
3 – Compete ao governo federal vigiar as fronteiras do país.
É ridículo o número de militares ocupados com a tarefa. Faltam equipamentos e gente para fiscalizar o desembarque de cargas nos portos.
4 – Até agosto, para modernizar sua polícia o Rio só havia recebido R$ 12 milhões dos quase R$ 100 milhões prometidos pelo governo federal –
5 Em três anos de governo Sérgio Cabral, o total de investimentos em segurança está orçado em R$ 804.818,00. De fato não mais do que 40% desse dinheiro já foram aplicados”.
No dia 21 deste uma foto macabra estampada em jornais simbolizava a barbárie do tráfico de drogas. Num carrinho de supermercado atirado na calçada jazia o corpo de um homem com marcas de tiros, de tortura, sem um dos olhos. Uma aglomeração composta na maioria por jovens olhava com curiosidade para o que restara do trucidado. Alguns exibiam sorrisos de cínica indiferença. Deviam estar mentalmente culpando a polícia. Sempre se culpa a polícia. Mas, se na polícia como em qualquer instituição há corrupção, existem também policiais dignos, capazes de gestos heróicos.
27/10/2009
1 comentários:
Nenhuma polícia, por mais prepara e competente que for, não substitui os valores (VALORES) que as pessoas devem receber em família. O que antigamente se tratava como EDUCAÇÃO DOMÉSTICA. Que coisa antiga, CAFONA! Autoritarismo da família, que uma sociedade "MODERNA" deve passar longe. Dizia respeito ao RESPEITO PELAS DEMAIS PESSOAS, pelo RESPEITO a propriedade das outras pessoas, aos recursos do Estado, que eram considerados como BENS PÚBLICOS.... a muitas coisas mais. Talvez eu seja apenas um saudosista alienado, falando sobre uma sociedade que nunca existiu. O fato é que nenhuma sociedade pode (nem deve) manter um policial ao lado de cada pessoa. As pessoas mesmas têm que ser seus próprios policiais. Como dizia Weber, o Protestantismo ensinou que cada crente tinha que ser o seu próprio sacerdote. Isto é o que as pessoas não querem aceitar. Porque isso implica responsabilidade individual. É mais fácil colocar o fardo nos ombros de outros. Disso se aproveita a cretinice e a canalhice esquerdista dos PTs da vida. É o caminho mais fácil para aceitar a ditadura. Nenhum Estado pode substituir a responsabilidade do indivíduo. Chega dessa cretginice de dizer que os bandidos são o que são porque foram injustiçados pela sociedade, como se a sociedade não fosse constituida por indivíduos. Ao longo da HISTÓRIA, as sociedades só avançaram porque houve indivíduos que não aceitaram ser parte de uma manada e se posicionaram como INDIVÍDUOS RESPONSÁVEIS, mesmo tendo que afrontar os poderosos do momento. Os exemplos são abundantes: Sócrates, Galileu, Ghandi, .... e os milhares de cientistas, de reformadores, de lutadores pela Liberdade e contra o crime.
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